quinta-feira, 26 de abril de 2012

A solidão na sociedade pós-industrial e a ideia de presença nas novas mídias sociais

Os imigrantes digitais nasceram em um mundo onde as duas formas de comunicação a distância que existiam eram a carta e o telefone. A carta exigia um emissor, um receptor e a mensagem. Lembro ainda do frenesi que as coleções de papel de carta provocaram na última geração analógica (a minha). Era comum na década de 1980 e ainda em 1990 as filhas da última geração analógica manterem pastas classificadoras cheias de papéis decorados, envelopes perfumados e adesivos com um brilho especial. Tínhamos muito papel de carta, mas quase ninguém escrevia neles, talvez por pena de usar aquele artefato tão valioso para nós, ou com medo de desperdiçar com alguém que não valia sequer uma carta.
Na verdade, na última geração, poucas pessoas conheciam alguém que morava além do perímetro dos bairros vizinhos da sua escola. Quando conhecia alguém distante, era um colega que tinha mudado de cidade por razões familiares. Então, quase nunca precisamos mandar cartas, estavam todos sempre tão perto e todos tão disponíveis.
Obra do pintor Vermeer.

Da mesma forma acontecia com o telefone. Poucas pessoas tinham condições de manter uma linha fixa em casa entre as décadas de 1970 e 1980. Apenas na década de 1990 houve uma democratização da telefonia fixa e logo os telefones invadiram as casas da classe média baixa. E quando estivesse na rua, bastava comprar fichas em uma cigarreira perto de um orelhão e fazer nossas chamadas telefônicas. O que é interessante é que alguns pais colocavam cadeado no telefone para impedir que os filhos ficassem horas pendurados nos fios, literalmente. Um fio unia pessoas, criava histórias e também servia para iludir os outros. Quantos trotes recebemos ou fizemos ao longo de nossa vida telefonada? Com a popularização da telefonia móvel as coisas de fato foram modificadas. Antes você marcava a hora que estaria em casa para receber as chamadas no telefone da sala. Hoje estamos disponíveis em qualquer lugar e as vezes, qualquer hora, através dos aparelhos de celular e smartphones. E com a internet, nem precisamos ficar online, basta que nosso endereço esteja disponível na world wide web.
Novas mídias, novas formas de comunicação e interação. Mas porque a solidão aumenta a cada dia? Não acredito no discurso apocalíptico defensor da ideia de que as mídias interativas provocam o fim dos laços sociais e que elas aumentam as chances das pessoas permanecerem isoladas no mundo. Não foi apenas a tecnologia da informática e da comunicação que mudou. As pessoas também mudaram. Não são apenas os novos devices que provocam a sensação de presença virtual, mesmo na ausência pessoal, mas as próprias pessoas fingem presença na ausência e as vezes estão ausentes quando presentes fisicamente.
É preciso que façamos um exame criterioso em nossa memória e que retomemos antigas práticas que eram comuns antes do advento das novas tecnologias para minimizar o impacto da solidão na vida das pessoas.
Digo isso por ter vivido nessa semana uma situação ímpar: mesmo morando a pouco mais de 100 metros da casa de minha mãe, mantivemos uma conversa através do chat a partir do meu smartphone e do pc da casa dela. Não teria sido mais simples caminhar um pouco, ter encontrado com ela pessoalmente e conversado aquele assunto trivial? Nós optamos pela solidão e quando não temos argumentos, colocamos a culpa nas mídias e acusamos a internet de ser o leviatã do novo tempo, tempo no qual a sociedade pós-industrial ao mesmo tempo que acelera os rumos da cibercultura, esquece que ao lado existe um ser humano que não dispensa um aperto de mão, um tapa no ombro e um sorriso meigo.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Televisão: primeiros usos e apropriações no século XX


