quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Caras pintadas? Muito barulho por nada.

Lembro da primeira manifestação de jovens com os rostos coloridos e vestidos de preto. Na época eu trabalhava no Banco do Brasil, era menor auxiliar de serviço de apoio e vivia mergulhada numa atmosfera de muita erudição e conhecimentos. Um funcionário entrou no setor esbaforido, dizendo que muitos jovens tinham tomado as ruas da Avenida Rio Branco e que eu precisava participar daquele movimento. Ele até pediu que quando eu saisse do trabalho, fosse até a Cidade Alta me juntar aos participantes. Naquele dia eu não tinha um título de eleitor na mão, mas tinha uma ideia na cabeça: o voto era a melhor expressão de nossa insatisfação diante de uma política defeituosa e nós poderíamos dar este tipo de resposta para o país e para o mundo nas próximas eleições.
Passaram-se muitos anos desde o movimento dos "caras pintadas". Muitas explicações surgiram para aquele fato e uma delas apontava para uma realidade bem interessante e típica de nossa cultura: o movimento tinha sido estimulado pelos meios de comunicação de massa, ou seja, TV e rádio. O que havia de espontâneo? talvez apenas a vontade individual de participar do evento, mas ainda não tinha sido forjado um espírito coletivo que gerasse o germe da mudança que tanto era ansiada, mas que nunca se concretizou.
Nos anos seguintes e nas eleições seguintes, o mesmo cenário político e os mesmos grupos familiares se revezavam no poder, a tradição de mandar no país é algo muito antigo e mais velha ainda é a hereditariedade. Desde as capitanias era assim, o modelo está na política: o cargo passa de pai para filho. E o povo pintado da década de 90? Continua alimentando este modelo de uma democracia imperfeita.
Ontem, muitos jovens ao redor do país fizeram a mesma coisa, mas não repetiram a mesma história, até porque são outros sujeitos sociais e além de tudo, a mobilização foi estimulada pelas novas mídias. Isso é mais do que compreensível quando vivenciamos uma nova sociedade na era da informação: são novos paradigmas.
O que não compreendo é o fato desta transformação não ter sido gestada ao longo dos últimos anos quando tivemos a maior arma na mão: um título de eleitor. Vejo em Natal a organização de marchas, passeatas, atos públicos exigindo a saída da atual prefeita. O movimento "Fora Micarla", está na boca de todos, mas não penetrou ainda as cabeças da maioria dos natalenses que, continuam ligando sua TV para ver e ouvir os porta-vozes da emissora controlada pela então gestora de nossa cidade. Como podemos exigir transparência e igualdade se alguns tem mais poder que outros? Como podemos pensar em programar a mudança se as políticas públicas ainda favorecem grupos políticos no controle dos meios de comunicação de massa?
É tempo de exigir mudanças estruturais e cada um fazer sua parte. Por favor, não me peçam para pintar meu rosto e vestir preto, eu voto de forma consciente para não precisar sair de casa no feriado de uma independência que nunca se consolidou para expor minha insatisfação através de tinta guache na cara. Tenho medo apenas do que dirão no futuro sobre esta geração que faço parte, e uma coisa é certa, eles julgarão que fizemos "muito barulho por nada".

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Uma reflexão a partir do filme O show de Truman

A disciplina de férias prometia muita coisa, mas não tínhamos tempo para discutir todas as relações estabelecidas entre as sociedades e as mídias ao longo dos últimos setenta anos. Entretanto, as discussões e debates nas turmas Comunicação e Sociedade I e Comunicação e Sociedade II foram extremamente férteis e quem dera que tantos mais pudessem fazer este tipo de reflexão em torno da era da informação e da sociedade do consumo.
De todas as resenhas produzidas, escolhi a reflexão proposta por Júlio César e acredito que vocês também vão pensar alguns aspectos apontados por ele em seu provocante texto. Agora para vocês, uma reflexão a partir do filme O show de Truman, por Júlio César dos Santos Pais:

“Vida louca, vida, vida breve. Já que eu não posso te levar, quero que você me leve...”.

Vivenciamos hoje uma sociedade pautada pelo espetáculo. A grande massa da população, por algum motivo ainda não bem explicado, se tornou passiva diante de suas escolhas, deixando na mão de outros, decisões importantes em áreas como a cultura e educação.

Ela, sem perceber, acabou escrava do audiovisual, onde o que dita moda deve obrigatoriamente estar ou passar na TV. O roteiro da vida das pessoas, em certo ponto, acaba se entrelaçando com o de personagens criados meramente para entreter. Não é difícil ver pelas ruas a discussão sobre as atitudes da personagem A ou B. Há aqueles que até discutem com a TV enquanto assistem a algum fato que irá “prejudicar” a vida desta personagem, como se pudesse preveni-lo de sofrer com algo. Em contrapartida, pouco ou nada se ouve da população discutindo sobre temas que deveriam ser pertinentes como a má educação oferecida pelas escolas públicas ou a atual política econômica que incide no grande número de desempregados do país.

As histórias sempre ocorrem num período cíclico. Acaba uma, inicia outra, que vai utilizar a mesma forma: a luta do bem contra o mal, releituras da vingança de Medéia contra Jasão. A parcela mais pobre da população vivendo feliz e politicamente correta em contraste com os mais ricos e suas sucessivas perdas.

A indústria do entretenimento acaba criando verdades universais. Para provar isto, basta ler alguma das histórias retratadas por algumas produtoras e comparar os produtos. Casos como a história de Pinóquio são gritantes. O livro aborda um “menino” um tanto perverso e egoísta, que é capaz de matar seu amigo. Já na animação ele demonstra seu lado egoísta, mas é subtraída sua perversidade, transpondo um ar mais ingênuo à personagem. Agora vá dizer isso a uma criança, ou mesmo um adulto que está acostumado com a versão açucarada consagrada pela Disney e Cia.

Alguns pensadores dizem que a TV foi pensada de forma capitalista, cujo objetivo maior seria comercializar produtos, contudo, sabendo que só a venda não atrairia atenção contínua, criaram os programas, levando assim o consumidor pensar exatamente o contrário: que o comercial surgiu para manter a produção dos programas.

Todos esses assuntos abordados estão presentes no filme “O show de Truman: o show da vida”, que mostra como o ser humano pode ser fútil e egoísta, acompanhando o sofrimento velado de Truman Burbank em sua vida pré-programada.

Estamos tão acostumados a ver essa exploração que, aos poucos, isso acaba ganhando status de normalidade. A idiotização do gosto da população está abrindo espaço para que cada vez mais isso seja consagrado como correto, fazendo assim o errado ser quem não acompanha a tendência. Quem não participa de assuntos relacionados a esse tipo de cultura está virando um “analfabeto cultural”.

Durante o filme, das muitas frases de efeito, duas chamaram mais minha atenção pela força que elas ganharam não só no contexto do filme, com também na vida real.

"(...) aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes...".

"(...) lá fora, a verdade é igual a do mundo que criei para você. As mesmas mentiras, as mesmas decepções...".

Será que estamos realmente predestinados aceitar a realidade que nos é apresentada como única?!

“Sim, ele é Deus, e eu sou louco, mas ninguém desconfia, pois disfarçamos muito bem, somos imortais, somos imortais (...) Deus, por favor, apareça na televisão...”.

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