domingo, 30 de outubro de 2011

Os desafios da prática do professor profissional:


Autora: Andreia Regina Moura Mendes
@AndreiaReginaBr
atenasregina@yahoo.com.br

COMO CITAR ESSE ARTIGO?

MENDES, Andreia Regina Moura. Os desafios da prática do professor profissional: quais competências e habilidades? In: FARIA, Tereza Cristina Leandro. Práticas pedagógicas em debate. Natal (RN): Infinita Imagem, 2010. ISBN: 978-85- 63118-00-4


RESUMO



O presente artigo discute os desafios da prática do professor, levantando uma discussão sobre quais as competências e quais as habilidades que devem fazer parte da formação de um professor profissional e como o mesmo deve articular a teoria com a sua prática docente. Utilizamos além da pesquisa bibliográfica, uma entrevista aberta com os alunos da 2ª série do curso de licenciatura de História da Universidade Potiguar, numa atividade realizada na disciplina de Didática Geral.





PALAVRAS-CHAVE

Competências- Desafios- Educação- Habilidades- Formação profissional- Professor



INTRODUÇÃO





O século XXI exige novas competências e habilidades dos profissionais da educação para lidar com o ensino em todos os níveis. Outros desafios configuram-se a cada novo tempo e precisamos debater sobre a profissionalização do professor e as competências que norteiam a sua prática de ensino. Muitos teóricos já debruçaram-se sobre a formação docente, mas ainda persistem algumas questões, sendo a mais importante, para este trabalho, a reflexão sobre as competências e habilidades necessárias para a preparação de profissionais capazes de organizar situações de aprendizagem.

O que percebemos é que o professor que ingressa nas diversas áreas do saber universitário, com exceção das licenciaturas e educação, pouco ou nenhum contato tiveram com as disciplinas da área pedagógica, desconhecendo a teoria da educação, os elementos que compõem a didática e a docência, como as estratégias de ensino mais eficazes de acordo com cada programa e currículo, além de o mesmo não travar conhecimento sobre os debates estabelecidos sobre o processo de ensino- aprendizagem e quais rumos os educadores devem tomar diante das novas demandas que a educação nos coloca.

A primeira questão que deve ser reformulada é a necessidade de um programa de formação contínua para os professores universitários. Algumas IES dedicam-se à elaboração de encontros regulares nas equipes para discutir aspectos ligados ao ensino e novas metodologias, mas ainda inexiste na maioria das universidades brasileiras um trabalho voltado para a discussão mais aprofundada das competências e habilidades que fazem um bom professor.

Para a formação de um professor profissional é preciso muito mais do que muni-lo de truques ou gestos performáticos que possam ser utilizados diante de uma sala de aula. Este artigo tratará justamente dos desafios da formação do professor e dos quais as competências e habilidades que são esperadas deste profissional.



O professor enquanto sujeito de sua formação profissional

O panorama atual apresenta a evolução dos profissionais das ciências humanas. Muitos professores voltam para a academia para complementar sua formação inicial e buscam em cursos de pós-graduação uma nova área de reflexão, ou aprofundar aspectos que desejavam fazê-lo na época da graduação nos seus respectivos cursos. Estamos diante de um quadro de transição de um professor executante de conteúdos para o profissional mais comprometido com a prática pedagógica e o processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, esta realidade ainda não é a ideal, faltam políticas institucionais voltadas para sanar as dificuldades e preencher as lacunas deixadas pela formação deficitária destes professores.

Inicialmente precisamos descentralizar um pouco a responsabilidade sobre a formação docente. Reconhecidas as limitações nos cursos de graduação que formam os professores brasileiros, é preciso ainda lembrar que a IES na qual este docente está vinculado não pode sozinha assumir o papel de refazer as posturas deste professor e ajudá-lo na aquisição de novas habilidades e descobertas de suas competências.

O próprio docente precisa se auto-avaliar e conhecer melhor suas capacidades. O comprometimento com a formação contínua, cria no professor a necessidade do estudo lhe fazendo obter um novo status, aprimorando as habilidades e competências, desta forma, estando preparado para utilizar-se de ações, de forma autônoma e responsável, desenvolvendo metodologias que possam auxiliar na busca dos objetivos propostos.