A televisão: usos e apropriações no século XX.
                   A televisão foi a mídia que despontou na segunda metade do século XX e substituiu rapidamente os demais meios tanto em relação ao divertimento, quanto à informação. Até a Segunda Guerra Mundial, o rádio e o jornal impresso assumiam a liderança e conquistavam a atenção dos seus ouvintes e leitores por longas horas do dia. Entretanto, a televisão logo apareceu como um novo meio que se apropriava das outras formas de comunicação, aglutinando som, imagem e movimento em um único aparelho.
                   É importante refletir junto a Arlindo Machado (2003, p.19-20) sobre o  conceito do que é a televisão:
Televisão é um termo muito amplo, que se aplica a uma gama imensa de possibilidades de produção, distribuição e consumo de imagens e sons eletrônicos: compreende desde aquilo que ocorre nas grandes redes comerciais, estatais e intermediárias, sejam elas nacionais ou internacionais, abertas ou pagas, até o que acontece nas pequenas emissoras locais de baixo alcance, ou o que é produzido por produtores independentes e por grupos de intervenção em canais de acesso público. Para falar de televisão, é preciso definir o corpus, ou seja, o conjunto de experiências que definem o que estamos justamente chamando de televisão.

Nesse artigo quero refletir sobre a televisão e o desenvolvimento dessa mídia para que possamos compreendê-la dentro do paradigma da pós-modernidade na sociedade da informação.
 Segundo Briggs e Burke (2004:178- 180), a palavra televisão foi criada na França no ano de 1900. Entretanto ainda na primeira metade do século XIX, diferentes países realizavam experiências em torno da reprodução da imagem, como os primeiros experimentos de fotografia no ano de 1839. Assim, os primeiros aparelhos foram colocados à venda em 1920, mas apenas após o fim da Segunda Guerra Mundial ocorreu um maior investimento por parte dos países e de grandes organizações financeiras e empresas de eletro-eletrônicos.
Fonte: http://www.burohaus.com.br/blog/evolucao-aparelhos-tv/

Apesar da televisão ter chegado ao Brasil apenas na segunda metade do século passado, é interessante acompanhar o seu desenvolvimento. Para os historiadores Burke e Briggs (p.180-181):  “Quando, uma geração depois, a primeira propaganda apareceu na televisão, a situação havia mudado. Os aparelhos de TV (“televisores”) foram postos à venda no fim da década de 1920; antes disso não foram objeto de muita discussão”.
O responsável na Grã-Bretanha pela difusão dos aparelhos de televisão foi o inventor escocês John Logie Baird (1888-1946). Ele é o primeiro a obter em 1929 a permissão da BBC de Londres de lançar um pioneiro serviço de televisão experimental. Entretanto, a televisão se consolidou apenas no ano seguinte com a transmissão de uma peça de Pirandello em julho de 1930. (idem: 181)
A televisão tornou-se um meio de comunicação de massa na Europa e nos Estados Unidos a partir da década de 1950. Para Gontijo (2004: 404):

De 1945 a 1950, houve um grande investimento na fabricação de receptores e de equipamentos de captação e de transmissão de som e imagem. Foi nessa fase que os americanos definiram os padrões de transmissão e as mudanças na legislação para a regulamentação do setor. O crescimento da televisão na América do Norte foi muito além de qualquer estimativa otimista. De 1950 a 1960, o número de televisores passou de            um milhão para sessenta milhões e, em 1962, a TV já atingia 90% dos lares americanos.

 Esta é a época de chegada da televisão ao Brasil. Em 1950, Assis Chateaubriand inaugurou em São Paulo, a TV Tupi, a primeira emissora de televisão brasileira. Segundo Gontijo a televisão transformou-se num veículo de comunicação de massa, na década seguinte.  Para a autora (2004:415): “No Brasil, a TV foi um subproduto do rádio. (...) Aqui, ao contrário, o rádio era a supra-escola, e foi daí que vieram os primeiros técnicos e artistas que fizeram os primórdios da televisão brasileira.”
Fonte: http://cinetecacebrasil.blogspot.com.br/2010_04_04_archive.html

 A expansão deste meio de comunicação foi bastante rápida, até o final da década de 1950, já existiam dez emissoras de TV no Brasil, segundo Gontijo (idem: 417): “(...) a TV Excelsior, a primeira a ser administrada dentro dos padrões empresariais modernos e com uma grade de programação estável.”
O autor Arlindo Machado (2003:11) faz uma análise sobre o papel da televisão, ele destaca que:

Esquematicamente, pode-se abordar a televisão (da mesma forma de qualquer outro meio) de duas formas distintas. Pode-se tomá-la como um fenômeno de massa, de grande impacto na vida social moderna, e submetê-la a uma análise de tipo sociológico, para verificar a extensão de sua influência. (...) Mas também se pode abordar a televisão sob um outro viés,          como um dispositivo audiovisual através do qual uma     civilização pode exprimir a seus contemporâneos os seus próprios anseios e dúvidas, as suas crenças e descrenças, as suas inquietações, as suas descobertas e os voos de sua imaginação.

