domingo, 10 de janeiro de 2010

Les enfants de Timpelback

Durante quinze anos fui educadora de crianças e professora de história. Olhando em retrospectiva para a minha primeira turma (1995) e buscando compará-la com as últimas (2009), percebo o quanto as crianças mudaram, mas principalmente, o quanto os pais também se modificaram.
Imagino se Émile Durkheim havia previsto estas modificações quando fez suas primeiras análises sobre a função da escola na sociedade. Para o sociólogo francês, a instituição escolar tinha um papel coercitivo, auxiliando na regulação e controle do comportamento das crianças, desta forma preparando-as para viver em sociedade. As formas de percepção, os sentidos e ações são impostas às crianças, desde cedo, primeiro pela família e depois na escola, para garantia de uma vida coletiva mais harmônica. Segundo Durkheim, a educação tem como objetivo formar o ser social e prepará-lo para a convivência coletiva.
E é aqui que introduzo o filme Les enfants de Timpelback. Este filme francês parece uma fábula dos dias de hoje, envolvendo família, crianças e escola numa crise de valores e na inexistência de limites em todos os âmbitos.
Apresentando pais agressivos, mães ausentes, famílias flexíveis demais, o filme mostra o quanto a ausência de regras transforma as crianças em pequenos ditadores ou em pessoas sem autonomia.
A sala de aula é um espaço coordenado por uma professora que não compreende as necessidades individuais de seus alunos, como também não valoriza as especificidades presentes em seus processos formativos.
E quem são as crianças? Em Timpelback existem crianças dóceis e educadas, mas estas pertencem às famílias amorosas e equilibradas, já as crianças que demonstram problemas de comportamento e falhas na sua moral pertencem às famílias de pais ausentes do processo educativo de seus filhos, os mesmos não podendo servir como exemplos de conduta adequada, dificultando a internalização das regras desejáveis para uma vida mais harmônica em sociedade.
As crianças de Timpelback poderiam ser as crianças de qualquer cidade. A ficção faz apenas uma releitura da nossa educação em crise. Tanto a família quanto a escola esquecem seus papéis referenciais e deixam-se seduzir pelo psicologismo que impregna muitos profissionais da educação e faz eco no discurso de muitos pais.
Nos últimos anos de sala de aula, percebi o quanto a responsabilidade pela educação das crianças era colocada nas mãos dos educadores, para alguns pais competia somente deseducar.
Le enfants de Timpelback guarda um final previsível: a ausência de regras gera a necessidade de novas regras. Talvez o sociólogo esteja certo. Vale a pena conferir tanto a obra do pensador da educação quanto o filme. Boas reflexões para todos nós.

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