quinta-feira, 26 de abril de 2012

A solidão na sociedade pós-industrial e a ideia de presença nas novas mídias sociais

Os imigrantes digitais nasceram em um mundo onde as duas formas de comunicação a distância que existiam eram a carta e o telefone. A carta exigia um emissor, um receptor e a mensagem. Lembro ainda do frenesi que as coleções de papel de carta provocaram na última geração analógica (a minha). Era comum na década de 1980 e ainda em 1990 as filhas da última geração analógica manterem pastas classificadoras cheias de papéis decorados, envelopes perfumados e adesivos com um brilho especial. Tínhamos muito papel de carta, mas quase ninguém escrevia neles, talvez por pena de usar aquele artefato tão valioso para nós, ou com medo de desperdiçar com alguém que não valia sequer uma carta.
Na verdade, na última geração, poucas pessoas conheciam alguém que morava além do perímetro dos bairros vizinhos da sua escola. Quando conhecia alguém distante, era um colega que tinha mudado de cidade por razões familiares. Então, quase nunca precisamos mandar cartas, estavam todos sempre tão perto e todos tão disponíveis.
Obra do pintor Vermeer.

Da mesma forma acontecia com o telefone. Poucas pessoas tinham condições de manter uma linha fixa em casa entre as décadas de 1970 e 1980. Apenas na década de 1990 houve uma democratização da telefonia fixa e logo os telefones invadiram as casas da classe média baixa. E quando estivesse na rua, bastava comprar fichas em uma cigarreira perto de um orelhão e fazer nossas chamadas telefônicas. O que é interessante é que alguns pais colocavam cadeado no telefone para impedir que os filhos ficassem horas pendurados nos fios, literalmente. Um fio unia pessoas, criava histórias e também servia para iludir os outros. Quantos trotes recebemos ou fizemos ao longo de nossa vida telefonada? Com a popularização da telefonia móvel as coisas de fato foram modificadas. Antes você marcava a hora que estaria em casa para receber as chamadas no telefone da sala. Hoje estamos disponíveis em qualquer lugar e as vezes, qualquer hora, através dos aparelhos de celular e smartphones. E com a internet, nem precisamos ficar online, basta que nosso endereço esteja disponível na world wide web.
Novas mídias, novas formas de comunicação e interação. Mas porque a solidão aumenta a cada dia? Não acredito no discurso apocalíptico defensor da ideia de que as mídias interativas provocam o fim dos laços sociais e que elas aumentam as chances das pessoas permanecerem isoladas no mundo. Não foi apenas a tecnologia da informática e da comunicação que mudou. As pessoas também mudaram. Não são apenas os novos devices que provocam a sensação de presença virtual, mesmo na ausência pessoal, mas as próprias pessoas fingem presença na ausência e as vezes estão ausentes quando presentes fisicamente.
É preciso que façamos um exame criterioso em nossa memória e que retomemos antigas práticas que eram comuns antes do advento das novas tecnologias para minimizar o impacto da solidão na vida das pessoas.
Digo isso por ter vivido nessa semana uma situação ímpar: mesmo morando a pouco mais de 100 metros da casa de minha mãe, mantivemos uma conversa através do chat a partir do meu smartphone e do pc da casa dela. Não teria sido mais simples caminhar um pouco, ter encontrado com ela pessoalmente e conversado aquele assunto trivial? Nós optamos pela solidão e quando não temos argumentos, colocamos a culpa nas mídias e acusamos a internet de ser o leviatã do novo tempo, tempo no qual a sociedade pós-industrial ao mesmo tempo que acelera os rumos da cibercultura, esquece que ao lado existe um ser humano que não dispensa um aperto de mão, um tapa no ombro e um sorriso meigo.

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