sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Uma coluna e uma memória

A expressão "lugares de memória" nos ajuda na compreensão da importância destas capacidades de lembrar e rememorar fatos, eventos, cheiros, texturas, matizes, sons. Tudo que constitui a vida humana tem um espaço reservado na memória.
O esquecimento é proposital, mas a memória é persistente. A própria história nasceu não apenas enquanto disciplina investigativa, mas também enquanto forma de registro das memórias de um povo ou de um rei.
Em janeiro de 2004 recebi uma tarefa interessante: recepcionar uma família italiana que estava em férias em Natal. A família era composta por um casal com quase 70 anos e duas filhas, acompanhadas pelos seus maridos.
Diferente dos roteiros que estão acostumados os turistas, lhes dei de presente uma excursão ao Centro Histórico de Natal e Corredor Cultural.
Seu Agostinho e dona Flora seguiam as filhas, me ouvindo com atenção, mas perguntando para uma delas a tradução de tudo que eu havia explicado. Partimos da Igreja de Santo Antonio, passamos pela Praça André de Albuquerque e entramos na rua Conceição.
Foi ali que aconteceu o reecontro de seu Agostinho com os seus lugares de memória. Eu estava lhes contando sobre o reide aéreo realizado por Ferrarin e Del Prete e sobre a chegada da coluna Capitolina, como presente do Duce Mussolini pela recepção dada aos pilotos italianos na nossa cidade, e de repente seu Agostinho transformou-se.
Ele desabou em si mesmo e disse: eu conheci o duce. Ele esteve na propriedade do meu pai e o cumprimentou por ter dado à Itália 13 filhos. O duce deu um cheque ao meu pai e um certificado e foi embora.
Naquela ocasião percebi que a memória nos surpreende e transporta. Estava ali, na rua da Conceição, enquanto historiadora e guia, mas pelas lembranças de seu Agostinho fui levada para um outro tempo, do qual ele tinha sido testemunha das obras de um homem e também de sua loucura fascista.
A Coluna Capitolina e seu Agostinho vinheram de tão longe mas se encontraram na mesma memória. Mussolini estava impregnado em ambos e assim continuará enquanto houver o lugar para esta lembrança.
Aproveite e faça um passeio pelo centro histórico de nossa cidade. Comece por onde quiser, lembre-se apenas de como faziam os antigos romanos: dextro pede.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Haiti é bem ali

Em 1492 as caravelas da frota do italiano Cristóvão Colombo avistaram a área que hoje compreende o território do Haiti e da República Dominicana. No século XV a região era habitada por povos nativos de diferentes etnias que foram dizimados pelo colonialismo espanhol.
O sistema mercantilista exigia a implantação de um modelo produtivo conhecido como plantation, assim foi introduzida a monocultura na ilha juntamente com o trabalho escravo de origem africana. Estes elementos são essenciais para uma compreensão sobre o atraso econômico da área e a pobreza generalizada de sua população.
Na sua história política e econômica, o Haiti conheceu a dependência ao mercado externo e a relação estrita com primeiramente a Espanha, em seguida, a França e finalmente uma parceria com os Estados Unidos. Levantes, rebeliões, golpes de estado, ditaduras fazem parte da história do país que se balançava numa democracia extremamente tênue e mantida graças às forças militares de vários países, incluindo o Brasil.
Mas nesta semana os haitianos foram sacudidos por um evento que estava além de todas as estruturas pensadas e elaboradas ao longo do tempo: um terremoto de 7 pontos na escala Richter. Agora o equilíbrio ficou ainda mais distante.
A dimensão da tragédia e as perdas humanas e materiais comovem todos que acompanham o noticiário, mas o que mais me choca diante da catástrofe natural é a pouca responsabilidade social que os países desenvolvidos demonstram neste momento tão dolorido para uma nação em escombros. Espanha e França, antigas metrópoles da região enviam migalhas para amenizar uma dor e uma fome de proporções dantescas. Será que esqueceram tudo que foi escrito nas páginas da história?
Não estou enfatizando que a culpa pelo terremoto recaía sobre algumas nações européias, nem às crenças religiosas de origem africana, como apontou o infeliz pastor americano, trata-se de ajuda humanitária para um povo que teve muito de sua dignidade e humanidade roubada ao longo do tempo em guerras intestinais e lutas fraticidas, sendo muitos destes conflitos iniciados pela presença estrangeira na região.
Nada pode nos dar uma dimensão precisa das dificuldades que já existiam no Haiti e que agora foram drasticamente pioradas após os tremores.
Irônico é que na semana dos festejos natalinos, estava em um centro de compras da cidade acompanhando um casal de amigos idosos, quando vimos um moço vestido de papai noel e acompanhado por uma bandinha. Seu Antonio olhou toda aquela animação e disse: É natal aqui, mas no Haiti, será que tem natal? E ficamos ali alguns minutos em silêncio. Eu pensando o quanto o Haiti estava longe e pouco preocupada com algum tipo de engajamento político.
Mas o Haiti é bem ali. Cabe a cada um fazer sua parte para ajudar os outros na busca pelo equilíbrio diante de tantos abalos.
A Embaixada do Haiti recebe doações na seguinte conta: Banco do Brasil. Ag. 1606.3. Conta. 91.000-7. O Care internacional do Brasil disponibiliza esta conta para depósito: Banco Real/Santander. Ag. 0373. Conta. 5756365-0

