sexta-feira, 6 de abril de 2012

Fúria na mitologia: o cinema e a criação de novos mitos

O livro mais conhecido sobre mitologia, é sem dúvida a obra de Thomas Bulfinch, A idade das fábulas: histórias de deuses e heróis. O livro foi escrito no final do século XIX e até hoje é lido por aqueles que apreciam as histórias mitológicas de várias culturas.

Desde a infância que me interesso pelas culturas antigas, tanto que me graduei em História e sou mestre em Antropologia. Mas não busquei apenas nos livros, o que chamamos de cultura culta, as histórias e fábulas. O cinema nos encanta criando uma fantasmagoria do real, e no caso da mitologia, daquilo que mesmo parecendo fantasioso, em suas culturas guardava uma certa relação com o mundo do real, constituindo-se como uma forte representação.
Na década de 1980 um filme buscou representar a história de um semideus grego chamado Perseu: Fúria de Titãs. O filme se transformou em um clássico e até hoje é a melhor referência no cinema para tratar de mitologia.

E todos sabem quem foi Perseu? Segundo Bulfinch (2000, p.142), Perseu era filho de Zeus (Júpiter) e Dânae, uma mortal. A história do herói começa dentro de um drama, quando seu avô manda lançar sua mãe e o bebê ao mar, dentro de uma urna, para que fossem tragados pelo oceano. Entretanto, na condição de filho de uma divindade, o bebê é protegido por Zeus e chega junto com sua mãe até a praia onde são resgatados por um pescador.
Quando jovem, ele é chamado pelo rei Polidectes para combater a medusa, monstro que assolava o país. De uma donzela jovem de lindos cabelos, Medusa foi transformada em uma criatura assustadora por ter desafiado a deusa Atena (Minerva). No lugar de suas madeixas, surgiram terríveis serpentes venenosas e o seu olhar, que antes era tão cobiçado pelos homens, tornou-se letal para quem ousasse encará-la de frente.
 Medusa, Caravaggio.
Perseu, Benvenuto Cellini.
Após matar a Medusa, René Ménard (2000, p. 204) afirma que: "Quando Perseu lhe cortou a cabeça, o sangue que jorrou abundantemente produziu imediatamente um cavalo alado de nome Pégaso". De posse de Pégaso, Perseu voa até seu destino final, mas antes enfrenta Atlas e em seguida chega ao país dos etíopes. A rainha Cassiopéia havia irritado as ninfas, comparando sua beleza mortal com as delas e como punição, seu país seria arrasado por um monstro marinho. O rei, Cefeu, foi aconselhado a evitar a destruição de seu país expondo sua filha para o monstro, e assim procurou fazê-lo. Mas Perseu a viu presa no rochedo e pediu aos pais para livrar Andrômeda de seu castigo, prometendo combater o monstro que se aproximava em troca da mão da princesa. 
Perseu e Andrômeda, Carle Van Loo.

Os pais consentiram e Perseu desferiu vários golpes na criatura até que a matou. Seu presente, a mão da princesa Andrômeda e um dote real. A cabeça de medusa ainda foi usada contra o antigo noivo de Andrômeda que assaltou o banquete nupcial para exigir que Cefeu honrasse o antigo compromisso que havia assumido (BULFINCH, 2000, p.148-149).

Perseu e seus amigos combateram os adversários e com o auxílio da cabeça da Górgona, Perseu venceu mais este desafio e assim pode desfrutar de sua vida de herói ao lado de sua bela esposa.
É um dos heróis mais populares da antiguidade clássica. Na arte existem diversas esculturas, pinturas e objetos utilitários que tratam de seus feitos e conquistas.
Perseu e Andrômeda, Giorgio Vasari.

Em 2011, lançaram um novo filme que pretendia ser uma refilmagem de Clash of Titans (1981) entretanto, até onde assistimos, a mitologia grega ficou bem distante de ser destacada na obra e a releitura não aconteceu. Novos elementos foram inseridos, parte da história original foi esquecida e assim, apesar de ter conquistado novos fãs, os amantes do cinema da década de 1980 e principalmente os conhecedores de mitologia clássica não ficaram muito satisfeitos.
Ontem ousamos assistir no cinema a continuação dessa história: Fúria de Titãs 2, e todas as expectativas foram frustradas. Pensamos que dessa vez eles se distanciariam do mito original definitivamente e criariam algo novo, mas que tivesse alguma relação com as histórias mitológicas, entretanto, o que vimos foi um super herói, mais forte que um humano, mas resistente que os deuses e que com certeza, não se assemelha em nada ao jovem Perseu, que amei pelas histórias de mitologia e que materializei a partir do filme Clash of Titans. 

Os mitos fazem parte da história da humanidade desde os tempos mais remotos, mas será que a cultura de massa vai conseguir construir novos mitos? Algo assim provoca uma fúria nos amantes e estudiosos da mitologia clássica.
Para saber mais:
BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: A idade da fábula- Histórias de deuses e heróis. 11ª. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
MENÁRD, René. Mitologia greco-romana. São Paulo: Opus, 1997. vol.3.



 

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