quarta-feira, 20 de julho de 2011

O bom livro às mãos do seu leitor retorna

Minha experiência com os livros aconteceu em minha casa bem antes de ser alfabetizada. Na década de 1980 existia uma categoria muito interessante chamada de "vendedores de livros". Eles saiam batendo de porta em porta e oferecendo clássicos da literatura infanto-juvenil divididos em várias parcelas, o que era o ideal para famílias de pouco recurso como a minha.

Nossa mãe então comprou a primeira coleção de livros infantis. Eles eram ricamente ilustrados e com capa dura. Mesmo sem saber ler, os livros que pareciam enormes para serem carregados por mim e meu irmão mais novo, estavam sempre nas nossas mãos e aos poucos, eu particularmente, fui me interessando por eles. Desta coleção, lembro que existia o exemplar da Branca de Neve, mas não consigo me recordar dos outros títulos.
Então, fomos alfabetizados. Meu irmão aprendeu a ler primeiro do que eu, o que me deixou muito angustiada por não conseguir ter acesso ao que estava sendo dito naqueles livros. Na ocasião, minha mãe comprou nossa segunda coleção de livros infanto-juvenis. Com a chegada deles, aumentou mais ainda minha vontade de aprender a ler e na 1ª série, hoje 2º ano, deslanchei e nunca mais abandonei um livro.
Os livros foram meus melhores amigos na adolescência e estiveram ao meu lado em momentos marcantes de minha formação como pessoa e quanto sujeito social. Acredito inclusive que existem livros mais interessantes do que pessoas, apesar de nem sempre os autores serem pessoas interessantes, não é mesmo?
Enfim, todos nós já perdemos amigos e livros amigos em nossas vidas. Eu me ressentia muito pela perda de um livro-amigo especificamente: O último cabalista de Lisboa, um romance histórico de Richard Zimler, que comprei em minha última noite de viagem pela antiga Olisopônia.
Em linhas gerais, o livro trata do período de governo de D. Manuel, o venturoso e da perseguição que aconteceu aos judeus durante a inquisição portuguesa. É de uma escrita densa e rica em detalhes, mas mesmo sendo um romance, é possível descortinar aquele cenário e pensar nos horrores perpetrados pelos cristãos velhos contra a população judaica naquele dantesco pogrom.
Lembro que comecei a leitura do livro ainda durante o vôo Lisboa-Recife e não larguei mais dele até finalizá-lo. Foi a sua leitura que me aproximou da História Moderna e principalmente da inquisição, definindo muitas das minhas leituras e áreas de interesse de pesquisa e estudo.
Pouco tempo depois de ter lido O último cabalista de Lisboa, ousei emprestá-lo, e aqui relembro de uma máxima de minha vó materna: quem empresta nem para si presta. Resultado, perdi o livro e mesmo procurando em bancas e livrarias locais ou em Recife, não o achava.
Mas ontem, minha amiga e também devota leitora me presenteou com o romance de Richard Zimler. Foi grande a emoção, principalmente porque confirmei que o bom livro às mãos do seu leitor retorna.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um esboço de uma resenha: quanto vale ou é por quilo?

Na última disciplina do doutorado em Ciências Sociais, assistimos o filme de Sérgio Bianchi, Quanto vale ou é por quilo? (2005). A discussão na turma girava em torno da avaliação das políticas públicas e alguns colegas acharam interessante trabalhar este filme para exemplificar um pouco a teoria que estava sendo vista em sala.
Caso o professor tivesse solicitado uma resenha crítica sobre o filme do Sérgio Bianchi, acho que a minha seria num tom muito mais crítico do que analítico, e falo isso tanto do ponto de vista da história quanto a partir de alguns elementos da semiótica, que aprendi a duras penas.
Quanto vale ou é por quilo? é um filme que apresenta uma narrativa fragmentada, entrecortada por relatos, depoimentos, narrador intruso e descontinuidade mostrada nos recortes que são feitos dentro da trama sem continuidade ou linearidade. O recurso parecia ser uma boa ideia, chegando a me lembrar um pouco o cinema russo na década de 1920, mas depois de alguns minutos percebemos que não existe uma linha narrativa que possa ser interpretada ou compreendida pelo espectador.
O filme tenta fazer uma crítica sobre a mobilização dos diferentes atores sociais em torno de alguns problemas que deverião ser tratados pelas políticas públicas, neste caso pelas políticas sociais. O recorte temporal procura transitar entre o período colonial de nossa história até os dias de hoje.
É neste aspecto que identifiquei muitas questões que fazem o vídeo parecer uma sucessão de anacronismos. Por exemplo, o filme procura discutir as condições impostas aos negros durante o regime escravagista procurando fazer uma ponte com os trabalhadores urbanos super explorados dos dias atuais. O maior problema desta tentativa é não levar em consideração que o sistema capitalista de hoje não pode ser utilizado como lente para enxergar as políticas econômicas e sociais dos séculos XVIII e XIX.
Até a primeira parte, pensava que trataria então do problema racial no Brasil e que iria abordar as poucas políticas sociais que são voltadas para a população negra brasileira e seus descendentes, entretanto o curso do filme se altera e vemos um novo ator social em cena: o empresariado interessado em investir nos projetos sociais do governo.
Neste segundo momento, temos uma crítica sobre a política de inclusão digital e social propagada pelo governo federal. O filme mostra os empresários instalando computadores ultrapassados numa escola da periferia e a rebelião dos novos usuários diante dos equipamentos, com uma cena que lembrava as imagens sobre os ludistas nos livros de história.
A problemática que podemos apontar no vídeo é uma crítica as medidas paliativas que a sociedade civil realiza como: distribuição de comida e cobertores para os moradores de rua, brinquedos baratos para as crianças carentes, tratamento caro e estadia em hotel de luxo para doentes de câncer em fase terminal. A crítica é voltada principalmente para a classe burguesa mas também é direcionada para a classe popular, tanto no seu engajamento rápido nestas medidas, quanto pela inércia diante de determinadas situações.
 A crítica que o filme faz ao sistema penitenciário é outro aspecto que merece nossa atenção. O preso que é representado por um homem negro filho de uma mulher branca, em sua fala afirma que o que vale é ter liberdade para consumir. A crise do estado capitalista é pontuada, no que concerne aos gastos com acumulação (consumo social) e os gastos com a legitimação, ou seja, aceitação do sistema. 
Finalizando nosso esboço de resenha, posso destacar que o filme não tem uma temática muito clara, apesar de ser caracterizado como drama, em muitas cenas vemos o tom de comicidade na forma que determinadas situações são exploradas dentro da narrativa.  
E a primeira questão apresentada no filme? Onde ficam os negros nesta história? O filme não foge dos estereótipos. Os negros continuam sendo representados na sociedade brasileira como escravos, pobres e empregados domésticos, deixando claro para todos que: negro sem educação, sem emprego e morando na periferia, só pode virar marginal.
  

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