A disciplina de férias prometia muita coisa, mas não tínhamos tempo para discutir todas as relações estabelecidas entre as sociedades e as mídias ao longo dos últimos setenta anos. Entretanto, as discussões e debates nas turmas Comunicação e Sociedade I e Comunicação e Sociedade II foram extremamente férteis e quem dera que tantos mais pudessem fazer este tipo de reflexão em torno da era da informação e da sociedade do consumo.
De todas as resenhas produzidas, escolhi a reflexão proposta por Júlio César e acredito que vocês também vão pensar alguns aspectos apontados por ele em seu provocante texto. Agora para vocês, uma reflexão a partir do filme O show de Truman, por Júlio César dos Santos Pais:
“Vida louca, vida, vida breve. Já que eu não posso te levar, quero que você me leve...”.
Vivenciamos hoje uma sociedade pautada pelo espetáculo. A grande massa da população, por algum motivo ainda não bem explicado, se tornou passiva diante de suas escolhas, deixando na mão de outros, decisões importantes em áreas como a cultura e educação.
Ela, sem perceber, acabou escrava do audiovisual, onde o que dita moda deve obrigatoriamente estar ou passar na TV. O roteiro da vida das pessoas, em certo ponto, acaba se entrelaçando com o de personagens criados meramente para entreter. Não é difícil ver pelas ruas a discussão sobre as atitudes da personagem A ou B. Há aqueles que até discutem com a TV enquanto assistem a algum fato que irá “prejudicar” a vida desta personagem, como se pudesse preveni-lo de sofrer com algo. Em contrapartida, pouco ou nada se ouve da população discutindo sobre temas que deveriam ser pertinentes como a má educação oferecida pelas escolas públicas ou a atual política econômica que incide no grande número de desempregados do país.
As histórias sempre ocorrem num período cíclico. Acaba uma, inicia outra, que vai utilizar a mesma forma: a luta do bem contra o mal, releituras da vingança de Medéia contra Jasão. A parcela mais pobre da população vivendo feliz e politicamente correta em contraste com os mais ricos e suas sucessivas perdas.
A indústria do entretenimento acaba criando verdades universais. Para provar isto, basta ler alguma das histórias retratadas por algumas produtoras e comparar os produtos. Casos como a história de Pinóquio são gritantes. O livro aborda um “menino” um tanto perverso e egoísta, que é capaz de matar seu amigo. Já na animação ele demonstra seu lado egoísta, mas é subtraída sua perversidade, transpondo um ar mais ingênuo à personagem. Agora vá dizer isso a uma criança, ou mesmo um adulto que está acostumado com a versão açucarada consagrada pela Disney e Cia.
Alguns pensadores dizem que a TV foi pensada de forma capitalista, cujo objetivo maior seria comercializar produtos, contudo, sabendo que só a venda não atrairia atenção contínua, criaram os programas, levando assim o consumidor pensar exatamente o contrário: que o comercial surgiu para manter a produção dos programas.
Todos esses assuntos abordados estão presentes no filme “O show de Truman: o show da vida”, que mostra como o ser humano pode ser fútil e egoísta, acompanhando o sofrimento velado de Truman Burbank em sua vida pré-programada.
Estamos tão acostumados a ver essa exploração que, aos poucos, isso acaba ganhando status de normalidade. A idiotização do gosto da população está abrindo espaço para que cada vez mais isso seja consagrado como correto, fazendo assim o errado ser quem não acompanha a tendência. Quem não participa de assuntos relacionados a esse tipo de cultura está virando um “analfabeto cultural”.
Durante o filme, das muitas frases de efeito, duas chamaram mais minha atenção pela força que elas ganharam não só no contexto do filme, com também na vida real.
"(...) aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes...".
"(...) lá fora, a verdade é igual a do mundo que criei para você. As mesmas mentiras, as mesmas decepções...".
Será que estamos realmente predestinados aceitar a realidade que nos é apresentada como única?!
“Sim, ele é Deus, e eu sou louco, mas ninguém desconfia, pois disfarçamos muito bem, somos imortais, somos imortais (...) Deus, por favor, apareça na televisão...”.
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