O século XX foi marcado pela vida e obra de
vários expoentes da civilização humana, sejam eles cientistas, estadistas,
escritores ou homens e mulheres comuns que fizeram algo de extraordinário pela
sociedade. Entretanto, nenhum deles viveu tão intensamente o esforço pela paz
do que Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido como “grande alma” ou Mahatma
Gandhi.
Gandhi entrou para a
história como um grande pacifista e líder religioso, pregando o princípio do
Satyagraha, um caminho de busca da verdade, baseado na não-violência e
não-agressão. Segundo Gandhi: “A minha
vida é um todo indivisível, e todos os meus atos convergem uns nos outros; e
todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda a humanidade”.
Para entender melhor a
sua trajetória, precisamos do auxílio da História para compreender os contextos
que o mesmo viveu e atuou. Nascido na Índia em 1869, parte do domínio
britânico, Gandhi cursou direito em Londres e após formado, aceitou um emprego
de advogado na África do Sul. Foi justamente a partir dessa experiência que ele
percebeu o quanto a desigualdade e injustiça afetavam a vida dos hindus. A
África do Sul foi então seu primeiro laboratório na luta pelo reconhecimento de
direitos de uma minoria em um país estrangeiro.
Anos depois, retornou
para a Índia e se envolveu com as tensões religiosas entre hindus e muçulmanos.
O conflito entre o politeísmo e o monoteísmo islâmico já havia feito muitas
vítimas e Gandhi pensava em uma maneira de encontrar a harmonia na convivência
entre os dois grupos. Assim, no ano de 1914, criou então sua primeira campanha
pela paz para apaziguar os dois lados.
Porém, enquanto eclodiram
conflitos religiosos em todo o país, o Império Britânico aumentou os tributos e
taxações, prejudicando a vida dos mais pobres. Diante do cenário político,
Gandhi decidiu colocar em prática seu plano de resistência ao domínio dos
ingleses, fortalecido pelo princípio do Satyagraha e defendendo formas de
resistências pacíficas contra o controle colonialista como greves, passeatas,
jejuns e retiros espirituais, pois como afirmou o próprio Mahatma: “Só podemos vencer o adversário com o amor,
nunca com o ódio”.
A postura de Gandhi e
de seus seguidores foi atacada duramente pelas autoridades britânicas e o mesmo
foi preso diversas vezes durante seus protestos pacifistas, mesmo assim, estava
disposto a dar sua vida pela justiça, igualdade e paz. Em suas reflexões
afirmou que: “Unir a mais firme
resistência ao mal com a maior benevolência para com o malfeitor. Não existe
outro modo de purificar o mundo”.
A ação refletida de
Gandhi mostrou que sua práxis foi alicerçada em diferentes conhecimentos
oriundos de diversas tradições, desde o Bragavad-Gita, o Evangelho de Jesus
Cristo e o Alcorão. Mahatma também estudou Thoreau para aplicar o conceito de
Desobediência Civil em sua luta pela justiça e paz. Sendo considerado o
fundador da Índia moderna, sua influência inspirou grandes líderes como Martin
Luther King na luta com o racismo nos Estados Unidos da América e Nelson
Mandela, líder sul-africano que lutou bravamente contra o sistema do Apartheid
em seu país.
As lições que Gandhi
nos reserva nos dias atuais são muitas, desde o amor universal, o perdão, a
busca pela paz e justiça entre os povos. Ele fez da sua vida um exemplo de amor
e de pacificidade para com os inimigos, pois segundo Mahatma: “Não existe caminho para a paz, a paz é o
caminho”. Imbuídos de sua inspiração, preguemos sempre a harmonia, na
certeza de que os brandos e pacíficos agradam ao Mestre Jesus que nos pede
acima de tudo para amar ao próximo como a nós mesmos, mesmo o próximo sendo
nosso ofensor.
Muita paz.
Referências
bibliográficas:
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. 124.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulos IX, XI, XII.
LELYVELD, Joseph. Mahatma Gandhi e sua luta com a Índia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Mahatma Gandhi. A única revolução possível é dentro de nós.
E-book. Disponível em: http://www.elivros-gratis.net/baixar-livros-gratis.asp. Acesso em 02/09/2016.
MAOMÉ. O Alcorão. 9. ed. Rio de Janeiro:
BestBolso, 2015.
SWAMI, Chandramukha. Bragavad Gita em poucas palavras. Rio
de Janeiro: Santuário, 2011.
THOREAU, Henry David. A desobediência civil. Tradução: Sérgio
Karam. Porto Alegre: L&PM,1997.
Artigo publicado no Jornal O Seareiro, edição especial, setembro de 2016.
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