domingo, 10 de janeiro de 2010

Les enfants de Timpelback

Durante quinze anos fui educadora de crianças e professora de história. Olhando em retrospectiva para a minha primeira turma (1995) e buscando compará-la com as últimas (2009), percebo o quanto as crianças mudaram, mas principalmente, o quanto os pais também se modificaram.
Imagino se Émile Durkheim havia previsto estas modificações quando fez suas primeiras análises sobre a função da escola na sociedade. Para o sociólogo francês, a instituição escolar tinha um papel coercitivo, auxiliando na regulação e controle do comportamento das crianças, desta forma preparando-as para viver em sociedade. As formas de percepção, os sentidos e ações são impostas às crianças, desde cedo, primeiro pela família e depois na escola, para garantia de uma vida coletiva mais harmônica. Segundo Durkheim, a educação tem como objetivo formar o ser social e prepará-lo para a convivência coletiva.
E é aqui que introduzo o filme Les enfants de Timpelback. Este filme francês parece uma fábula dos dias de hoje, envolvendo família, crianças e escola numa crise de valores e na inexistência de limites em todos os âmbitos.
Apresentando pais agressivos, mães ausentes, famílias flexíveis demais, o filme mostra o quanto a ausência de regras transforma as crianças em pequenos ditadores ou em pessoas sem autonomia.
A sala de aula é um espaço coordenado por uma professora que não compreende as necessidades individuais de seus alunos, como também não valoriza as especificidades presentes em seus processos formativos.
E quem são as crianças? Em Timpelback existem crianças dóceis e educadas, mas estas pertencem às famílias amorosas e equilibradas, já as crianças que demonstram problemas de comportamento e falhas na sua moral pertencem às famílias de pais ausentes do processo educativo de seus filhos, os mesmos não podendo servir como exemplos de conduta adequada, dificultando a internalização das regras desejáveis para uma vida mais harmônica em sociedade.
As crianças de Timpelback poderiam ser as crianças de qualquer cidade. A ficção faz apenas uma releitura da nossa educação em crise. Tanto a família quanto a escola esquecem seus papéis referenciais e deixam-se seduzir pelo psicologismo que impregna muitos profissionais da educação e faz eco no discurso de muitos pais.
Nos últimos anos de sala de aula, percebi o quanto a responsabilidade pela educação das crianças era colocada nas mãos dos educadores, para alguns pais competia somente deseducar.
Le enfants de Timpelback guarda um final previsível: a ausência de regras gera a necessidade de novas regras. Talvez o sociólogo esteja certo. Vale a pena conferir tanto a obra do pensador da educação quanto o filme. Boas reflexões para todos nós.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A ciência com consciência sobre 2012

Da Folha Online:
Cientistas criticam proposta de "2012" e indicam cenários de fim do mundo

DENNIS OVERBYE
do New York Times

A Nasa (agência espacial norte-americana) criticou a Sony em outubro por sugerir, em sua campanha publicitária para o filme "2012", que o mundo acabaria em 2012.