Ao longo de sua trajetória, a televisão teve vários defensores e inimigos. Mesmo diante dos impasses, a televisão foi considerada o meio de comunicação mais influente no século XX. O filósofo canadense Marshall McLuhan (1979) analisou os meios de comunicação como extensões do homem e afirmou ser a televisão uma presença constante na sociedade e capaz de exercer uma força unificadora sobre a vida de várias populações.
Entretanto, o filósofo francês Pierre Bourdieu demonstrou uma visão mais apocalíptica sobre a televisão, enxergando-a como uma ameaça às diferentes esferas da produção cultural, como a arte, a produção literária, à ciência, à filosofia e ao desenvolvimento do direito. Segundo Bourdieu (1997:22):

[...] a televisão exerce uma forma particularmente perniciosa de violência simbólica. A violência simbólica é uma violência que se exerce com a cumplicidade tácita dos que sofrem e também, com frequência, dos que a exercem, na medida em que uns e outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-la.

 Diante de acusações e defesas de “apocalípticos e integrados”, Burke e Brigss afirmam que (op.cit. 258):

 Educar, não entreter, esse permanecia o objetivo prioritário para alguns dos primeiros defensores da televisão contra as acusações de que ela exercia uma influência inevitavelmente corruptora da sociedade e da cultura, e de que levava os espectadores a gastar mais tempo com ela do que com outras atividades.

Fazemos uma ressalva que a preocupação de tornar a televisão uma ferramenta útil na educação esteve presente em vários países, desde o surgimento da televisão. A aplicação da televisão na educação, no Brasil, começou décadas depois. Ainda segundo Burke e Brigss (idem):

 O Japão criou um canal exclusivo, NHK, dedicado à educação pela televisão em 1957. A Grã-Bretanha tomou um caminho diferente e incorporou a educação na programação geral. A ideia de lançar um canal educativo em separado teve apoio de companhias independentes de televisão, mas encontrou oposição por parte do Comitê Pilkington.

O exemplo mais significativo nos Estados Unidos foi a experiência chamada de “Oficina de Televisão para Crianças. Sua criação foi apoiada pela Fundação Nuffield, e a série recebeu o nome de Sesame Street, o ano de lançamento foi 1969. Segundo Burke e Briggs (op.cit. p.249-250): 

Produto comercial, deliberadamente feito para entreter e educar, ensinando crianças de jardim de infância a ler, o programa dependia da cooperação de uma equipe e de colaboradores similares àquelas da Universidade Aberta. Durante sua longa vida, foi transmitido em 150 países e serviu de modelo para programas como Plaza Sesamo no México, Vila Sésamo no Brasil, Sesamstraat nos Países Baixos e Iftah Ya Simsi no Kwait, tornando-se ‘talvez a série de maior pesquisa na história da televisão’.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O que é sociologia: esquema explicativo


Nas próximas semanas, estarei disponibilizando meus resumos e esquemas explicativos utilizados nas minhas aulas de Antropologia, História e Sociologia. Espero assim contribuir cada vez com os meus leitores e amigos amantes das ciências humanas.
Para começar a semana, um esquema explicativo sobre o livro da coleção Primeiros Passos, O que é sociologia. Desejo muitas reflexões a todos:
  • 1-    O QUE É SOCIOLOGIA

