quarta-feira, 11 de abril de 2012

Televisão: primeiros usos e apropriações no século XX


A televisão: usos e apropriações no século XX.
                   A televisão foi a mídia que despontou na segunda metade do século XX e substituiu rapidamente os demais meios tanto em relação ao divertimento, quanto à informação. Até a Segunda Guerra Mundial, o rádio e o jornal impresso assumiam a liderança e conquistavam a atenção dos seus ouvintes e leitores por longas horas do dia. Entretanto, a televisão logo apareceu como um novo meio que se apropriava das outras formas de comunicação, aglutinando som, imagem e movimento em um único aparelho.
                   É importante refletir junto a Arlindo Machado (2003, p.19-20) sobre o  conceito do que é a televisão:
Televisão é um termo muito amplo, que se aplica a uma gama imensa de possibilidades de produção, distribuição e consumo de imagens e sons eletrônicos: compreende desde aquilo que ocorre nas grandes redes comerciais, estatais e intermediárias, sejam elas nacionais ou internacionais, abertas ou pagas, até o que acontece nas pequenas emissoras locais de baixo alcance, ou o que é produzido por produtores independentes e por grupos de intervenção em canais de acesso público. Para falar de televisão, é preciso definir o corpus, ou seja, o conjunto de experiências que definem o que estamos justamente chamando de televisão.

Nesse artigo quero refletir sobre a televisão e o desenvolvimento dessa mídia para que possamos compreendê-la dentro do paradigma da pós-modernidade na sociedade da informação.
 Segundo Briggs e Burke (2004:178- 180), a palavra televisão foi criada na França no ano de 1900. Entretanto ainda na primeira metade do século XIX, diferentes países realizavam experiências em torno da reprodução da imagem, como os primeiros experimentos de fotografia no ano de 1839. Assim, os primeiros aparelhos foram colocados à venda em 1920, mas apenas após o fim da Segunda Guerra Mundial ocorreu um maior investimento por parte dos países e de grandes organizações financeiras e empresas de eletro-eletrônicos.
Fonte: http://www.burohaus.com.br/blog/evolucao-aparelhos-tv/

Apesar da televisão ter chegado ao Brasil apenas na segunda metade do século passado, é interessante acompanhar o seu desenvolvimento. Para os historiadores Burke e Briggs (p.180-181):  “Quando, uma geração depois, a primeira propaganda apareceu na televisão, a situação havia mudado. Os aparelhos de TV (“televisores”) foram postos à venda no fim da década de 1920; antes disso não foram objeto de muita discussão”.
O responsável na Grã-Bretanha pela difusão dos aparelhos de televisão foi o inventor escocês John Logie Baird (1888-1946). Ele é o primeiro a obter em 1929 a permissão da BBC de Londres de lançar um pioneiro serviço de televisão experimental. Entretanto, a televisão se consolidou apenas no ano seguinte com a transmissão de uma peça de Pirandello em julho de 1930. (idem: 181)
A televisão tornou-se um meio de comunicação de massa na Europa e nos Estados Unidos a partir da década de 1950. Para Gontijo (2004: 404):

De 1945 a 1950, houve um grande investimento na fabricação de receptores e de equipamentos de captação e de transmissão de som e imagem. Foi nessa fase que os americanos definiram os padrões de transmissão e as mudanças na legislação para a regulamentação do setor. O crescimento da televisão na América do Norte foi muito além de qualquer estimativa otimista. De 1950 a 1960, o número de televisores passou de            um milhão para sessenta milhões e, em 1962, a TV já atingia 90% dos lares americanos.

