A
televisão: usos e apropriações no século XX.
A televisão foi a mídia que
despontou na segunda metade do século XX e substituiu rapidamente os demais
meios tanto em relação ao divertimento, quanto à informação. Até a Segunda
Guerra Mundial, o rádio e o jornal impresso assumiam a liderança e conquistavam
a atenção dos seus ouvintes e leitores por longas horas do dia. Entretanto, a
televisão logo apareceu como um novo meio que se apropriava das outras formas
de comunicação, aglutinando som, imagem e movimento em um único aparelho.
É importante refletir junto a
Arlindo Machado (2003, p.19-20) sobre o conceito do que é a televisão:
Televisão
é um termo muito amplo, que se aplica a uma gama imensa de possibilidades de
produção, distribuição e consumo de imagens e sons eletrônicos: compreende
desde aquilo que ocorre nas grandes redes comerciais, estatais e
intermediárias, sejam elas nacionais ou internacionais, abertas ou pagas, até o
que acontece nas pequenas emissoras locais de baixo alcance, ou o que é
produzido por produtores independentes e por grupos de intervenção em canais de
acesso público. Para falar de televisão, é preciso definir o corpus, ou seja, o
conjunto de experiências que definem o que estamos justamente chamando de
televisão.
Nesse artigo quero refletir
sobre a televisão e o desenvolvimento dessa mídia para que possamos
compreendê-la dentro do paradigma da pós-modernidade na sociedade da
informação.
Segundo Briggs e Burke
(2004:178- 180), a palavra televisão foi criada na França no ano de 1900.
Entretanto ainda na primeira metade do século XIX, diferentes países realizavam
experiências em torno da reprodução da imagem, como os primeiros experimentos
de fotografia no ano de 1839. Assim, os primeiros aparelhos foram colocados à
venda em 1920, mas apenas após o fim da Segunda Guerra Mundial ocorreu um maior
investimento por parte dos países e de grandes organizações financeiras e
empresas de eletro-eletrônicos.
Apesar da televisão ter
chegado ao Brasil apenas na segunda metade do século passado, é interessante
acompanhar o seu desenvolvimento. Para os historiadores Burke e Briggs
(p.180-181): “Quando, uma geração depois, a primeira propaganda apareceu na
televisão, a situação havia mudado. Os aparelhos de TV (“televisores”) foram
postos à venda no fim da década de 1920; antes disso não foram objeto de muita
discussão”.
O
responsável na Grã-Bretanha pela difusão dos aparelhos de televisão foi o
inventor escocês John Logie Baird (1888-1946). Ele é o primeiro a obter em 1929
a permissão da BBC de Londres de lançar um pioneiro serviço de televisão
experimental. Entretanto, a televisão se consolidou apenas no ano seguinte com
a transmissão de uma peça de Pirandello em julho de 1930. (idem: 181)
A televisão tornou-se um meio
de comunicação de massa na Europa e nos Estados Unidos a partir da década de
1950. Para Gontijo (2004: 404):
De 1945
a 1950, houve um grande investimento na fabricação de receptores e de
equipamentos de captação e de transmissão de som e imagem. Foi nessa fase que
os americanos definiram os padrões de transmissão e as mudanças na legislação
para a regulamentação do setor. O crescimento da televisão na América do Norte
foi muito além de qualquer estimativa otimista. De 1950 a 1960, o número de
televisores passou de um milhão
para sessenta milhões e, em 1962, a TV já atingia 90% dos lares americanos.
Esta é a época de chegada da
televisão ao Brasil. Em 1950, Assis Chateaubriand inaugurou em São Paulo, a TV
Tupi, a primeira emissora de televisão brasileira. Segundo Gontijo a televisão
transformou-se num veículo de comunicação de massa, na década seguinte. Para a autora (2004:415): “No Brasil, a TV foi um subproduto do rádio.
(...) Aqui, ao contrário, o rádio era a supra-escola, e foi daí que vieram os
primeiros técnicos e artistas que fizeram os primórdios da televisão
brasileira.”
