Semanas atrás comprei um raro exemplar do livro Nomes da terra: História, geografia e toponímia do Rio Grande do Norte, de Luís da Câmara Cascudo. A edição é de 1968 e é até hoje a obra mais antiga sobre a origem dos municípios potiguares.
Muitos dos meus ex-alunos tanto da universidade pública quanto da privada, já me questionaram sobre o papel de Cascudo enquanto historiador. Eu sempre defendi que ele é de fato um pioneiro nas pesquisas etnográficas e um grande investigador da cultura popular brasileira.
Mas o ofício de historiador exige alguns conhecimentos específicos que são resultado de nossos estudos sobre historiografia e teoria histórica, que bem sabemos que o mestre Cascudo não teve acesso durante sua formação acadêmica. Mesmo assim, ninguém se compara ao seu grau de erudição e de interesse pela cultura do Rio Grande do Norte e do Brasil.
Suas pesquisas com a aplicação de sua metodologia baseada na tradição oral forneceu pistas que outros seguiram e puderam realizar novos trabalhos, com um olhar mais aguçado pelas lentes da transição entre os séculos XX e XXI.
Algumas coisas ainda me incomodam quando lembro do papel de Cascudo para o Rio Grande do Norte. A primeira delas é o silêncio na maioria das áreas do saber acadêmico que tratam dos aspectos humanos de nossa história. Lembro que anos atrás orientei um aluno em um trabalho sobre crendices populares no futebol e quando o mesmo foi apresentar seu artigo acabou sendo criticado por uma professora da universidade pública por ter citado Cascudo em suas referências de estudo.
O segundo aspecto que muito me chama atenção é o quanto partes de sua obra são apropriadas por outros que dizem fazer algo inédito, quando na verdade apenas transcrevem ou fazem paráfrase sobre o que Cascudo já tinha escrito muitas décadas atrás. Até mesmo órgãos do governo, que deveriam dedicar algum tempo em fazer um levantamento sobre as fontes que tratam de nossa história, simplesmente copiam trechos cascudianos sem sequer citar a obra consultada.
Ainda ouviremos falar muito de Câmara Cascudo, entretanto o mais importante é que suas contribuições enquanto pesquisador sejam sempre valorizadas e conhecidas por todos nós através de uma divulgação coerente com os ofícios que o mestre da cultura desempenhou.
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