 Esta é a época de chegada da televisão ao Brasil. Em 1950, Assis Chateaubriand inaugurou em São Paulo, a TV Tupi, a primeira emissora de televisão brasileira. Segundo Gontijo a televisão transformou-se num veículo de comunicação de massa, na década seguinte.  Para a autora (2004:415): “No Brasil, a TV foi um subproduto do rádio. (...) Aqui, ao contrário, o rádio era a supra-escola, e foi daí que vieram os primeiros técnicos e artistas que fizeram os primórdios da televisão brasileira.”
Fonte: http://cinetecacebrasil.blogspot.com.br/2010_04_04_archive.html

 A expansão deste meio de comunicação foi bastante rápida, até o final da década de 1950, já existiam dez emissoras de TV no Brasil, segundo Gontijo (idem: 417): “(...) a TV Excelsior, a primeira a ser administrada dentro dos padrões empresariais modernos e com uma grade de programação estável.”
O autor Arlindo Machado (2003:11) faz uma análise sobre o papel da televisão, ele destaca que:

Esquematicamente, pode-se abordar a televisão (da mesma forma de qualquer outro meio) de duas formas distintas. Pode-se tomá-la como um fenômeno de massa, de grande impacto na vida social moderna, e submetê-la a uma análise de tipo sociológico, para verificar a extensão de sua influência. (...) Mas também se pode abordar a televisão sob um outro viés,          como um dispositivo audiovisual através do qual uma     civilização pode exprimir a seus contemporâneos os seus próprios anseios e dúvidas, as suas crenças e descrenças, as suas inquietações, as suas descobertas e os voos de sua imaginação.

Ao longo de sua trajetória, a televisão teve vários defensores e inimigos. Mesmo diante dos impasses, a televisão foi considerada o meio de comunicação mais influente no século XX. O filósofo canadense Marshall McLuhan (1979) analisou os meios de comunicação como extensões do homem e afirmou ser a televisão uma presença constante na sociedade e capaz de exercer uma força unificadora sobre a vida de várias populações.
Entretanto, o filósofo francês Pierre Bourdieu demonstrou uma visão mais apocalíptica sobre a televisão, enxergando-a como uma ameaça às diferentes esferas da produção cultural, como a arte, a produção literária, à ciência, à filosofia e ao desenvolvimento do direito. Segundo Bourdieu (1997:22):

[...] a televisão exerce uma forma particularmente perniciosa de violência simbólica. A violência simbólica é uma violência que se exerce com a cumplicidade tácita dos que sofrem e também, com frequência, dos que a exercem, na medida em que uns e outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-la.

 Diante de acusações e defesas de “apocalípticos e integrados”, Burke e Brigss afirmam que (op.cit. 258):

 Educar, não entreter, esse permanecia o objetivo prioritário para alguns dos primeiros defensores da televisão contra as acusações de que ela exercia uma influência inevitavelmente corruptora da sociedade e da cultura, e de que levava os espectadores a gastar mais tempo com ela do que com outras atividades.

Fazemos uma ressalva que a preocupação de tornar a televisão uma ferramenta útil na educação esteve presente em vários países, desde o surgimento da televisão. A aplicação da televisão na educação, no Brasil, começou décadas depois. Ainda segundo Burke e Brigss (idem):

 O Japão criou um canal exclusivo, NHK, dedicado à educação pela televisão em 1957. A Grã-Bretanha tomou um caminho diferente e incorporou a educação na programação geral. A ideia de lançar um canal educativo em separado teve apoio de companhias independentes de televisão, mas encontrou oposição por parte do Comitê Pilkington.

O exemplo mais significativo nos Estados Unidos foi a experiência chamada de “Oficina de Televisão para Crianças. Sua criação foi apoiada pela Fundação Nuffield, e a série recebeu o nome de Sesame Street, o ano de lançamento foi 1969. Segundo Burke e Briggs (op.cit. p.249-250): 

Produto comercial, deliberadamente feito para entreter e educar, ensinando crianças de jardim de infância a ler, o programa dependia da cooperação de uma equipe e de colaboradores similares àquelas da Universidade Aberta. Durante sua longa vida, foi transmitido em 150 países e serviu de modelo para programas como Plaza Sesamo no México, Vila Sésamo no Brasil, Sesamstraat nos Países Baixos e Iftah Ya Simsi no Kwait, tornando-se ‘talvez a série de maior pesquisa na história da televisão’.

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