  • O que é sociologia: uma introdução
  • Conjunto de conceitos, de técnicas e de métodos de investigação produzidos para explicar a vida social.
  • Tentativa de compreensão de situações sociais radicalmente novas, criadas pela sociedade capitalista.
  • Disciplina comprometida com intenções práticas, desejo de interferir nos rumos da civilização.
  • Projeto intelectual tenso e contraditório:
  • Uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes.
  • Expressão teórica dos movimentos revolucionários.
  • Considerada disfarce do marxismo e teoria da revolução (generais gregos).
  • Banida das universidades brasileiras (regime militar).
  • DEBATE ATUAL
  • Qual a dimensão política da Sociologia?
  • Qual a natureza da Sociologia?
  • Quais as conseqüências de seu envolvimento nos embates entre os grupos e as classes sociais?
  • De qual maneira os conceitos criados pelos sociólogos contribuem para manter ou alterar as relações de poder na sociedade?
  • O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
  • A ciência passa a refletir sobre o mundo social a partir do aparecimento da sociologia.
  • O surgimento desta ciência coincide com a desagregação da ordem feudal e consolidação do sistema capitalista.
  •  A dupla revolução (industrial e francesa) e a instalação da sociedade capitalista.
  • Surgimento da palavra sociologia apenas em 1830.
  • A revolução industrial provocou o aparecimento de novas formas de organização social, produzindo novas realidades para o homem da época: industrialização, urbanização, reordenação da sociedade rural, destruição da servidão, desmantelamento da família patricial, transformação da atividade artesanal em manufatureira, êxodo rural, trabalho infantil e feminino, desaparecimento dos pequenos proprietários rurais e artesãos independentes.
  • Consequências imediatas da revolução industrial: aumento do suicídio, prostituição, alcoolismo, infanticídio, da criminalidade, da violência, das epidemias.
  • O aparecimento do proletariado: contestações à nova ordem estabelecida.
  • Organização da classe operária em movimentos de revolta, manifestações públicas,  formação de associações, produção de jornais e panfletagem, greve.
  • As transformações postas pelas duas revoluções constituíram-se em problemas para investigação.
  • Os primeiros pensadores ingleses pregavam a ação para modificar a sociedade.
  • Os precursores da sociologia foram recrutados entre militantes políticos como Owen, William Thompson e Jeremy Bentham.
  • O surgimento da sociologia prende-se em parte aos abalos provocados pela revolução industrial, mas também às mudanças do pensamento, com o uso maior do racionalismo e emprego sistemático da observação e da experimentação.
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Referência bibliográfica:
MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1982.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Fúria na mitologia: o cinema e a criação de novos mitos

O livro mais conhecido sobre mitologia, é sem dúvida a obra de Thomas Bulfinch, A idade das fábulas: histórias de deuses e heróis. O livro foi escrito no final do século XIX e até hoje é lido por aqueles que apreciam as histórias mitológicas de várias culturas.

Desde a infância que me interesso pelas culturas antigas, tanto que me graduei em História e sou mestre em Antropologia. Mas não busquei apenas nos livros, o que chamamos de cultura culta, as histórias e fábulas. O cinema nos encanta criando uma fantasmagoria do real, e no caso da mitologia, daquilo que mesmo parecendo fantasioso, em suas culturas guardava uma certa relação com o mundo do real, constituindo-se como uma forte representação.
Na década de 1980 um filme buscou representar a história de um semideus grego chamado Perseu: Fúria de Titãs. O filme se transformou em um clássico e até hoje é a melhor referência no cinema para tratar de mitologia.

E todos sabem quem foi Perseu? Segundo Bulfinch (2000, p.142), Perseu era filho de Zeus (Júpiter) e Dânae, uma mortal. A história do herói começa dentro de um drama, quando seu avô manda lançar sua mãe e o bebê ao mar, dentro de uma urna, para que fossem tragados pelo oceano. Entretanto, na condição de filho de uma divindade, o bebê é protegido por Zeus e chega junto com sua mãe até a praia onde são resgatados por um pescador.
Quando jovem, ele é chamado pelo rei Polidectes para combater a medusa, monstro que assolava o país. De uma donzela jovem de lindos cabelos, Medusa foi transformada em uma criatura assustadora por ter desafiado a deusa Atena (Minerva). No lugar de suas madeixas, surgiram terríveis serpentes venenosas e o seu olhar, que antes era tão cobiçado pelos homens, tornou-se letal para quem ousasse encará-la de frente.
 Medusa, Caravaggio.
Perseu, Benvenuto Cellini.
Após matar a Medusa, René Ménard (2000, p. 204) afirma que: "Quando Perseu lhe cortou a cabeça, o sangue que jorrou abundantemente produziu imediatamente um cavalo alado de nome Pégaso". De posse de Pégaso, Perseu voa até seu destino final, mas antes enfrenta Atlas e em seguida chega ao país dos etíopes. A rainha Cassiopéia havia irritado as ninfas, comparando sua beleza mortal com as delas e como punição, seu país seria arrasado por um monstro marinho. O rei, Cefeu, foi aconselhado a evitar a destruição de seu país expondo sua filha para o monstro, e assim procurou fazê-lo. Mas Perseu a viu presa no rochedo e pediu aos pais para livrar Andrômeda de seu castigo, prometendo combater o monstro que se aproximava em troca da mão da princesa. 
Perseu e Andrômeda, Carle Van Loo.

