domingo, 30 de setembro de 2007

Rússia, prisão dos povos

Parecia ser uma tarde tranquila, mas o clima foi quebrado quando abri o jornal e tomei conhecimento do desastre na escola russa. Fiquei por alguns segundos parada (...). Na minha memória veio a imagem de quando meu jardim de infância foi cercado pela polícia para prender um bandido e, após a troca de tiros, nós alunos da alfabetização, saímos correndo da escola olhando para nossos pais, que estavam aflitos do outro lado da rua e tendo como companhia a nossa "tia" do jardim, histérica.
A escolinha já não existe mais; mas as lembranças me marcaram profundamente e ao assistir pelo noticiário o ataque à escola da Ossétia do Norte, revivi um pouco aquela situação.mesmo estando muito distante dó problema russo.
Hoje, como historiadora, preciso me distanciar dessa tragédia para fazer uma provocação: quem é o responsável pelo massacre em Beslam? Apontar os terroristas como os únicos responsáveis pelo atentado, parece óbvio até porque a mídia internacional está interessadas nas eleições americanas. Mas, se voltarmos na história descobriremos que a Rússia jamais sustentou a tradição de respeitar as diferenças e as peculiaridades dos povos que a compõe.
Foi assim durante o czarismo do paizinho Nicolau II antes de 1917 e, mesmo quando explodiu a revolução socialista, muitas etnias continuaram alienadas dos seus direitos e reprimidas pela ditadura stalinista.
No final do século XX, o mundo viu o ressurgimento dos ideais separatistas na antiga prisão dos povos, entretanto, ainda testemunhamos o quanto a ex-URSS tenta manter os seus tentáculos sobre as etnias que já reconhecem sua própria identidade e lutam pela sua libertação.
O século XXI não pode continuar sendo o tempo e espaço do imperialismo caduco e do terror desmedido. Enquanto não houver uma onda de redemocratização e de reconhecimento e valoração do multiculturalismo, continuaremos vendo os grupos marginalizados recebendo o apadrinhamento de terroristas internacionais e fazendo uso de uma violência estúpida contra não só crianças cheias de sonhos em pátios de escolas, mas de toda uma sociedade civil que paga pela sua omissão com a própria vida.
Artigo publicado no Jornal de Hoje em: 11 de setembro de 2004.

Nenhum comentário:

Dia de Reis e os sentidos desse evento para nossa história

 Dia de Reis Magos e os sentidos desse evento para nossa história Está escrito no Evangelho de Mateus, 2:1, (...) eis que magos vieram do Or...