A expansão deste meio de
comunicação foi bastante rápida, até o final da década de 1950, já existiam dez
emissoras de TV no Brasil, segundo Gontijo (idem: 417): “(...) a TV Excelsior, a primeira a ser administrada dentro dos padrões
empresariais modernos e com uma grade de programação estável.”
O autor
Arlindo Machado (2003:11) faz uma análise sobre o papel da televisão, ele
destaca que:
Esquematicamente,
pode-se abordar a televisão (da mesma forma de qualquer outro meio) de duas
formas distintas. Pode-se tomá-la como um fenômeno de massa, de grande impacto
na vida social moderna, e submetê-la a uma análise de tipo sociológico, para
verificar a extensão de sua influência. (...) Mas também se pode abordar a televisão
sob um outro viés, como um
dispositivo audiovisual através do qual uma civilização
pode exprimir a seus contemporâneos os seus próprios anseios e dúvidas, as suas
crenças e descrenças, as suas inquietações, as suas descobertas e os voos de
sua imaginação.
Ao longo de sua trajetória, a
televisão teve vários defensores e inimigos. Mesmo diante dos impasses, a
televisão foi considerada o meio de comunicação mais influente no século XX. O
filósofo canadense Marshall McLuhan (1979) analisou os meios de comunicação
como extensões do homem e afirmou ser a televisão uma presença constante na
sociedade e capaz de exercer uma força unificadora sobre a vida de várias
populações.
Entretanto, o filósofo francês
Pierre Bourdieu demonstrou uma visão mais apocalíptica sobre a televisão,
enxergando-a como uma ameaça às diferentes esferas da produção cultural, como a
arte, a produção literária, à ciência, à filosofia e ao desenvolvimento do
direito. Segundo Bourdieu (1997:22):
[...] a
televisão exerce uma forma particularmente perniciosa de violência simbólica. A
violência simbólica é uma violência que se exerce com a cumplicidade tácita dos
que sofrem e também, com frequência, dos que a exercem, na medida em que uns e
outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-la.
Diante de acusações e defesas de “apocalípticos e
integrados”, Burke e Brigss afirmam que (op.cit. 258):
Educar,
não entreter, esse permanecia o objetivo prioritário para alguns dos primeiros
defensores da televisão contra as acusações de que ela exercia uma influência
inevitavelmente corruptora da sociedade e da cultura, e de que levava os
espectadores a gastar mais tempo com ela do que com outras atividades.
Fazemos uma ressalva que a preocupação de tornar a
televisão uma ferramenta útil na educação esteve presente em vários países,
desde o surgimento da televisão. A aplicação da televisão na educação, no Brasil,
começou décadas depois. Ainda segundo Burke e Brigss (idem):
O Japão criou um canal exclusivo, NHK,
dedicado à educação pela televisão em 1957. A Grã-Bretanha tomou um caminho
diferente e incorporou a educação na programação geral. A ideia de lançar um
canal educativo em separado teve apoio de companhias independentes de
televisão, mas encontrou oposição por parte do Comitê Pilkington.
O exemplo mais significativo nos
Estados Unidos foi a experiência chamada de “Oficina de Televisão para
Crianças. Sua criação foi apoiada pela Fundação Nuffield, e a série recebeu o
nome de Sesame Street, o ano de lançamento foi 1969. Segundo Burke e Briggs
(op.cit. p.249-250):
Produto
comercial, deliberadamente feito para entreter e educar, ensinando crianças de
jardim de infância a ler, o programa dependia da cooperação de uma equipe e de
colaboradores similares àquelas da Universidade Aberta. Durante sua longa vida,
foi transmitido em 150 países e serviu de modelo para programas como Plaza
Sesamo no México, Vila Sésamo no Brasil, Sesamstraat nos Países Baixos e Iftah
Ya Simsi no Kwait, tornando-se ‘talvez a série de maior pesquisa na história da
televisão’.