Este artigo foi publicado ano passado na Revista Inter-Legere. É o relato de duas experiências com o estudo sobre a África. Na época do Congresso de exposição deste trabalho, o professor Nelson Tomazzi teceu comentários positivos com a minha estimada colega Lenina sobre a importância destas propostas no Ensino Básico.
Espero que façam uma boa leitura.
REVISTA ELETRÔNICA INTER-LEGERE – NÚMERO 03 (JUL/DEZ 2008).
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A educação da diversidade nos níveis fundamental e médio
Autor: Andréia Regina Moura Mendes
A Lei N٥ 10.639, de 9 de janeiro de 2003 torna obrigatório na rede de ensino nacional o
estudo da “História e Cultura Afro-Brasileira”. Ao longo dos últimos anos desenvolvemos
diversas atividades que privilegiam o estudo do outro e o resgate de suas práticas culturais
e dinâmicas sociais.
O estudo sobre a África e o Brasil africano perpassa toda a estrutura curricular do
ensino fundamental e recebe o mesmo enfoque nas séries do ensino médio. Este relato
apresenta duas experiências efetivadas no ano de 2007 em duas realidades
socioeconômicas diferentes, vivenciadas em áreas distintas da Grande Natal. As
atividades foram desenvolvidas numa escola particular da capital e numa instituição
pública de ensino médio de Parnamirim. Estas experiências nos mostraram a importância
de educar o nosso aluno para olhar sobre a alteridade de forma que ele possa também
fazer o exercício relativista. Para a apreensão de determinados conceitos, como cultura,
identidade, patrimônio, trabalhamos com textos adaptados das ciências sociais e
levantamos diversas discussões antes da apresentação dos trabalhos.
A primeira experiência ocorreu no mês de outubro de 2007. O trabalho foi
desenvolvido em quatro salas de 7º ano, com um conjunto de 135 alunos. Como proposta
curricular, o livro didático oferece um capítulo sobre a História da África. Montamos um
programa de estudo e investigação que culminou com a apresentação dos dados obtidos
na forma de uma gincana cultural. O primeiro passo foi realizar a leitura e debate do
capítulo: “A África dos grandes reinos e impérios”, contido na obra didática “História das
REVISTA ELETRÔNICA INTER-LEGERE – NÚMERO 03 (JUL/DEZ 2008).
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cavernas ao terceiro milênio”.1 Após a aula expositiva e os comentários tecidos pela turma,
sugerimos a ampliação de nosso estudo com a coleta de dados sobre os vários aspectos
da cultura africana: lendas, mitologia, culinária, cultura material, obras literárias e de
pesquisa, além de música. Os alunos, divididos em grupos precisavam reunir estes dados
e organizá-los para a apresentação.
Uma das tarefas foi a elaboração do perfil socioeconômico das nações africanas,
abordadas no capítulo. Para tanto, utilizaram-se de atlas, enciclopédias e livros de
geografia para complementar o quadro exigido.
Outra tarefa oportunizou aos alunos abandonarem uma série de (pré) conceitos
estabelecidos em relação à religiosidade africana. Propomos uma coleta de dados sobre
as religiões e rituais de origem afro, com a elaboração de ensaio escrito e montagem de
mural sobre a presença destes ritos em duas expressões religiosas no país: o candomblé
e umbanda. O panteão de divindades chamou a atenção de muitos alunos que trataram de
estabelecer pontes com outras sociedades politeístas da antiguidade e do tempo atual.
Com a pesquisa pronta a apresentação da conclusão do trabalho foi na forma de uma
gincana cultural, que contou com o envolvimento de todos os alunos e a participação dos
pais na seleção de materiais, disponibilizando alguns objetos para o trabalho final. Com
esta atividade percebemos que o respeito e a tolerância precisam ser incentivados em
todas as séries do ciclo básico. Através do estudo da alteridade, podemos estimular o
aluno a enxergar um pouco mais de si dentro da própria humanidade.
