quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O medo é a danação do povo

Comecei a votar apenas aos 19 anos de idade, mas sempre fui politizada e engajada na busca de uma democracia de fato mais representativa, do que cenográfica. Digo cenográfica não desrespeitando os verdadeiros atores e atrizes que fazem arte da vida e nos brindam com a mesma. Falo cenográfica no sentido da farsa quixotesca que vem sendo montada e encenada por muitos anos pela direita deste país. Uma direita que qualquer estudante de história sabe o quanto corcordou com os desmandos durante o regime militar e mesmo após o movimento das Diretas Já, sempre esteve implicada com o interesse dos grandes grupos econômicos  que controlam o Brasil.
Agora, mas do que nunca, me assombra a onda difamatória que está sendo levantada contra a candidata petista Dilma. Um tsunami de mentiras forjadas e de um passado redesenhado. Isto já foi feito com o atual presidente em exercício, e como a fórmula funcionou, os direitistas querem espalhá-la novamente. Seria fórmula ou veneno?
E o que quero com este post? Pedir que cada um dispa-se de seus preconceitos e visões limitadas em torno das pessoas e fique atento ao que os livros de história nos trazem. A roda da fortuna favorece o Brasil neste momento, não apenas pelo sucesso do plano Real, mas pela conjunção de diversos fatores e pela administração que foi realizada pelo governo Lula nos últimos oito anos. Compare a sua vida durante a gestão de FHC com a realidade que você vive hoje. Anote os êxitos e os fracassos e veja onde mais cresceu. Assim será capaz de avaliar um pouco a mudança, sem precisar ter medo do novo. Sem precisar ter medo da Dilma. O medo é a danação do povo. Lembrem-se disso.
Segue texto interessante para leitura.
Um bom voto para o Brasil:




08.10.10 – BRASIL
Eleição, aborto e a infantilização da religião
Jung Mo Sung *
na Adital, por sugestão da leitora Adenilde Petrina 
Por que bispos, padres e grupo religiosos que sempre defenderam a separação radical entre a religião e política, que sempre criticaram a discussão política no âmbito da Igreja ou até mesmo a relação “fé e política”, estão fazendo, até mesmo nas missas, campanha aberta contra Dilma?
Uma primeira resposta poderia ser: hipocrisia. Respostas moralistas podem satisfazer o “juiz moralista” que todos nós carregamos no mais profundo do nosso ser, mas não são boas para nos ajudar a entender o que está acontecendo.
Esta campanha contra a candidatura da Dilma, e com isso o apoio explícito ou implícito à candidatura do Serra, está sendo feita de várias formas, mas com um elemento comum: os católicos e os “crentes” não devem votar nela porque ela seria a favor do aborto e, por isso, contra a vida. Alguns agregam também a acusação de que, se ela for eleita, as TVs católicas e evangélicas seriam proibidas de veicular os programas religiosos ou obrigadas a diminuir o seu tempo de duração. É a velha acusação de que “comunistas” são contra a religião.
Essas duas acusações são expressas e justificadas através de lógicas religiosas, e não a partir da “racionalidade leiga” que deve caracterizar a discussão sobre a política hoje. Esses grupos não admitem a distinção entre a religião e a política, ou melhor, não admitem a “autonomia relativa” do campo político e de outros campos -como o econômico- que se emanciparam da esfera religiosa no mundo moderno. Por isso, eram e são contra “fé e política” ou o debate sobre a política no campo religioso, pois esses debates são feitos normalmente a partir do princípio da autonomia relativa da política. Isto é, a discussão sobre questões políticas são feitas com argumentos de racionalidade sócio-política e não submetidos ao discurso meramente religioso.
Para esses grupos (é preciso reconhecer que ocorre também em outros grupos político-religiosos), os valores religiosos (do seu grupo) devem ser aplicados diretamente a todos os campos da vida pessoal e social. E, em casos graves como aborto, ser impostos sobre toda a sociedade através das leis do Estado. Nesses casos, não seria misturar a religião com a política, mas seria a “defesa” dos mandamentos e valores religiosos; ou colocar a política a serviço dos valores religiosos (nessa discussão apresentados como “a serviço da vida”). Pois, nada estaria acima dos “mandamentos de Deus”. Desta forma não se reconhece a autonomia relativa do campo político, a dificuldade de se passar do princípio ético abstrato (do tipo “defenda a vida”) para as políticas sociais concretas, e muito menos se aceita a pluralidade de religiões com valores diversos e propostas de ação divergentes e conflitantes.
Esta é a razão pela qual esses grupos não entendem e nem aceitam a resposta dada por Dilma de que ela, pessoalmente, é contra o aborto, mas que ela vai tratar esse tema como um problema de saúde pública. Para ouvidos daqueles que crêem que não há ou não deve haver separação entre a saúde pública (o campo da política social) e a opção religiosa pessoal do governante, a resposta da Dilma soa como eu não sou contra o aborto, que logo é traduzido na sua mente como “eu sou a favor do aborto”.
E se ela é a favor do aborto, ela é contra a vida e, portanto, ela é do “mal”. Enquanto que, por oposição, o outro candidato seria do “bem”.
Reduzir toda a complexidade da “defesa da vida” -a que um/a presidente deve estar comprometido/a- à manutenção da criminalização do aborto (que é o que está discutido de fato neste debate sobre ser a favor ou contra o aborto) é uma simplificação mais do que exagerada. Simplificação que deixa fora do debate, por ex., toda a discussão sobre políticas econômicas e sociais que afetam a vida e a morte de milhões de pessoas. Mas é compreensível quando os cristãos têm muita dificuldade em perceber quais são os caminhos concretos e possíveis para viver a sua fé na sociedade, perceber em que a sua fé pode fazer diferença na vida social. Diante de tanta complexidade, a tentação mais fácil é simplificar o máximo para separar “os do bem” de “os do mal”.
Essa simplificação me lembra a pergunta que os meus filhos, quando muito pequenos, me faziam ao assistir um filme: “pai, ele é do bem?” Se sim, eles torciam por aquele que “é do bem” contra o “do mal”. Essa necessidade de separar os do bem e os do mal faz parte da condição mais primária do ser humano. O problema é que reduzir toda a complexidade da luta em favor da vida ao tema de ser favor ou contra a manutenção da criminalização do aborto é infantilizar a discussão política e, o que é pior, é infantilizar a própria religião que professa.
[Autor, em co-autoria com Hugo Assmann, de "Deus em nós: o reinado que acontece na luta em favor dos pobres"].
* Coord. Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Dei minha palavra por meio saco de cimento"