Os pais consentiram e Perseu desferiu vários golpes na criatura até que a matou. Seu presente, a mão da princesa Andrômeda e um dote real. A cabeça de medusa ainda foi usada contra o antigo noivo de Andrômeda que assaltou o banquete nupcial para exigir que Cefeu honrasse o antigo compromisso que havia assumido (BULFINCH, 2000, p.148-149).

Perseu e seus amigos combateram os adversários e com o auxílio da cabeça da Górgona, Perseu venceu mais este desafio e assim pode desfrutar de sua vida de herói ao lado de sua bela esposa.
É um dos heróis mais populares da antiguidade clássica. Na arte existem diversas esculturas, pinturas e objetos utilitários que tratam de seus feitos e conquistas.
Perseu e Andrômeda, Giorgio Vasari.

Em 2011, lançaram um novo filme que pretendia ser uma refilmagem de Clash of Titans (1981) entretanto, até onde assistimos, a mitologia grega ficou bem distante de ser destacada na obra e a releitura não aconteceu. Novos elementos foram inseridos, parte da história original foi esquecida e assim, apesar de ter conquistado novos fãs, os amantes do cinema da década de 1980 e principalmente os conhecedores de mitologia clássica não ficaram muito satisfeitos.
Ontem ousamos assistir no cinema a continuação dessa história: Fúria de Titãs 2, e todas as expectativas foram frustradas. Pensamos que dessa vez eles se distanciariam do mito original definitivamente e criariam algo novo, mas que tivesse alguma relação com as histórias mitológicas, entretanto, o que vimos foi um super herói, mais forte que um humano, mas resistente que os deuses e que com certeza, não se assemelha em nada ao jovem Perseu, que amei pelas histórias de mitologia e que materializei a partir do filme Clash of Titans. 

Os mitos fazem parte da história da humanidade desde os tempos mais remotos, mas será que a cultura de massa vai conseguir construir novos mitos? Algo assim provoca uma fúria nos amantes e estudiosos da mitologia clássica.
Para saber mais:
BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: A idade da fábula- Histórias de deuses e heróis. 11ª. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
MENÁRD, René. Mitologia greco-romana. São Paulo: Opus, 1997. vol.3.



 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Páscoa cristã a partir do olhar antropológico


Domingo passado estive na casa dos pais de meu marido e eles nos presentearam com grandes ovos de Páscoa. Apesar do presente, meu sogro disse: "estão fazendo da Páscoa um grande comércio e Jesus foi trocado por um coelho com ovos de chocolate". O comentário dele faz sentido principalmente quando lembramos que vivemos uma sociedade do consumo e na qual os valores religiosos tradicionais vão aos poucos sendo esquecidos, principalmente nos centros urbanos. 
Mas todos sabem o que é a Páscoa? A Páscoa é uma festa móvel intimamente relacionada ao Carnaval, de modo geral, a Páscoa[1] é comemorada quarenta e nove dias depois do Domingo de carnaval. Segundo Manfred Lurker ( 2003, p. 522-523) a Páscoa cristã tem duas raízes, uma pagã e outra judaica. Entre os pagãos era uma comemoração da primavera e seus cultos e ritos estavam associados aos ciclos lunares e solares. Como festa da primavera celebrava a entrada de um ano novo e assim foi mantida pela cultura judaica e pelos primeiros cristãos. Na Páscoa, os judeus também celebram o Êxodo-fuga do Egito, liderado por Moisés. O Domingo de Ramos celebra, na cultura cristã, a entrada de Jesus em Jerusalém durante o tempo de Páscoa. O povo judeu o recebeu acenando com ramos verdes e folhagens, sendo esta a origem para a benção dos ramos no domingo que abre a Semana Santa. Assim, o Domingo de Ramos é uma data muito importante, pois inicia as celebrações Pascais ocorrendo sete dias antes do Domingo de Páscoa. Outro dia importante neste ciclo é a Sexta-feira Santa, que acontece dois dias antes da comemoração da 
Fonte: Giotto. Domingo de Ramos.