A experiência seguinte desenvolveu-se no mês de novembro de 2007, em celebração
ao Dia Nacional da Consciência Negra. As atividades programadas para dois dias
envolveram 14 salas de aula de ensino médio de uma escola pública do município de
Parnamirim. Nesta atividade enfrentamos diversas dificuldades para mobilizar alunos e
demais professores. Apesar da resistência e falta de apoio de metade do corpo docente,
programamos a abertura com a professora de História e Cultura do RN para explicar aos
alunos o significado do Dia Nacional da Consciência Negra, a importância de Zumbi dos
Palmares e a resistência da cultura negra no Brasil.
1 BRAICK, Patrícia Ramos, MOTTA, Miriam Becho. História das cavernas ao terceirto milênio. São Paulo: Moderna, 2007.
REVISTA ELETRÔNICA INTER-LEGERE – NÚMERO 03 (JUL/DEZ 2008).
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Convidamos também uma aluna de um grupo remanescente quilombola para falar
sobre pertencimento étnico e identidade cultural. Em seguida, a professora de Língua
Portuguesa organizou um jogral com os alunos de duas salas de aula, a partir de um
poema escrito pelo supervisor escolar sobre a consciência negra. No final da primeira noite
do evento contamos com dois grupos de lutas de capoeira da cidade de Parnamirim. Na
noite seguinte, havia mais interesse por parte dos alunos sobre as atividades programadas
para aquele segundo dia. Mesmo com a crescente participação dos alunos, muitos
professores não compareceram ao trabalho na escola, o que demonstrou pouco
compromisso com as temáticas que seriam discutidas naquela ocasião. Para abrir a
programação convidamos o Sr. E., ex-integrante da banda X. para proferir uma palestra
sobre o preconceito na atual sociedade. Dando continuidade à programação, duas alunas
encenaram uma dança black que entusiasmou os jovens presentes. E fechando a noite,
mais uma roda de capoeira. Lembrando ainda que houve uma contextualização das
práticas culturais demonstradas.
As duas atividades colaboram para a necessidade de ampliação do debate sobre o
ensino e a aprendizagem da diversidade nas escolas públicas e privadas. Servem ainda
de modelos de experiências nas quais os temas relacionados a patrimônio imaterial,
cultura, identidade e etnicidade podem ser abordados respeitando a maturidade e grau de
aprofundamento de cada série envolvida. Um aluno que compreenda estes conceitos
pode encontrar-se mais preparado no futuro para lidar com uma sociedade pluralista e
multicultural.
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A educação da diversidade nos níveis fundamental e médio
Autor: Andréia Regina Moura Mendes
A Lei N٥ 10.639, de 9 de janeiro de 2003 torna obrigatório na rede de ensino nacional o
estudo da “História e Cultura Afro-Brasileira”. Ao longo dos últimos anos desenvolvemos
diversas atividades que privilegiam o estudo do outro e o resgate de suas práticas culturais
e dinâmicas sociais.
O estudo sobre a África e o Brasil africano perpassa toda a estrutura curricular do
ensino fundamental e recebe o mesmo enfoque nas séries do ensino médio. Este relato
apresenta duas experiências efetivadas no ano de 2007 em duas realidades
socioeconômicas diferentes, vivenciadas em áreas distintas da Grande Natal. As
atividades foram desenvolvidas numa escola particular da capital e numa instituição
pública de ensino médio de Parnamirim. Estas experiências nos mostraram a importância
de educar o nosso aluno para olhar sobre a alteridade de forma que ele possa também
fazer o exercício relativista. Para a apreensão de determinados conceitos, como cultura,
identidade, patrimônio, trabalhamos com textos adaptados das ciências sociais e
levantamos diversas discussões antes da apresentação dos trabalhos.
A primeira experiência ocorreu no mês de outubro de 2007. O trabalho foi
desenvolvido em quatro salas de 7º ano, com um conjunto de 135 alunos. Como proposta
curricular, o livro didático oferece um capítulo sobre a História da África. Montamos um
programa de estudo e investigação que culminou com a apresentação dos dados obtidos
na forma de uma gincana cultural. O primeiro passo foi realizar a leitura e debate do
capítulo: “A África dos grandes reinos e impérios”, contido na obra didática “História das
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cavernas ao terceiro milênio”.1 Após a aula expositiva e os comentários tecidos pela turma,
sugerimos a ampliação de nosso estudo com a coleta de dados sobre os vários aspectos
da cultura africana: lendas, mitologia, culinária, cultura material, obras literárias e de
pesquisa, além de música. Os alunos, divididos em grupos precisavam reunir estes dados
e organizá-los para a apresentação.