A prática do professor profissional exige que o mesmo saiba analisar as situações de ensino que se configuram enquanto complexas, embasando sua ação numa reflexão sobre um quadro amplo de referências diversas. Daí a importância do estudo e conhecimento dos teóricos da pedagogia.

Um professor profissional possui o instrumental necessário para fazer a opção de maneira rápida e refletida por estratégias adequadas aos objetivos e às exigências da sua função, sejam elas didáticas, teóricas ou éticas.

Quando atribuímos ao professor a responsabilidade pela sua formação profissional, ele encara de maneira crítica suas ações e resultados, buscando avaliar sua prática e também o seu papel neste processo. A avaliação contínua é um aspecto motivacional importante nesta tomada de ação, a prática pedagógica está sempre sendo reavaliada e reelaborada.

Segundo Philipe Perrenoud (2001), o profissionalismo de um professor não é caracterizado apenas pelo domínio de conhecimentos profissionais diversos, mas também pelas formas que o mesmo percebe, analisa, decide, planeja e avalia a sua própria prática e a sala de aula

Numa aula de Didática geral, interpelei a turma de 70 alunos sobre as qualidades de um bom professor. Eles foram solicitados a pensarem em até duas características e comentarem o porquê da escolha. Organizamos as características apontadas pelos alunos da 2ª série do curso de Licenciatura em História e percebemos a recorrência que cada uma delas foi citada na turma. O quadro abaixo serve para ilustrar os resultados desta atividade.







AMIZADE 2 COMPROMISSO 1 DINÂMICA 3 HUMANIDADE 1 RIGIDEZ 1

AMOR 3 COMUNICAÇÃO 1 DOMÍNIO 2 IMAGINAÇÃO 1 SEGURANÇA 1

ATENÇÃO 2 CONCENTRAÇÃO 1 DRAMATIZAÇÃO 1 OBJETIVIDADE 1 SENSUALIDADE 1

AUTONOMIA 1 CONDUÇÃO 1 ENTUSIASMO 1 PACIÊNCIA 3 SERIEDADE 1

BRINCADEIRA 2 CUIDADO 1 EXIGÊNCIA 1 PESQUISA 1 TRANSMISSÃO 1

CARISMA 3 DEDICAÇÃO 10 EXTROVERSÃO 2 RACIONALISMO 1 VALORES 4

CLAREZA 1 DESAFIADOR 1 FASCÍNIO 1 RESPEITO 1 VOCAÇÃO 2

COMPETÊNCIA 1 DIDÁTICA 4 GOSTO 1 RESPONSABILIDADE 3 Total 70



Tabela 1: Características de um bom professor.

Atividade aplicada na disciplina de Didática Geral no dia 03 de agosto de 2009.



Analisando a tabela acima, percebe-se que as características ligadas ao domínio dos conteúdos são apontadas por três alunos como importantes na prática do professor: o saber e a mediação destes conteúdos. Outras características sinalizam para o tipo de postura que o professor deve manter diante do conhecimento, como o espírito de pesquisa, a objetividade para lidar com os dados e o senso racionalista. Segundo os alunos, um perfil psicológico aberto e sensível também é fundamental para o ofício do professor, pois 50% das características apontadas pelos estudantes estão relacionadas com os aspectos da personalidade e com o compromisso pessoal do docente diante de sua profissão. Por último, notamos que as formas de organização dos conteúdos e as metodologias utilizadas também são recorrentes na fala dos alunos.





Refletindo sobre as respostas dadas pelos alunos, podemos verificar que existem algumas posturas necessárias ao ofício do professor. Para Perrenoud (2001), a convicção na educabilidade é essencial. Quando o professor estabelece um ambiente de confiança e motivação, ele acredita que os seus alunos podem apreender os saberes postos em cada disciplina, respeitando ainda as singularidades que envolvem o processo individual da aprendizagem.