No ano passado, o Cern (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares), também assegurou que o mundo não acabaria tão cedo --portanto, acho que tudo isso é uma boa notícia para quem fica nervoso facilmente. Com que frequência vemos duas instituições científicas top de linha como essas nos garantindo que está tudo bem?

Divulgação

Cientistas refutam proposta do filme "2012" e indicam outros cenários de fim do mundo; pesquisador aponta desesperados

Por outro lado, é meio triste, se você estava ansioso por tirar umas férias das prestações do imóvel para financiar uma última festança.

As declarações do Cern tiveram a intenção de aliviar temores de que um buraco negro sairia de seu novo Grande Colisor de Hádrons (LHC) e engoliria a Terra.

O pronunciamento da Nasa, na forma de vários posts em sites e um vídeo postado no YouTube, foi uma resposta a temores de que o mundo fosse acabar no dia 21 de dezembro de 2012, quando um ciclo de 5.125 anos conhecido como Grande Contagem no calendário maia teoricamente chegaria a um fim.

Filme

O burburinho em torno do fim dos dias atingiu o auge com o lançamento do filme "2012", dirigido por Roland Emmerich, que já trouxe desgraças fictícias para a Terra anteriormente, com alienígenas e geleiras, em "Independence Day" e "O Dia Depois de Amanhã".

No filme, o alinhamento entre o Sol e o centro da galáxia, no dia 21 de dezembro de 2012, faz com que o astro fique ensandecido e lance na superfície da Terra inúmeras partículas subatômicas ambíguas conhecidas como neutrinos.

De alguma forma, os neutrinos se transformam em outras partículas e aquecem o centro da Terra. A crosta terrestre perde suas amarras e começa a se enfraquecer e deslizar por aí.

Los Angeles cai no oceano; Yellowstone explode, causando uma chuva de cinzas no continente. Ondas gigantes varrem o Himalaia, onde governos do planeta tinham construído em segredo uma frota de arcas, nas quais 400 mil pessoas selecionadas poderiam se abrigar das águas.

Porém, essa é apenas uma versão do apocalipse. Em outras variações, um planeta chamado Nibiru colide com o nosso ou o campo magnético da Terra enlouquece.

Existem centenas de livros dedicados a 2012, e milhões de sites, dependendo de que combinação de "2012" e "fim do mundo" você digite no Google.

"Tolices"

Segundo astrônomos, tudo isso é besteira.

"Grande parte do que se alega que irá ocorrer em 2012 está baseada em desejos, grandes tolices pseudocientíficas, ignorância de astronomia e um alto nível de paranoia", afirmou Ed Krupp, diretor do Griffith Observatory, em Los Angeles, e especialista em astronomia antiga, em um artigo publicado na edição de novembro da revista "Sky & Telescope".

Pessoalmente, adoro histórias sobre o fim do mundo desde que comecei a consumir ficção científica, quando era uma criança. Fazer o público se borrar nas calças é o grande lance, desde que Orson Welles transmitiu a "Guerra dos Mundos", uma notícia falsa sobre uma invasão de marcianos em Nova Jersey, em 1938.

No entanto, essa tendência tem ido longe demais, disse David Morrison, astrônomo do Ames Research Center da NASA, em Moffett Field, Califórnia. Ele é autor do vídeo no YouTube refutando a catástrofe e um dos principais pontos de contato da agência sobre a questão das profecias maias prevendo o fim dos dias.

