Fico imaginando os demorados processos que levavam todos a crer que determinada pessoa tinha atingido o patamar de um sábio. Isso geralmente levava décadas ou até mesmo a vida inteira para que alguém fosse reconhecido como detentor de um saber maior e diferenciado.
Nas sociedades de tradição oral, o mestre levava anos ensinando aos seus discípulos suas histórias e percepções sobre a realidade que os circundava. Cada discípulo tinha por missão continuar esta tarefa, que caracterizava um tempo demasiado longo de formação e transmissão.
Já o advento da escrita em muitas sociedades, possibilitou organizar a produção cultural de cada povo e criar centros para estudo, preservação e discussão destas criações.
A formação das primeiras escolas, tanto laicas quanto de orientação religiosa, serviram para dar continuidade a esta prática social e a instrução transformou-se em um bem de grande importância social e simbólica.
E as universidades? Ainda no período conhecido na Europa como Idade Média, foram centros florescentes de uma cultura humanista, apesar do teocentrismo tão marcadamente presente na época.
No Brasil, o ensino público foi instituído na fase imperial, mas a universidade foi uma invenção do século XX.
Mas, o que tudo isso tem a ver com o início do texto? Vejamos: passados mais de 23 séculos desde a invenção da escrita, no que hoje conhecemos por Oriente Médio, assistimos uma nova forma de instrução, que é característica da sociedade líquida que vivemos. Agora, qualquer pessoa que não tenha concluído os seus estudos na escola básica brasileira pode em apenas 30 dias, condensar todas as produções e conhecimentos produzidos, registrados e legitimados pela sociedade ocidental nos últimos 2 mil anos!
Eu chamaria de saber instantâneo. Entretanto, todos sabemos que a construção do conhecimento é processo lento e demorado, e como a própria dinamicidade histórica, apresenta seus avanços, mas também possui fases de recuo. A aquisição do conhecimento, seja formal ou informal ( só para lembrar Moacir Gadotti) deve ser feita na relação entre os sujeitos e na apreensão dos conteúdos a partir de uma perspectiva dialógica.
Uma instituição que legitima este tipo de prática, apenas reforça em todos nós a ideia que a educação tornou-se um produto cultural massificado e de baixo custo. O diploma é garantido, basta que você possa desembolsar algumas centenas de reais; quanto ao conhecimento, não há qualquer garantia.
Particularmente, todas as vezes que me deparo com este tipo de propaganda, que geralmente é feita com faixas espalhadas pela Grande Natal, numa espécie de divulgação do mapa do tesouro do saber, sinto que cada dia permitimos que nossa sociedade torne-se mais ignorante, mais intolerante, mais permissiva.
Enquanto deixamos que façam a venda de diplomas, acompanhamos a formação de uma sociedade parecida com aquela pensada por George Orwell, em seu famoso livro 1984. O "Big Brother" quer que estejamos todos alheios e alienados e uma forma de concretizar esta situação é limitando a produção e a circularidade do conhecimento.
Bons eram os outros tempos, nos quais os sábios levavam décadas para serem formados e podiam ter a certeza que seus discípulos continuariam com a transmissão e transformação do que lhes foi confiado.
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