O ano era 1982 quando vi pela primeira vez aquela caixa brilhante no meio da sala. Confesso que aos cinco anos de idade não sabia exatamente do que tratava, mas percebia que era diferente do aparelho de rádio Canário, que minha avó materna guardava em seu quarto.
Enquanto do rádio ouvia apenas as vozes das pessoas, agora tínhamos uma caixa mágica com vozes e imagens; na minha percepção infantil, pensava que dentro dela moravam pequenas pessoas, que apareciam na tela quando girava o botão.
No ano de 1983 ganhamos nossa primeira tv preto e branco e fiz questão de passar horas escondida atrás da parede da cozinha, vigiando aquelas pessoas que eu sabia, chegavam de algum lugar, entravam pelos espaços da caixa e se apresentavam para todos nós.
Mas em pouco tempo já estava mais familiarizada e aprendi que o sinal de cada programa chegava até nossa televisão graças à antena que estava sobre a casa. Descobri também que aquelas pessoas, atores, atrizes, cantores, cantoras, apresentadores e apresentadoras, enquanto profissionais, gravavam programas que eram transmitidos pelas emissoras de televisão.
Bastaram dois ou três anos em contato com aquela nova mídia para perceber o seu funcionamento e entender a sua importância em nossas vidas, já que o tempo de nossa família era regulado pelos horários dos programas da tv.
Uma geração se passou e outras mídias surgiram ao longo dos últimos 25 anos, mas a nova tecnologia que atualmente me espanta chama-se tv digital.
O meu espanto reside nos discursos construídos sobre as possibilidades desta nova caixa mágica, desde ser utilizada enquanto ferramenta para o governo eletrônico e desenvolvimento da cidadania, como instrumento principal para o processo de inclusão digital e social, por último como um campo para a construção e socialização de saberes e de novos conhecimentos.
São muitas as expectativas elaboradas sobre esta nova tecnologia, mas poucas reflexões foram feitas sobre os outros usos possíveis da tv digital.
Além de servir aos interesses comerciais e financeiros, acredito que a tv digital pode transformar-se também num espaço para a comercialização de bens simbólicos, o que criará novos problemas para serem pensados pelos cientistas sociais e jornalistas.
Por enquanto, é só um susto de quem aos poucos descobre o que pode ser a tv digital. Vamos torcer para que ela não se torne um Leviatã.
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