Mais um ano eleitoral e mais uma vez somos convidados para refletir sobre a política que queremos e a democracia que vivemos. Já estamos ouvindo os carros de som com suas paródias, alguns de músicas de gosto duvidoso. Também vemos faixas, outdoors, santinhos com fotos tratadas no photoshop, ou não e excelentes adjetivações como amigo, companheiro, parceiro, irmão, honesto, confiante, leal e por aí vai.
Como já disse anteriormente, comecei a exercer minha cidadania enquanto eleitora apenas aos 19 anos de idade, mas nunca me ocorreu tirar proveito do direito conquistado a menos de um século pela classe feminina. Antes de ter meu título de eleitora, acreditava que a falha da política estava no povo, que escolhia mal os seus candidatos. Cheguei até a blasfemar contra o voto livre e desejei que retornasse o sistema censitário. Claro que isso era devaneio de quem tinha pouca leitura e pouco conhecimento do que de fato é política.
Minha visão do processo é ampla e crítica e não me apego mais ao partidarismo. Estou preocupada com o projeto pessoal do político e das possibilidades de sua aplicação dentro de uma câmara ou assembleia. E como a política é feita de homens e mulheres, é interessante também buscar a trajetória daquele ser humano que irá parcialmente representar os anseios e demandas da coletividade. Digo parcialmente porque nem tudo que precisamos e ansiamos entra na agenda política do estado ou da legenda que votamos. E sabemos a razão disso.
Então, não é hora para estereótipos ou paixões políticas cegas, mas para importantes reflexões. O momento é de perceber que vivemos um dos modelos políticos mais marcados por processos de corrupção, desvio de verba e nepotismo. O exemplo de hoje? A câmara de deputados aprovou uma liminar que impede a divulgação de seus salários. Onde está a transparência política? Onde está a lei do acesso? Ela funciona para qualquer sujeito menos para um parlamentar?
Acho impressionante o quanto o governo controla cada centavo a mais que o trabalhador e a classe média ganham, para nos taxar com impostos para aumentar a renda de quem? dos deputados? As eleições não são para a câmara, mas é hora de dar o troco. Faça um exame na sua trajetória de vida, veja o quanto estudou, trabalhou, batalhou e quantos direitos realmente você tem assegurado pelos políticos que dizem nos representar.
Se estudou em escola pública depois da década de 1990 encontrou uma instituição sucateada, mas se teve acesso ao ensino particular, de melhor qualidade, foi a custa dos rendimentos e esforços da própria família. Saúde? só se for para quem tem carteira de plano de saúde. Muitos gastam 1/3 dos ganhos da família pagando por um serviço que é assegurado pela constituição. Segurança? Confie em Deus, no seu cachorro e nas suas grades, por que o estado não vai atender as suas necessidades nem na rua nem na sua casa.
E transporte? Ou abastece seu carro toda semana para trabalhar e estudar, ou o jeito é pegar aquele GOL, (grande ônibus lotado). Num país que foi avaliado como um dos mais favoráveis para investir no transporte ferroviário, vemos trens sucateados e linhas desativadas em todo o território. Mas o IPI está reduzido e você pode pagar por um carro financiado em 60 parcelas e ao final perceber que pagou um sedan no lugar do básico que você tem na garagem.
Entende porque é preciso refletir na hora de escolher um candidato? Não se apegue ao estereótipo, se apegue a trajetória política e pessoal, as alianças que esse candidato estabeleceu ao longo de sua vida e principalmente, se ele alguma vez já se colocou contra os direitos da coletividade, se detectou algo, saiba que é hora de criar uma política mais justa e digna e que só faremos isso quando acabarmos com as chances de candidatos assim se manterem no poder, mesmo que seja através dos aliados políticos como os vereadores.
E como fazia tempo que eu estava com tudo isso preso na ponta dos dedos, vou encerrar com uma definição de política que não é de dicionário de estudante, mas sim do Dicionário de Sociologia:
Política:
Política é o processo social através do qual poder coletivo é gerado, organizado, distribuído e usado nos sistemas sociais. Na maioria das sociedades, é organizada sobretudo em torno da instituição ESTADO, embora este fenômeno seja relativamente recente. Nas sociedades feudais, por exemplo, o Estado era muito fraco e subdesenvolvido, e o poder político cabia principalmente aos nobres, vassalos e clero, cujas esferas de influência eram bem definidas pela extensão de suas terras.
Embora seja associado com mais frequência a instituições de governo nos níveis internacional, regional e comunitário, o conceito de política pode ser aplicado a virtualmente todos os sistemas sociais nos quais o poder representa papel importante. Podemos, por conseguinte, fazer perguntas sobre a política da vida familiar e da sexualidade, a "política" de escritório, a política universitária ou mesmo a política da arte e da música. Este último argumento tem importância especial porque chama atenção para o fato de que todos os sistemas sociais têm uma ESTRUTURA DE PODER, e não apenas aqueles cujas funções sociais são formalmente definidas em termos de posse.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
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