Páscoa. A tabela abaixo apresenta um modelo de calendário da Semana Santa.
Domingo de Ramos
Segunda
Terça-Feira
Quarta-Feira Santa
Quinta-Feira Santa
Sexta-Feira da Paixão de Cristo
Sábado de Aleluia
Domingo de Páscoa
Quadro 1- A sucessão dos dias da Semana Santa Cristã.
A Semana Santa encontra-se após o ciclo do carnaval, nas chamadas “Festas da primavera”. Os elementos simbólicos envolvidos nos apontam para a noção de morte ritual e ressurreição, símbolos estes apropriados pelos primeiros cristãos.
Segundo o Dicionário Histórico de religiões (AZEVEDO, 2002, p. 284) não existe nenhum registro de celebração da Páscoa na época dos apóstolos de Jesus Cristo. Entretanto, com a extinção da geração que viveu com o Nazareno, foi necessário fixar uma data para a celebração da sua vida e morte. Durante o Concílio Ecumênico de Nicéia, no ano de 325, a Igreja católica decidiu que a celebração dos eventos da Paixão de Cristo deveria ocorrer no mesmo dia da semana que os evangelistas apontam como a data da sua ressurreição, ou seja: o domingo da celebração da Páscoa judaica. Assim, os festejos da Páscoa cristã foram estabelecidos a partir das raízes históricas dos hebreus.
Estaríamos aqui diante de um “tempo sagrado” que cumpriria a função primordial dos ritos e das festas religiosas: a reatualização de um evento sagrado: “O tempo sagrado é indefinidamente recuperável, indefinidamente repetível. Com cada festa periódica reencontra-se o mesmo tempo sagrado”. (ELIADE, 1974, p. 84).
Fonte: Rafael Sanzio. Ressuirreição de Cristo.
Mircea Eliade ainda aponta que a religião cristã renovou esta experiência, definindo um tempo litúrgico através da afirmação da historicidade da pessoa de Jesus Cristo e de seus contemporâneos, entre eles o próprio Judas Iscariotes que é anualmente resgatado enquanto personagem histórica fundamental para o drama da paixão de Cristo.
Riolando Azzi (1978, p. 118) define enquanto temas principais da Semana Santa: a ressurreição e a libertação da morte e do pecado: “Desse modo, o povo vivia na Semana Santa como se estivesse revivendo uma tragédia divino-humana. Eram dias em que toda a sociedade da época se envolvia na tristeza e no luto”. Esse sentido tem sido esquecido nas sociedades complexas, mas nas sociedades tradicionais, principalmente nas comunidades católicas do campo, os ritos são atualizados anualmente e percebemos a força da ideia criada em torno da paixão de Cristo.
ATENÇÃO: Citar o texto da seguinte forma:
MENDES, Andreia Regina Moura. Malhação do Judas. Rito e identidade. Natal: UFRN, 2007 (dissertação de mestrado).



terça-feira, 3 de abril de 2012

Uma pequena análise sobre a TV digital interativa, seus discursos e problemáticas.


