Domingo passado estive na casa dos pais de meu marido e eles nos presentearam com grandes ovos de Páscoa. Apesar do presente, meu sogro disse: "estão fazendo da Páscoa um grande comércio e Jesus foi trocado por um coelho com ovos de chocolate". O comentário dele faz sentido principalmente quando lembramos que vivemos uma sociedade do consumo e na qual os valores religiosos tradicionais vão aos poucos sendo esquecidos, principalmente nos centros urbanos.
Mas todos sabem o que é a Páscoa? A Páscoa é uma festa móvel
intimamente relacionada ao Carnaval, de modo geral, a Páscoa[1] é
comemorada quarenta e nove dias depois do Domingo de carnaval. Segundo Manfred
Lurker ( 2003, p. 522-523) a Páscoa cristã tem duas raízes, uma pagã e outra judaica.
Entre os pagãos era uma comemoração da primavera e seus cultos e ritos estavam
associados aos ciclos lunares e solares. Como festa da primavera celebrava a
entrada de um ano novo e assim foi mantida pela cultura judaica e pelos
primeiros cristãos. Na Páscoa, os judeus também celebram o Êxodo-fuga do Egito,
liderado por Moisés. O Domingo de Ramos celebra, na cultura cristã, a entrada
de Jesus em Jerusalém durante o tempo de Páscoa. O povo judeu o recebeu
acenando com ramos verdes e folhagens, sendo esta a origem para a benção dos
ramos no domingo que abre a Semana Santa. Assim, o Domingo de Ramos é uma data
muito importante, pois inicia as celebrações Pascais ocorrendo sete dias antes
do Domingo de Páscoa. Outro dia importante neste ciclo é a Sexta-feira Santa,
que acontece dois dias antes da comemoração da
Fonte: Giotto. Domingo de Ramos. |
Páscoa. A tabela abaixo
apresenta um modelo de calendário da Semana Santa.
Domingo de Ramos
|
Segunda
|
Terça-Feira
|
Quarta-Feira Santa
|
Quinta-Feira Santa
|
Sexta-Feira da Paixão de Cristo
|
Sábado de Aleluia
|
Domingo de Páscoa
|
Quadro 1- A sucessão dos dias da Semana Santa Cristã.
A
Semana Santa encontra-se após o ciclo do carnaval, nas chamadas “Festas da
primavera”. Os elementos simbólicos envolvidos nos apontam para a noção de
morte ritual e ressurreição, símbolos estes apropriados pelos primeiros
cristãos.
Segundo o Dicionário Histórico de religiões (AZEVEDO, 2002, p. 284) não
existe nenhum registro de celebração da Páscoa na época dos apóstolos de Jesus
Cristo. Entretanto, com a extinção da geração que viveu com o Nazareno, foi
necessário fixar uma data para a celebração da sua vida e morte. Durante o
Concílio Ecumênico de Nicéia, no ano de 325, a Igreja católica decidiu que a celebração
dos eventos da Paixão de Cristo deveria ocorrer no mesmo dia da semana que os
evangelistas apontam como a data da sua ressurreição, ou seja: o domingo da
celebração da Páscoa judaica. Assim, os festejos da Páscoa cristã foram
estabelecidos a partir das raízes históricas dos hebreus.
Estaríamos aqui diante de um “tempo sagrado” que
cumpriria a função primordial dos ritos e das festas religiosas: a
reatualização de um evento sagrado: “O
tempo sagrado é indefinidamente recuperável, indefinidamente repetível. Com
cada festa periódica reencontra-se o mesmo tempo sagrado”. (ELIADE, 1974,
p. 84).
Fonte: Rafael Sanzio. Ressuirreição de Cristo. |
Mircea Eliade ainda aponta que a religião cristã renovou
esta experiência, definindo um tempo litúrgico através da afirmação da
historicidade da pessoa de Jesus Cristo e de seus contemporâneos, entre eles o
próprio Judas Iscariotes que é anualmente resgatado enquanto personagem
histórica fundamental para o drama da paixão de Cristo.
Riolando Azzi (1978, p. 118) define enquanto temas
principais da Semana Santa: a ressurreição e a libertação da morte e do pecado:
“Desse modo, o povo vivia na Semana Santa
como se estivesse revivendo uma tragédia divino-humana. Eram dias em que toda a
sociedade da época se envolvia na tristeza e no luto”. Esse sentido tem sido esquecido nas sociedades complexas, mas nas sociedades tradicionais, principalmente nas comunidades católicas do campo, os ritos são atualizados anualmente e percebemos a força da ideia criada em torno da paixão de Cristo.
ATENÇÃO: Citar o texto da seguinte forma:
MENDES, Andreia Regina Moura. Malhação do Judas. Rito e identidade. Natal: UFRN, 2007 (dissertação de mestrado).
Nenhum comentário:
Postar um comentário