Tradicionalmente,
a política republicana brasileira é marcada por práticas assistencialistas.
Herdadas dos tempos dos coronéis, elas chegaram ao século XXI com novas
roupagens e atualizações, e continuam se multiplicando através de uma série de
“políticas públicas”.
Recentemente,
a moça que faz coleta de materiais recicláveis em meu bairro veio aqui em casa
e perguntou se meu candidato a vereador poderia pagar três contas de energia
elétrica para ela. Juntas, somavam mais de R$170,00. A pergunta não me pegou de
surpresa e de imediato expliquei que meu candidato a vereador não tinha esse
tipo de prática eleitoreira, mas que ela devia procurar um dos atuais
vereadores na câmara, contar de sua dificuldade em manter o sustento da casa e
de seus três filhos coletando recicláveis e pedir para ela um emprego, uma
ocupação, algo que lhe garantisse uma vida com mais qualidade.
Ela
até demonstrou algum entusiasmo e disse que faria isso no mesmo dia. Caso eu
não a encontre passando por essa rua, posso pensar muitas coisas, a primeira,
que ela conseguiu uma ocupação diferente falando com o tal do vereador e assim,
poderá mudar um pouco a condição de pobreza que vive; a segunda, que ela não
gostou de minha sugestão e resolveu mudar de rua durante a coleta. A última,
que foi atendida pelo vereador, recebeu o dinheiro para pagar seus impostos
atrasados e vai continuar coletando recicláveis na sua carroça com seus dois
meninos pequenos.
Ted Mundorf http://www.allposters.com/-sp/Spear-Fisher-Posters_i8904532_.htm |
Então,
qual é o ponto de reflexão? Quero pensar sobre a necessidade de se elaborar
políticas públicas sociais que conduzam a um tipo de prática e que as mesmas
possam inserir essas pessoas, jovens e adultas no mercado de trabalho. Não é
possível continuar vivendo uma política de “doação de peixe”. As políticas
públicas sociais devem “ensinar a pescar”, instrumentalizando o povo para a
construção de uma nova possibilidade de existência e afastando-o do espectro da
submissão e miséria.
Exigir
políticas públicas que "ensinem a pescar" é uma obrigação de cada
cidadão. A política assistencialista não propicia bom crescimento, penalizando
uma classe inteira com a alta dos impostos e deixando a outra à margem das
decisões, mas muito próxima das espinhas intragáveis dos peixes doados.
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