"Fico com raiva de ver como as pessoas estão sendo manipuladas e aterrorizadas para alguém ganhar dinheiro", disse Morrison. "Não há direito ético que permita assustar crianças para ganhar dinheiro".

Desesperados

Morrison afirmou receber cerca de 20 cartas e mensagens de e-mail por dia de pessoas até da Índia, assustadas até o último fio de cabelo. Em uma mensagem de e-mail, ele anexou exemplos que incluíam uma mulher perguntando se deveria se suicidar, matar sua filha e seu bebê ainda no útero. Outra mensagem veio de uma pessoa questionando se deveria sacrificar seu cachorro, a fim de evitar o sofrimento de 2012.

Tudo isso me fez lembrar os tipos de cartas que recebi no ano passado sobre o suposto buraco negro do Cern. Isso também era mais ficção científica do que fato científico, mas aparentemente não há nada melhor que a morte para nos aproximar de domínios abstratos como física e astronomia. Nessas situações, quando a Terra ou o Universo não estão nem aí para você e seus entes queridos, o cósmico realmente se torna algo pessoal.

Morrison disse não culpar o filme por todo o burburinho, não tanto quanto os vários outros divulgadores das previsões maias e a aparente incapacidade de algumas pessoas (e isso se reflete em vários aspectos da nossa vida nacional) de distinguir a realidade da ficção. Porém, ele disse, "meu doutorado foi em astronomia, não em psicologia".

Em mensagens de e-mail, Krupp disse: "Sempre estamos incertos em relação ao futuro, e sempre consumimos representações dele. Somos seduzidos pelo romantismo do passado longínquo e pela escala exótica do cosmo. Quando tudo isso se junta, ficamos hipnotizados".

O porta-voz da Nasa, Dwayne Brown, afirmou que a agência não faz comentários sobre filmes, deixando essa tarefa para os críticos de cinema. No entanto, quando se trata de ciência, disse Brown, "achamos que seria prudente oferecer um recurso".

Aquecimento global

Se você quer ter algo para se preocupar, afirma a maioria dos cientistas, deve refletir sobre as mudanças climáticas globais, asteróides ou guerra nuclear. Porém, se a especulação sobre as antigas profecias mexem com você, aqui estão algumas coisas, segundo Morrison e outros, que você deve saber.

Para começar, os astrônomos concordam que não há nada especial em relação ao alinhamento do Sol e do centro galáctico. Isso ocorre todo mês de dezembro, sem nenhuma consequência física além do consumo exagerado de panetones. De qualquer forma, o Sol e o centro galáctico não vão exatamente coincidir, nem mesmo em 2012.

Se houvesse outro planeta lá fora vindo em nossa direção, todo mundo já teria percebido. Quanto às violentas tempestades solares, o próximo auge do ciclo das manchas solares só ocorrerá em 2013, e será no nível mais suave, afirmam astrônomos.

O apocalipse geológico é uma aposta melhor. Já houve grandes terremotos na Califórnia, e provavelmente haverá outros. Esses tremores poderiam destruir Los Angeles, como mostrou o filme, e Yellowstone poderia entrar em erupção novamente com uma força cataclísmica, mais cedo ou mais tarde.

Nós e nossas obras somos, de fato, apenas passageiros frágeis e temporários na Terra. Porém, neste caso, "mais cedo ou mais tarde" significa centenas de milhões de anos --e haveria bastante aviso quando chegasse a hora.

Os maias, que eram astrônomos e cronometristas bons o suficiente para prever a posição de Vênus 500 anos no futuro, merecem coisa melhor.

O tempo maia era cíclico; especialistas como Krupp e Anthony Aveni, astrônomo e antropólogo da Colgate University, afirmam não haver evidências de que os maias achassem que algo especial ocorreria quando o marcador da Grande Contagem atingisse 2012. Existem referências em inscrições maias a datas antes e depois da atual Grande Contagem, afirmam os especialistas.

Sendo assim, continue pagando suas prestações normalmente.

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