quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Um pouco de história e relativismo cultural faz muito bem

Anos atrás fui acusada de admirar muito a raça humana. Disseram até que eu tinha mais fé no homem do que na divindade. Naquele momento me senti mais humanista e antropocentrista do que nunca. Eu já estava atuando no campo da antropologia social, mas ainda me espantava com o meu próprio etnocentrismo e preconceitos.
Mas mesmo assim, acreditava muito na nossa raça e a cada dia sentia mais curiosidade por estudar as suas dinâmicas e práticas culturais. Entretanto, me deparei com um lado bastante obscuro da nossa humanidade: a intolerância diante do diferente e quanto mais investigava sobre as culturas, mais me assombrava com o crescimento de atitudes que já deviam ter sido banidas de nossa esfera social.
Quando me tornei professora de Antropologia, no ano de 2008, firmei um compromisso comigo de que sempre trataria dos perigos que existem em uma sociedade que apresenta uma postura etnocêntrica. Enquanto historiadora, procurei também apresentar exemplos contextualizados historicamente do estranhamento do homem diante do próprio homem e das crises, genocídios e terror que isso provocou durante a nossa trajetória no planeta.
Ultimamente não precisamos recorrer aos clássicos da antropologia ou até mesmo aos manuais de história para comentar sobre o enfrentamento que as sociedades travam contra aquilo que é julgado diferente. Infelizmente os grupos que abandonam o exercício do relativismo demonstram um comportamento que é danoso para a sua própria elaboração mas acima de tudo no seu reconhecimento enquanto participante de uma identidade planetária.
Os tristes episódios que estamos acompanhando na internet contra os nordestinos apenas reforçam a necessidade de se pensar em uma política pública de combate ao preconceito e a intolerância  e de valorização das diversas identidades regionais e culturais que permeiam a nossa sociedade.
Em um país multicultural e de formação étnica tão diversificada, não podemos deixar de exigir uma revisão de nossa história nacional. Quando este projeto foi pensado, ainda no século XIX, privilegiou-se determinados setores e atores sociais e apresentou outros sujeitos históricos como participantes menores. Esta visão histórica ainda predomina e quanto maior o desconhecimento sobre os processos que nos formaram enquanto povo, mais o preconceito e a violência ganham espaço na cultura.
Um exemplo disso são os livros do jornalista Leandro Narloch. Sua visão estreita, limitada e estereotipada de nossa história tem provocado debates inúteis e acima de tudo, promovido uma desconstrução das contribuições de uma historiografia séria e atuante.
Em um país no qual a ignorância e os baixos índices de escolaridade são tão gritantes, aquele que consegue projetar na mídia falsas verdades acaba por provocar um prejuízo ainda maior em uma visão crítica em torno dos papéis históricos que outros grupos étnicos que nos formaram, como negros e indígenas. Mais uma vez, o ciclo de preconceito, intolerância e violência é alimentado e acreditamos que diante de tudo isso um pouco de história e relativismo cultural faz muito bem.

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