Uma das tarefas foi a elaboração do perfil socioeconômico das nações africanas,
abordadas no capítulo. Para tanto, utilizaram-se de atlas, enciclopédias e livros de
geografia para complementar o quadro exigido.
Outra tarefa oportunizou aos alunos abandonarem uma série de (pré) conceitos
estabelecidos em relação à religiosidade africana. Propomos uma coleta de dados sobre
as religiões e rituais de origem afro, com a elaboração de ensaio escrito e montagem de
mural sobre a presença destes ritos em duas expressões religiosas no país: o candomblé
e umbanda. O panteão de divindades chamou a atenção de muitos alunos que trataram de
estabelecer pontes com outras sociedades politeístas da antiguidade e do tempo atual.
Com a pesquisa pronta a apresentação da conclusão do trabalho foi na forma de uma
gincana cultural, que contou com o envolvimento de todos os alunos e a participação dos
pais na seleção de materiais, disponibilizando alguns objetos para o trabalho final. Com
esta atividade percebemos que o respeito e a tolerância precisam ser incentivados em
todas as séries do ciclo básico. Através do estudo da alteridade, podemos estimular o
aluno a enxergar um pouco mais de si dentro da própria humanidade.
A experiência seguinte desenvolveu-se no mês de novembro de 2007, em celebração
ao Dia Nacional da Consciência Negra. As atividades programadas para dois dias
envolveram 14 salas de aula de ensino médio de uma escola pública do município de
Parnamirim. Nesta atividade enfrentamos diversas dificuldades para mobilizar alunos e
demais professores. Apesar da resistência e falta de apoio de metade do corpo docente,
programamos a abertura com a professora de História e Cultura do RN para explicar aos
alunos o significado do Dia Nacional da Consciência Negra, a importância de Zumbi dos
Palmares e a resistência da cultura negra no Brasil.
1 BRAICK, Patrícia Ramos, MOTTA, Miriam Becho. História das cavernas ao terceirto milênio. São Paulo: Moderna, 2007.
REVISTA ELETRÔNICA INTER-LEGERE – NÚMERO 03 (JUL/DEZ 2008).
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Convidamos também uma aluna de um grupo remanescente quilombola para falar
sobre pertencimento étnico e identidade cultural. Em seguida, a professora de Língua
Portuguesa organizou um jogral com os alunos de duas salas de aula, a partir de um
poema escrito pelo supervisor escolar sobre a consciência negra. No final da primeira noite
do evento contamos com dois grupos de lutas de capoeira da cidade de Parnamirim. Na
noite seguinte, havia mais interesse por parte dos alunos sobre as atividades programadas
para aquele segundo dia. Mesmo com a crescente participação dos alunos, muitos
professores não compareceram ao trabalho na escola, o que demonstrou pouco
compromisso com as temáticas que seriam discutidas naquela ocasião. Para abrir a
programação convidamos o Sr. E., ex-integrante da banda X. para proferir uma palestra
sobre o preconceito na atual sociedade. Dando continuidade à programação, duas alunas
encenaram uma dança black que entusiasmou os jovens presentes. E fechando a noite,
mais uma roda de capoeira. Lembrando ainda que houve uma contextualização das
práticas culturais demonstradas.
As duas atividades colaboram para a necessidade de ampliação do debate sobre o
ensino e a aprendizagem da diversidade nas escolas públicas e privadas. Servem ainda
de modelos de experiências nas quais os temas relacionados a patrimônio imaterial,
cultura, identidade e etnicidade podem ser abordados respeitando a maturidade e grau de
aprofundamento de cada série envolvida. Um aluno que compreenda estes conceitos
pode encontrar-se mais preparado no futuro para lidar com uma sociedade pluralista e
multicultural.
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