O professor deve conhecer a si mesmo e compreender as próprias representações. A representação é a categoria central do pensamento humano, ela envolve as formas que percebemos e identificamos os objetos a nossa volta, como os reconhecemos, classificamos e legitimamos alguns, excluindo outros de acordo com nossos pontos de vista e orientações ideológicas. O professor deve ficar atento sobre a forma que aciona estas representações durante o exercício de seu ofício, pois as representações são portadoras do simbólico, já que carregam sentidos não revelados, que são construídos social e historicamente, internalizando-se no inconsciente coletivo e se apresentando como naturais, dispensando a reflexão.

Outra postura apontada por Perrenoud relaciona-se com o domínio das emoções. Senso de equilíbrio e senso do próprio valor são fundamentais para uma boa prática docente. O profissional que conhece os seus limites e sabe manter-se no controle dos seus sentimentos diante de situações conflituosas ou delicadas transmite segurança para seus alunos, sem jamais perder a sua autonomia.

Abertura à colaboração é um dos maiores desafios para os professores. Um professor profissional valoriza o trabalho em grupo, confia na pedagogia dos projetos, torna seu aluno um colaborador neste processo e alcança os seus objetivos com maior facilidade.

O engajamento profissional reflete-se no compromisso com a profissão e na responsabilidade no exercício do ofício. A educação exige seriedade, diante dos desafios que se apresentam. As demandas da prática educativa são muitas, mas a dedicação e a crença na educabilidade podem ser as chaves para um professor cada vez mais profissional e confiante na sua prática.

As competências do ofício do professor.

Cada área do saber apresenta as suas competências. Elas são compostas por um conjunto diversificado de conhecimentos profissionais traduzidos em esquemas de ação e de posturas mobilizadas para o ofício. O saber fazer é um dos aspectos principais destas competências. O saber fazer não está dissociado do saber conhecer, a relação entre ambos é refletida na ordem prática.

As competências de ordem cognitiva dizem respeito aos conhecimentos específicos que são mobilizados dentro de cada área. O professor profissional compreende que a produção do conhecimento dar-se num espaço cada vez mais amplo e transdisciplinar, incentivando os seus alunos para uma reflexão sobre o saber conhecer, ensinando-os a estabelecerem pontes, jamais barreiras diante do conhecimento.

Quanto às competências de ordem afetiva, elas estão ligadas aos aspectos do saber ser. São competências relacionadas às percepções internas, como traduzimos nossa relação conosco, com os outros e com o mundo. São características das competências a inteligência, a sensibilidade, a criticidade, a responsabilidade e a espiritualidade, não necessariamente voltada para a religiosidade. O desenvolvimento das competências afetivas cria indivíduos mais tolerantes e comprometidos com a condição ternária do homem. (MORIN, 1999).



Os pilares da educação

As características analisadas acima podem ser tomadas em conjunto, aproximando-se dos pilares do conhecimento, propostos por Jacques Delors (1998). Eles são:

1- Aprender a conhecer

2- Aprender a fazer

3- Aprender a viver juntos

4- Aprender a ser



Aprender a conhecer

Esta habilidade está relacionada com a aquisição de saberes específicos para a área de atuação. Conhecer pressupõe o domínio dos instrumentos do conhecimento e a utilização dos mesmos enquanto finalidade de vida e forma de compreender o mundo.

A habilidade do conhecer envolve prazer na apreensão do conhecimento, compreensão, descoberta e pesquisa. O professor que aciona esta habilidade ele chama a atenção dos alunos para a relação que os mesmos devem estabelecer com o meio ambiente, despertando a sua curiosidade sobre o mundo a sua volta, estimulando de forma autônoma o senso crítico, assim,oportunizando o acesso à metodologia científica

O conhecimento ultrapassa os limites postos pelas diferentes disciplinas e avança no sentido da transdisciplinaridade. Ensinar ao aluno saber conhecer o estimula a ligar os saberes com a experiência, ensinando-o a ser co-participante de sua aprendizagem.

Aprender a fazer

Para Delors, conhecer e fazer são indissociáveis, principalmente quando tratamos das competências e habilidades para um professor profissional em todos os níveis. Também faz-se necessário uma reflexão sobre o ensino técnico ou a chamada aprendizagem profissional.