Na sociedade da informação e do conhecimento é necessário uma análise sócio-antropológica sobre o processo de implantação de uma nova mídia interativa: a TV digital.
Em 2003 o governo brasileiro anunciou a implantação da TV digital interativa no Brasil, desde então algumas reflexões foram levantadas em torno desta nova tecnologia midiática.
A produção de ensaios, artigos e obras de análise sobre a TV digital é recente e cresce na mesma medida que esta tecnologia é implantada em algumas das principais cidades brasileiras. A partir de 2004 encontramos alguns trabalhos, como a tese de Doutorado em Engenharia da Produção (UFSC-2004) de Fernando Antonio Crocomo, intitulada TV digital e produção interativa: a comunidade recebe e manda notícias. O trabalho de Crocomo segue a perspectiva da inclusão digital com a produção da programação televisiva a partir dos interesses das comunidades. Um outro trabalho numa perspectiva voltada mais para a crítica da cultura é o de Luis Carlos Cancellier de Olivo. Seu livro chama-se Reglobalização do Estado e da sociedade em rede na era do acesso. Uma obra importante para a compreensão do papel do governo na implantação desta nova tecnologia em consonância com os contextos globais de desenvolvimento e interação. No mesmo ano encontramos o trabalho de Ângelo Augusto Ribeiro, chamado A TV Digital como Instrumento para a Universalização do Conhecimento. O autor aponta para a possibilidade de produção de conhecimentos e a democratização dos saberes que pode ser difundido a partir desta nova mídia. Por último o trabalho de Valdecir Becker e Carloz Montez, chamado, TV Digital Interativa: conceitos, desafios e perspectivas para o Brasil, nos fornece os primeiros subsídios para uma análise crítica em torno desta primeira fase da TV digital no Brasil.

