quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Páscoa cristã a partir do olhar antropológico


Domingo passado estive na casa dos pais de meu marido e eles nos presentearam com grandes ovos de Páscoa. Apesar do presente, meu sogro disse: "estão fazendo da Páscoa um grande comércio e Jesus foi trocado por um coelho com ovos de chocolate". O comentário dele faz sentido principalmente quando lembramos que vivemos uma sociedade do consumo e na qual os valores religiosos tradicionais vão aos poucos sendo esquecidos, principalmente nos centros urbanos. 
Mas todos sabem o que é a Páscoa? A Páscoa é uma festa móvel intimamente relacionada ao Carnaval, de modo geral, a Páscoa[1] é comemorada quarenta e nove dias depois do Domingo de carnaval. Segundo Manfred Lurker ( 2003, p. 522-523) a Páscoa cristã tem duas raízes, uma pagã e outra judaica. Entre os pagãos era uma comemoração da primavera e seus cultos e ritos estavam associados aos ciclos lunares e solares. Como festa da primavera celebrava a entrada de um ano novo e assim foi mantida pela cultura judaica e pelos primeiros cristãos. Na Páscoa, os judeus também celebram o Êxodo-fuga do Egito, liderado por Moisés. O Domingo de Ramos celebra, na cultura cristã, a entrada de Jesus em Jerusalém durante o tempo de Páscoa. O povo judeu o recebeu acenando com ramos verdes e folhagens, sendo esta a origem para a benção dos ramos no domingo que abre a Semana Santa. Assim, o Domingo de Ramos é uma data muito importante, pois inicia as celebrações Pascais ocorrendo sete dias antes do Domingo de Páscoa. Outro dia importante neste ciclo é a Sexta-feira Santa, que acontece dois dias antes da comemoração da 
Fonte: Giotto. Domingo de Ramos.

Páscoa. A tabela abaixo apresenta um modelo de calendário da Semana Santa.
Domingo de Ramos
Segunda
Terça-Feira
Quarta-Feira Santa
Quinta-Feira Santa
Sexta-Feira da Paixão de Cristo
Sábado de Aleluia
Domingo de Páscoa
Quadro 1- A sucessão dos dias da Semana Santa Cristã.
A Semana Santa encontra-se após o ciclo do carnaval, nas chamadas “Festas da primavera”. Os elementos simbólicos envolvidos nos apontam para a noção de morte ritual e ressurreição, símbolos estes apropriados pelos primeiros cristãos.
Segundo o Dicionário Histórico de religiões (AZEVEDO, 2002, p. 284) não existe nenhum registro de celebração da Páscoa na época dos apóstolos de Jesus Cristo. Entretanto, com a extinção da geração que viveu com o Nazareno, foi necessário fixar uma data para a celebração da sua vida e morte. Durante o Concílio Ecumênico de Nicéia, no ano de 325, a Igreja católica decidiu que a celebração dos eventos da Paixão de Cristo deveria ocorrer no mesmo dia da semana que os evangelistas apontam como a data da sua ressurreição, ou seja: o domingo da celebração da Páscoa judaica. Assim, os festejos da Páscoa cristã foram estabelecidos a partir das raízes históricas dos hebreus.
Estaríamos aqui diante de um “tempo sagrado” que cumpriria a função primordial dos ritos e das festas religiosas: a reatualização de um evento sagrado: “O tempo sagrado é indefinidamente recuperável, indefinidamente repetível. Com cada festa periódica reencontra-se o mesmo tempo sagrado”. (ELIADE, 1974, p. 84).
Fonte: Rafael Sanzio. Ressuirreição de Cristo.
Mircea Eliade ainda aponta que a religião cristã renovou esta experiência, definindo um tempo litúrgico através da afirmação da historicidade da pessoa de Jesus Cristo e de seus contemporâneos, entre eles o próprio Judas Iscariotes que é anualmente resgatado enquanto personagem histórica fundamental para o drama da paixão de Cristo.
Riolando Azzi (1978, p. 118) define enquanto temas principais da Semana Santa: a ressurreição e a libertação da morte e do pecado: “Desse modo, o povo vivia na Semana Santa como se estivesse revivendo uma tragédia divino-humana. Eram dias em que toda a sociedade da época se envolvia na tristeza e no luto”. Esse sentido tem sido esquecido nas sociedades complexas, mas nas sociedades tradicionais, principalmente nas comunidades católicas do campo, os ritos são atualizados anualmente e percebemos a força da ideia criada em torno da paixão de Cristo.
ATENÇÃO: Citar o texto da seguinte forma:
MENDES, Andreia Regina Moura. Malhação do Judas. Rito e identidade. Natal: UFRN, 2007 (dissertação de mestrado).



Nenhum comentário:

Dia de Reis e os sentidos desse evento para nossa história

 Dia de Reis Magos e os sentidos desse evento para nossa história Está escrito no Evangelho de Mateus, 2:1, (...) eis que magos vieram do Or...