Como historiadora e antropóloga sempre lanço meu olhar para a produção da arte e a reflexão estética em torno deste fazer. É interessante notar que nos
livros de história da arte, mesmo os grandes manuais e as obras já consagradas,
abordam as artes apenas como uma construção simbólica ocidental e começam a
apresentação dos temas a partir das civilizações orientais ou das civilizações
clássicas (gregos e romanos). Mesmo quando a obra destaca a arte no antigo
Egito, não há uma referência clara a sua elaboração enquanto expressão de povos
do continente africano. Outras obras já começam a sua história da arte a partir
da Europa medieval (HODGE: 2009), mantendo uma visão eurocêntrica em torno do
que é o fazer artístico.
Claro
que isso se constitui em um entrave para a educação das artes africanas ou afro-brasileira na
educação básica. Como pode o professor polivalente ou o professor formado nos
cursos de artes e história tratar das culturas e das artes do continente africano sem
referenciais teóricos e materiais de fácil acesso e compreensão?
A
nossa sugestão é que o professor se volte para a produção da cultura material
das diversas etnias e grupos sociais que compõem o continente africano, valorizando o saber fazer e possibilitando ao seu aluno um olhar mais relativista sobre a cultura do doutro.
Como
primeiro exemplo, temos a ideia de um estudo sobre o uso e a função da máscara
nas sociedades africanas. Na educação básica, este estudo pode ser feito tendo
como pano de fundo o tema do carnaval ou o tema da semana santa, onde aparece os mascarados tanto malhadores do Judas, como papangus. Essa é também uma possibilidade
instigante a aproximação da arte de uma percepção mais antropológica, transformando o trabalho em uma atividade interdisciplinar. O trabalho
pode desenvolver-se a partir de uma coleta de dados sobre os usos e funções das
máscaras nas culturas africanas e ser finalizado com a elaboração, por parte
dos alunos de suas próprias máscaras a partir de técnicas e materiais sugeridos
pelo professor em sala. Segundo Manfred Lurker:
O costume de usar máscaras,
passível de comprovação desde a época das pinturas rupestres até o carnaval de
hoje, baseia-se na tentativa de passar do mundo subjetivo ao mundo objetivo,
apoderar-se das forças de determinados seres por meio de sua representação ou
de proteger o próprio eu das forças ameaçadoras do ocultamento, disfarce ou
intimidação. (LURKER, 2003:424).
Após a coleta de dados, a discussão sobre os diferentes resultados encontrados conduziria os alunos para novas descobertas sobre o desenvolvimento da arte e da produção material nas sociedades africanas e lhes daria a condição de partir para o trabalho de transformar seu conhecimento em algo concreto com a confecção de sua própria máscara em diversos materiais ou na elaboração de desenhos com o tema máscara. Ao final, uma exposição dos trabalhos produzidos e uma apresentação do texto coletivo construído pelos alunos marcaria uma nova aprendizagem e possibilitaria um olhar mais compreensível sobre a dimensão artística das culturas do continente africano e de seus descendentes no Brasil.