Em 13 de março de 1992, uma sexta-feira, comecei a minha primeira jornada no mundo do trabalho. Era de manhã bem cedo quando meu pai me deixou em frente à agência Centro do Banco do Brasil na Avenida Rio Branco. Respirei fundo e lembrei da antiga fórmula "dextro pede" para dar boa sorte.
Mas dentro da agência já estava uma adolescente que acabou ocupando a vaga que me estava destinada. Saí dali em direção à uma nova rua: General Glicério. O centro de processamento de dados do Banco do Brasil devia ter alguma função para eu ocupar. Nunca havia caminhado pela Ribeira, mas encontrei um carteiro no meio do caminho e ele me deixou em frente ao meu novo destino. Ainda hoje lembro dos tijolos amarelos que cobriam a fachada do prédio.
Todos nós adolescentes entre 14 e 15 anos entramos no Banco do Brasil como Menor-Aprendiz. Tínhamos carteira assinada, acesso ao serviço médico chamado Cassi e ainda direito na participação dos lucros do banco. Recebíamos um salário mínimo e o mesmo valor em vales, que eu entregava mensalmente para a minha mãe.
Eram apenas quatro horas de trabalho por dia, no desempenho de diferentes atividades dentro dos diversos setores do CESEC Natal, mas o clima de cordialidade e aprendizagens múltiplas era constante.
Foi no Banco do Brasil que tomei a decisão de ser antropóloga, aos 15 anos de idade, mas orientada pelo funcionário Antonio Potiguar, ainda hoje meu amigo, pensei em cursar história ou ciências sociais antes.
Entre os colegas de banco encontrei Licínio, que me emprestava livros fantásticos da Time Life, abertos e lidos por mim, muito antes dele ter folheado.
A Biblioteca do Banco do Brasil, com sede no Rio de Janeiro foi uma fonte de saberes e culturas. Li de tudo que me caía nas mãos e muitas daquelas leituras me formaram moralmente e psicologicamente.
Ser Menor-Aprendiz só tinha um inconveniente, usar aquela farda composta por uma calça Herbus e uma camisa pólo com o nome do banco gravado no bolso. Ainda está na minha memória o dia que o chefe do CESEC me chamou atenção por ter removido a etiqueta da calça.
Cada chefe me ensinava algo novo e útil, um deles de forma punitiva me educou na arte de fazer as coisas bem feitas. Certa vez, Marcos me chamou e disse para eu carimbar um relatório. Como faltavam minutos para a minha saída, eu carimbei em todos os ângulos e direções, como forma de protesto diante daquela solicitação tão na hora do fim do meu expediente. Resultado?
Marcos enfurecido me chamou no canto, me entregou um novo relatório RDB, e disse: "Comigo é assim, se varrer a casa mal varrida uma vez, irá varrer duas". Lição aprendida e preservada.
E o que motivou este post? Encontrei por acaso no orkut uma comunidade sobre Menor-Aprendiz.
Foi muito interessante ver tantos adultos gratos pelas experiências vividas nas diversas agências e Cesecs espalhados pelo Brasil e perceber que ainda existem muitos adolescentes cheios de sonhos e perspectivas em torno de uma instituição com 200 anos de idade. O Banco do Brasil foi minha primeira escola profissionalizante, e o curso que fiz lá me preparou para a vida.
Esse blog foi criado em 2007 com o nome de Clube de Clio. Agora ele ganhou um novo título e outro endereço para marcar melhor meus pertencimentos e interesses de ensino, pesquisa e escrita. Os esquemas explicativos, resumos e resenhas de livros utilizados nas aulas são o foco da produção, mas também vai encontrar resenhas, artigos de opinião, críticas de filmes, orientações metodológicas e ensaios. É um prazer ter você aqui e sinta-se à vontade.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
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