segunda-feira, 19 de março de 2012

África na história da arte: uma sugestão de trabalho



Como historiadora e antropóloga sempre lanço meu olhar para a produção da arte e a reflexão estética em torno deste fazer. É interessante notar que nos livros de história da arte, mesmo os grandes manuais e as obras já consagradas, abordam as artes apenas como uma construção simbólica ocidental e começam a apresentação dos temas a partir das civilizações orientais ou das civilizações clássicas (gregos e romanos). Mesmo quando a obra destaca a arte no antigo Egito, não há uma referência clara a sua elaboração enquanto expressão de povos do continente africano. Outras obras já começam a sua história da arte a partir da Europa medieval (HODGE: 2009), mantendo uma visão eurocêntrica em torno do que é  o fazer artístico.
Claro que isso se constitui em um entrave para a educação das artes africanas ou afro-brasileira na educação básica. Como pode o professor polivalente ou o professor formado nos cursos de artes e história tratar das culturas e das artes do continente africano sem referenciais teóricos e materiais de fácil acesso e compreensão?
 A nossa sugestão é que o professor se volte para a produção da cultura material das diversas etnias e grupos sociais que compõem o continente africano, valorizando o saber fazer e possibilitando ao seu aluno um olhar mais relativista sobre a cultura do doutro.
Como primeiro exemplo, temos a ideia de um estudo sobre o uso e a função da máscara nas sociedades africanas. Na educação básica, este estudo pode ser feito tendo como pano de fundo o tema do carnaval ou o tema da semana santa, onde aparece os mascarados tanto malhadores do Judas, como papangus. Essa é também uma possibilidade instigante a aproximação da arte de uma  percepção mais antropológica, transformando o trabalho em uma atividade interdisciplinar. O trabalho pode desenvolver-se a partir de uma coleta de dados sobre os usos e funções das máscaras nas culturas africanas e ser finalizado com a elaboração, por parte dos alunos de suas próprias máscaras a partir de técnicas e materiais sugeridos pelo professor em sala. Segundo Manfred Lurker: 
O costume de usar máscaras, passível de comprovação desde a época das pinturas rupestres até o carnaval de hoje, baseia-se na tentativa de passar do mundo subjetivo ao mundo objetivo, apoderar-se das forças de determinados seres por meio de sua representação ou de proteger o próprio eu das forças ameaçadoras do ocultamento, disfarce ou intimidação. (LURKER, 2003:424).
Após a coleta de dados, a discussão sobre os diferentes resultados encontrados conduziria os alunos para novas descobertas sobre o desenvolvimento da arte e da produção material nas sociedades africanas e lhes daria a condição de partir para o trabalho de transformar seu conhecimento em algo concreto com a confecção de sua própria máscara em diversos materiais ou na elaboração de desenhos com o tema máscara. Ao final, uma exposição dos trabalhos produzidos e uma apresentação do texto coletivo construído pelos alunos marcaria uma nova aprendizagem e possibilitaria um olhar mais compreensível sobre a dimensão artística das culturas do continente africano e de seus descendentes no Brasil.



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