sábado, 26 de maio de 2012

Etnias na academia: tempo para discutir, refletir e exigir mudanças

Maio foi o mês escolhido para retomada dos debates sobre Etnicidade na academia. O primeiro foi a mesa redonda com o tema “Indígenas do RN – Contemporaneidade, avanços e perspectivas”. O grupo de Estudos da Questão Indígena do RN, PARAUPABA organizou o evento contando com o apoio do departamento de Antropologia da UFRN e do Museu Câmara Cascudo. Apesar da pouca cobertura feita pela mídia local, estudantes, pesquisadores e grupos indígenas marcaram sua presença e aqueceram o debate.
O próximo evento é dia 31 de maio e está sendo organizado pelo NAVIS -Núcleo de antropologia visual (DAN/PPGAS). A proposta é realizar uma roda de conversa com diversos atores envolvidos na questão da etnia cigana, entre eles "representantes e lideranças ciganas, gestores públicos, estudantes, professores e pesquisadores". O tema do evento é: "Ciganos : identidades, memórias e resistências". A professora Lisabete Coradini é a representante do departamento de Antropologia que irá conduzir as discussões. Haverá ainda uma exposição fotográfica e Mostra de filmes.  A programação começa a partir das 9h no Centro de Convivência e é aberta ao público geral.
Entretanto, é importante entender o que é uma etnia e qual a sua importância nas dinâmicas de nossa cultura.
Philipe Poutignat e Jocelyne Streiff-Fenart procuraram nos esclarecer sobre essa problemática em seu texto: O que é um grupo étnico? Vou aproveitar então para apresentar alguns aspectos levantados por esse texto.
A primeira questão que os autores levantam é o fato dos antropólogos não demonstrarem um forte interesse em procurar definir o que é uma etnia. O termo é usado desde os primórdios da antropologia para definir as sociedades tradicionais (também chamadas de primitivas). Entretanto, a forma como ele foi  empregado inicialmente mostrava uma espécie de negação da historicidade dessas sociedades.
Depois, outro equívoco foi levantado quando se procurou definir os campos de trabalho e pesquisa da antropologia e da sociologia. Enquanto a primeira cabia lançar o seu olhar sobre as ditas "sociedades sem história", "sociedades pré-industriais" e "comunidades", a sociologia se ocupava da "sociedade com história" e das "sociedades complexas".
Inicialmente os critérios utilizados para definir uma etnia foram:
  • língua;
  • espaço;
  • costumes;
  • nome;
  • mesma descendência;
  • consciência de pertencer ao mesmo grupo.
Esses critérios serviram apenas para tornar o conceito de etnia um dos mais confusos das ciências sociais, provocando pouca distinção entre o que é uma etnia, uma sociedade, uma cultura, uma formação social ou conjunto cultural.
Outro elemento que não deve ser esquecido diz respeito ao fato de que um conceito tão problemático é insuficiente para ser aplicado em algumas realidades muito específicas como as que são encontradas no continente africano.
Diante de tudo que foi colocado, o desafio proposto é desconstruir o objeto étnico. Segundo JeanBazin: "A etnia é um sujeito fictício que a etnologia contribuiu para fazer ser". Concordaremos com ele?
O que podemos concluir é que existe uma grande dificuldade até hoje em definir um critério único e válido para todas as realidades encontradas.. Mesmo utilizando o método de pesquisa para classificar, identificar, diferenciar e estabelecer as generalizações, ainda precisamos lembrar que uma etnia é feita por critérios marcados pela subjetividade, como o sentimento de pertencimento ao grupo e a crença na origem comum, como também por critérios bastante objetivos, entre eles os mais utilizados são: língua, etnônimo, independência econômica, organização política e contiguidade territorial.
São muitas as teorias da etnicidade, mas vale muito trazer a discussão para a academia com os próprios atores sociais, pois da polifonia poderemos ouvir novos conceitos de pertencimento e descobrir novas ações de afirmação identitária. Para as etnias indígena e cigana é sempre tempo de discutir, refletir e exigir mudanças.
Para saber mais: 

BANTON, Michael. A Ideia de Raça. Lisboa: Edições 70, 1977. 
BARTH, Fredrik; LASK, Tomke. O Guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contracapa, 2000
POUTIGNAT, Philipe. Teorias da Etnicidade. São Paulo: Unesp, 1998.
OLIVEIRA FILHO, João Pacheco - A Viagem da Volta. Etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro: Contracapa, 
LIMA, Antonio Carlos Souza.  Antropologia e Identificação: os antropólogos e a definição de terras indígenas no Brasil- 1977-2002 . Rio de Janeiro: Contracapa, 2005.

 

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