quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Natal em Natal?

25 de novembro de 2009...contagem regressiva para os cristãos de todo o mundo celebrarem o nascimento de Jesus de Nazaré.
Falando enquanto historiadora, sabemos que as fontes que tratam do mais importante evento do ocidente são poucas e com muitas lacunas, mas em quase 2 mil anos, a tradição se renova e o evento é reencenado, seja nas mentes ou nos palcos da vida.
A cidade de Natal tem uma relação muito particular com a data oficial de celebração do nascimento de Jesus de Nazaré. A capital potiguar foi fundada em 25 de dezembro de 1599 por ordem do Rei Felipe II. A história local conta que primeiro foi erguida uma fortaleza de taipa para fazer frente aos corsários franceses e aos indígenas rebelados. Expulsos os primeiros, pacificados os segundos, Jerônimo de Albuquerque cumprindo ordens de Manuel Mascarenhas Homem, marcha até uma elevação diante do Rio Potengi e funda a Cidade do Natal, ou a Cidade dos Santos Reis, a Cidade de Santiago.
Em 2009, quando a cidade faz 410 anos não vemos motivos para celebrar o duplo nascimento. O Natal em Natal é um Natal sem luz e sem identidade. Referências múltiplas e confusas se misturam em nossas avenidas, e o que poderia compor um excelente presépio mas parece uma tentativa de apagar as lembranças feitas de outros Natais. Os antigos faraós no Egito buscavam apagar as marcas deixadas pelos regentes anteriores. Em Natal até os Reis Magos do Viaduto de Ponta Negra tombaram, de nada importa terem eles seguido a estrela que anunciava a boa nova.
Sendo natalense e historiadora faço muitas reflexões quando atravesso todos os dias metros e metros de papel prata dispostos como uma tenda sobre a BR 101. Uso os conhecimentos em antropologia para a defesa da diversidade cultural, mas nem mesmo os primeiros antropólogos saberiam explicar quais são os elementos culturais que predominam na cidade, caso tomassem como análise os símbolos que se encontram espalhados em canteiros, árvores e postes: duendes característicos das tradições celtas e germanas, anjos nanicos e infantilizados portando instrumentos musicais nordestinos, sol, signo da criação e renascimento em várias civilizações surge com chapéu natalino, serafins alongados tocam trombetas mudas. E aí vem minha pergunta: Natal em Natal? Talvez em outro Natal quando os Três Reis Magos se erguerem novamente para renovar a fé de todos em uma boa nova.

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