A TV digital é uma nova tecnologia midiática apresentada como um novo campo de interatividade entre o espectador e a programação da televisão. Ainda não se encontra consolidada em todo o território, entretanto a produção de discursos por parte do governo reconhece a TV digital como uma possível ferramenta de inclusão social, interação, produção de conhecimento e socialização dos saberes, ampliando as esferas de democratização a partir da cultura midiática. O elemento que mais nos chama atenção são as possibilidades de transformação do espectador em produtor de conhecimento e transmissor de saberes. Entretanto, após anos de estudos em diversos centros espalhados pelo Brasil, a maioria da população desconhece os benefícios dessa que seria a TV para democratizar os conteúdos.
Percebemos que as primeiras reflexões foram realizadas pelos pesquisadores da região sul, entretanto, nos últimos anos, a região nordeste apresenta o crescimento do interesse em torno do mesmo tema, posto em análise pelas áreas da comunicação social, computação e engenharias. 
 Nesta região, o destaque é o Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (LAVID) criado em 2003 na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atualmente o LAVID é uma referência nacional e internacional na área de desenvolvimento de tecnologia para TV Digital. As pesquisas desenvolvidas são realizadas em parceria com outras universidades, institutos de pesquisa e empresas da iniciativa privada. Integrando pesquisadores das diversas áreas do saber na análise dos processos de produção da TV digital, o LAVID tem como uma de suas perspectivas a promoção de propostas de inclusão digital. No estado do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte amplia o seu olhar sobre esse novo objeto tendo como centro de estudos e aplicações as engenharias.
 O nosso interesse é na relação entre as culturas e as tecnologias digitais, pois uma de nossas preocupações são as dinâmicas sociais que são postas em prática a partir do desenvolvimento desta nova tecnologia midiática. É do nosso interesse conhecer estas novas práticas culturais como também fazer uma análise crítica das representações produzidas em torno da TV digital.
Inicialmente levantamos algumas reflexões sobre a história social da mídia e é interessante que cada leitor lembre-se dos impactos dos novos meios em todas as sociedades, desde a invenção da imprensa até o advento das mídias interativas. Outro elemento interessante é buscar entender o processo de implantação da TV digital no Brasil, analisando os discursos produzidos sobre esta nova mídia e realizando uma reflexão crítica em torno da produção de sentidos e representações na “era do acesso”.  Apesar do discurso do estado apontar para a possibilidade de inclusão social através da transformação do espectador em produtor de conhecimento e de saberes uma grande parte da população brasileira não tem acesso ainda ao computador, sendo categorizados com excluídos da cultura digital, como irão participar desse novo processo? Que políticas públicas estão sendo elaboradas para reduzir as fronteiras entre os que participam da cultura digital e aqueles que ainda vivem dentro de um sistema analógico? Lanço estas questões para provocar todos vocês.
Minha primeira inquietação é pensar como uma nova tecnologia midiática subsidiada pelo governo em parceria com a iniciativa privada pode tornar-se um mecanismo de inclusão social e democratização do acesso? Eu ainda não tenho a chave para responder esta pergunta, mas acredito que dentro das ciências sociais pode surgir novos estudos e debates em torno desta nova tecnologia midiática. A importância dessa discussão se insere na urgência de debates e reflexões em torno das perspectivas levantadas por diferentes grupos em torno da implantação da TV digital interativa na região nordeste, como também pela necessidade da análise das dinâmicas sociais que poderão ser produzidas a partir desta nova mídia.
Cabe ressaltar que a produção de sentidos a partir das relações da sociedade com a mídia é uma antiga preocupação das ciências humanas. Estudiosos das ciências sociais, filosofia e comunicação como Walter Benjamim, Theodor Adorno, Pierre Bordieu e Umberto Eco foram os primeiros a suscitarem sérias reflexões acerca da “era da reprodutibilidade técnica” (BENJAMIN, 1996), construindo uma crítica substantiva sobre a indústria cultural (ADORNO, 2002) e o “mercado de bens simbólicos” (BORDIEU, 1974), além de auxiliarem na elaboração de uma teoria da comunicação (ECO, 2009).
A “era da reprodutibilidade técnica” transformou-se no século XXI na “era do acesso”, principalmente a partir do advento da rede mundial de computadores no final do século XX. Segundo Walter Benjamin:
No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência. (1996, p. 169).
Atualmente percebe-se um movimento no sentido da construção de uma antropologia da comunicação visual (CANEVACCI, 2001), e de uma crítica à cultura das mídias (SANTAELLA, 2003). A construção da realidade social na modernidade perpassa o papel da cultura da mídia (CORCUFF, 2001), entretanto, a própria sociedade não está passiva diante da produção de sentidos e representações realizada por esta cultura (KELLNER, 2001), ela mesma cria dispositivos que podem ser acionados no sentido de realização de uma crítica midiática (BRAGA, 2006).
Neste contexto, é necessário ressaltar alguns aspectos em torno do tema dessa discussão. A TV digital configura-se como uma nova forma de se fazer televisão. Esta tecnologia utiliza-se de um novo sistema de codificação baseado numa plataforma de estruturação interativa alimentada pela rede mundial de computadores.
Atualmente existem três sistemas de transmissão da TV digital no mundo: o sistema ATSC, produzido nos Estados Unidos, o sistema DVB, de origem européia e finalmente o sistema ISDBT, criado pelos japoneses. Desde 1998 a Universidade de São Paulo estuda novas tecnologias para a transcodificação do modelo da TV analógica para a TV digital.
O governo brasileiro fez a opção de utilizar-se do padrão japonês para a construção da plataforma da TV digital no território nacional. O padrão brasileiro é conhecido como SBTDT, sendo o Brasil o primeiro país do bloco BRIC a lançar a TV digital interativa. É interessante conhecer as motivações políticas de adoção desse sistema que de acordo com o trabalho de Renato Cruz, favoreceu diretamente os radiodifusores.
Vários são os discursos produzidos em torno da TV digital interativa no Brasil. Cabe aqui ressaltar o discurso do estado que apresenta um prognóstico positivo em torno da implantação da TV digital, caracterizando-a como uma importante ferramenta de inclusão social, ressaltando ainda o desenvolvimento do “governo eletrônico”, o que poderá democratizar o acesso da sociedade brasileira aos serviços e bens culturais produzidos pelo estado. 
A provocação foi feita, sugiro aos interessados buscar os artigos e livros produzidos e descobrir um pouco mais sobre essa mídia interativa além dos aspectos técnicos e potencialidade para o consumo de bens e serviços. O olhar sobre a TV digital precisa ser crítico, ressaltando que se todos reclamam da TV aberta e de suas mazelas e desserviço, o modelo que está proposto não será muito diferente. Espero que o refrão da música dos Titãs não se concretize com a nova mídia em tempo ainda incerto.

Dia de Reis e os sentidos desse evento para nossa história

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