quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Historiando as mídias

A produção do sentido a partir das relações da sociedade com a mídia é uma antiga preocupação das ciências humanas. Estudiosos das ciências sociais, filosofia e comunicação como Walter Benjamim, Theodor Adorno, Pierre Bourdieu e Umberto Eco foram os primeiros a suscitarem sérias reflexões acerca da “era da reprodutibilidade técnica” (BENJAMIN, 1996), construindo uma crítica substantiva sobre a indústria cultural (ADORNO, 2002) e o “mercado de bens simbólicos” (BOURDIEU, 1974), além de auxiliarem na elaboração de uma teoria da comunicação (ECO, 2009).


A “era da reprodutibilidade técnica” transformou-se no século XXI na “era do acesso”, principalmente a partir do advento da rede mundial de computadores no final do século XX. Segundo Walter Benjamin: “No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência”. (1996:169). Acompanhamos cada dia não somente o avanço da tecnologia e das formas de comunicação e informação, mas a própria transformação da sociedade ocidental e o surgimento de um novo paradigma.

Dito isto, a tarefa de construção desse texto constitui-se num esforço para aproximar as Ciências Sociais da História, projeto antigo e que havia sido debatido por Fernand Braudel e antes dele por François Simiand (BRAUDEL, 1982). Nesse capítulo, pretendemos discutir como o homem inicia o seu processo comunicacional, inserindo nele as práticas de ensinagem. Pretendemos ainda tratar do aparecimento dos meios de comunicação estabelecendo a relação entre as mídias e a educação na atual sociedade.

O trabalho do pesquisador da cultura é identificar as formas de elaboração das representações, sentidos e significados conferidos pelos homens e mulheres ao longo do tempo às suas dinâmicas culturais e práticas sociais (PESAVENTO, 2005). Entre essas práticas encontra-se a educação, organizada em um processo de ensino-aprendizagem, existente desde as culturas tradicionais, com o conjunto de saberes transmitido através da história oral e nas sociedades complexas e letradas.

Com o desenvolvimento das primeiras sociedades em aproximadamente 3.500 antes da era comum, podemos perceber que em diferentes partes do mundo, os homens iniciaram o processo de registro da sua oralidade com o aparecimento da escrita, seja ela pictográfica, ideográfica, hieroglífica ou alfabética; para isso, utilizaram diferentes tipos de materiais de acordo com a disponibilidade de recursos naturais, modificando suas formas de percepção em torno da realidade.

Refletindo sobre as transformações que acompanham a humanidade ao longo de sua trajetória, Gontijo nos indica que (2004:399-400):

O objeto central dessas mudanças é o próprio ser humano e sua capacidade simbólica. As sociedades se estruturam através de um tecido simbólico cujos fios são a língua e todos os diferentes aspectos da cultura, inclusive as religiões. A capacidade de comunicar articulando sons providos de significado é o que distingue dos outros animais, e a nossa linguagem é o resultado da habilidade de raciocinar a respeito de nós mesmos.
O aparecimento da escrita é considerado por muitos pesquisadores, o evento fundador da ideia de civilização na antiguidade (BURNS, LERNER, MEACHAM, 2005). Entretanto, é preciso relativizar esta questão, principalmente por reconhecermos o valor que deve ser atribuído às outras sociedades que se desenvolveram ao longo dos séculos, desconhecendo, ou até mesmo desconsiderando o papel da escrita.

Ao mesmo tempo que várias sociedades descobriram diferentes processos para realizar os registros escritos de suas culturas, outros povos na atualidade permanecem fazendo uso de outros sistemas de transmissão de conhecimento, principalmente aqueles baseados na tradição oral. Amadou Hampatê Bâ (2010:221) nos indica em passagem de seu artigo:

Quando falamos de tradição em relação à história africana, referimo-nos à tradição oral, e nenhuma tentativa de penetrar a história e o espírito dos povos africanos terá validade a menos que se apóie nessa herança de conhecimentos de toda espécie, pacientemente transmitidos de boca a ouvido, de mestre a discípulo ao longo dos séculos. Essa herança ainda não se perdeu e reside na memória da última geração de grandes depositários, de quem se pode dizer, são a memória viva da África.

Esta discussão pode ser ampliada em outro momento, pensando dentro da sociedade da informação com as novas mídias e o cenário de convergência.



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