Num mundo cada vez mais marcado pela globalidade, é preciso adaptar a educação ao trabalho no futuro. Apesar da era de incertezas (HOBSBAWM, 2001) que vivenciamos, alguns aspectos ligados ao saber fazer devem ser levantados, entre eles está a noção de qualificação relacionada com a noção de competência. O mercado de trabalho exige cada dia um maior domínio técnico e cognitivo, valorizando os profissionais pelo conjunto de conhecimentos e informações que o mesmo dispoe para transitar de forma mais livre sobre diversas áreas e atividades.

Um profissional bem qualificado deve apresentar além da formação técnica, um comportamento social adequado, mostrando-se capaz de comunicar-se bem, além da aptidão para o trabalho em equipe. Espera que ele tenha iniciativa e o gosto pelo risco dispondo ainda de uma capacidade para gerenciar e resolver conflitos.





Aprender a viver juntos

A ética em funcionamento no século XXI está de acordo com o individualismo e o hedonismo. Aspectos centrais como a convivência humana, o espírito pacifista e o respeito ao meio ambiente são pouco refletidos nos dias de hoje.O que temos hoje?

A partir desta observação, devemos pensar qual é a escola que queremos e qual é a função social do ensino. A indissociabilidade do desenvolvimento pessoal, nas relações que se estabelecem com os outros e com a realidade social é um dos aspectos principais para o aprender a viver juntos.

A escola deve ser capaz de formar cidadãos e cidadãs autônomos e plenamente desenvolvidos, auxiliando os indivíduos a estabelecerem vínculos e relações que os ajudem a compreender melhor o mundo e a si mesmos. A descoberta progressiva do outro e o respeito pela alteridade devem ser o foco de uma educação mais cidadã e centrada na percepção de que eu me observo quando observo aquele que é diferente de mim.

Uma das formas de propiciar este tipo de aprendizagem é a promoção da participação em projetos comuns, nos quais possam existir possibilidades de diálogos voltados para os objetivos em comum. Projetos motivadores que envolvem práticas de esporte e outras formas de lazer coletivo podem enriquecer as atividades sociais, fortalecendo o grupo e o auxiliando na resolução de conflitos. A relação professor-aluno é um excelente laboratório de observação para esta aprendizagem.

Aprender a ser

Desenvolver um pensamento autônomo, crítico e livre de juízo de valor são aspectos fundamentais para o aprender a ser. Esta competência estimula o dialógo, incentiva a autonomia fornece instrumentais intelectuais que conduzem a uma liberdade de pensamento, provocando além do discernimento uma percepção mais compreensiva da diversidade.

A sala de aula transforma-se no espaço do estímulo à autonomia, do espírito de iniciativa, da provocação e criatividade. A imaginação associada ao espírito de descobertas cria no aluno o gosto pela experimentação nos diversos campos. O enxerga-se dentro de um compromisso consigo, com a coletividade e com o planeta, sonhando e realizando-se completamente enquanto humanidade. Pois, como já dizia Freire (ano): “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”.

Considerações finais

A partir do que expomos, acreditamos que as práticas de formação devem ser fundamentadas e refletidas, por esta razão existe a necessidade de articulação dos conhecimentos com recursos cognitivos, integrando teoria e prática na busca por um saber que seja produto da experiência. O professor aqui é visto como agente de sua própria mudança e multiplicador, quando permite que através das competências que adquiriu, possa desenvolver melhor as habilidades de seus alunos, contribuindo desta maneira para a construção de um processo educativo mais significativo para o aluno e para a sociedade em geral.





Referências bibliográficas



DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir: São Paulo: Cortez, 1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 1999.

PAQUAY, Léopold. PERRENOUD, Philippe. ALTET, Marguerite. CHARLIE, Évelyne. Formando professores profissionais: quais estratégias? Quais competências? Porto Alegre: Artmed, 2001.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.



Dia de Reis e os sentidos desse evento para nossa história

 Dia de Reis Magos e os sentidos desse evento para nossa história Está escrito no Evangelho de Mateus, 2:1, (...) eis que magos vieram do Or...