Era mais um dia de pegar transporte público para chegar ao trabalho. Enquanto eu ficava imaginando minhas justificativas para utilizar aquele sistema coletivo comecei a ouvir vozes bastante exaltadas nos bancos de trás do ônibus. E como boa antropóloga, aprendi a lição, "olhar, ouvir e escrever", assim, apurei o ouvido para acompanhar aquele diálogo. A conversa daqueles passageiros era sobre a eleição de 2010 e um deles estava muito empenhado em difamar os políticos das gestões atuais. Ele os chamava de falsos, enganadores e de corruptos. Por alguns segundos comecei a sentir simpatia por aquele homem e quando estava prestes a girar meu corpo no assento para lançar aquele olhar de cumplicidade que só nós eleitores tantas vezes enganados sabemos a hora correta de utilizar, aquele homem mudou o seu discurso.
Retomou sua fala dizendo que era natural do município de Parelhas, no interior do RN. E que um candidato local havia prometido ajudá-lo na reforma do seu banheiro. Segundo o homem, o cabo eleitoral passou na sua casa às vésperas da eleição e coletou o número do seu título de eleitor. Ficou a promessa que retornaria no dia da eleição com a ajuda para a tão necessitada reforma, e qual foi a surpresa daquele homem, quando o cabo eleitoral retornou com apenas meio saco de cimento. Como promessa é promessa, nada pode ser de fato cobrado, mas para aquele homem de Parelhas, seu voto valia a metade de um saco de cimento. Ele terminou sua fala dizendo "dei minha palavra por meio saco de cimento". E o silêncio voltou ao banco de trás do ônibus.
Fiquei imaginando o quanto um pouco de educação e informação podem fazer a diferença dentro de qualquer pleito eleitoral. Desde o século XVIII que os brasileiros lutam por participação política. Imagino os envolvidos na maior rebelião política brasileira, a Conjuração Baiana. Cipriano Barata e seus seguidores lutaram pelo direito à participação nos processos de decisão. Penso também nas revoltas do século XIX, como a Revolução de 1817. Era uma outra luta por igualdade, mas também por liberdade de expressão e mais uma vez, participação política.
Caso me permitam um salto no tempo, posso agora recordar da opressão imposta pelo regime militar e o movimento criado para derrubá-lo, seja a luta das guerrilhas urbanas, seja a reorganização da oposição no que ficou conhecido como "Diretas Já".
Quase 3 séculos de lutas e conquistas, mas o principal terreno continua sendo ocupado pela ignorância permissiva e passiva: a consciência do brasileiro.
Posso até criar o perfil daquele homem de Parelhas no ônibus e dizer que o mesmo deu a sua palavra "por meio de saco de cimento" por ser um trabalhador do campo, sem instrução e que ainda guarda muito da ingenuidade de tempos atrás. Seria uma justificativa muito leviana da minha parte.
Mas o que dizer de outros homens e mulheres, com diferentes níveis de formação educacional e cultural e moradores de todas as cidades deste imenso país que ainda trocam o seu voto por qualquer tipo de favorecimento?
Quando fiz 19 anos tirei o meu título de eleitor. De imediato recebi duas visitas: a primeira de um candidato a vereador, ele prometeu um cargo político para mim caso desse o meu apoio para ele. Ri daquela proposta e lhe disse que ainda era estudante universitária e não tinha nenhum interesse por administração pública. Em seguida, um parente muito próximo pediu para eu transferir meu título para uma cidade do interior e assim ajudá-lo a ser eleito. Minha recusa foi acompanhada de um sorriso para dizer que tenho a obrigação de participar da vida política do meu domicílio eleitoral, logo, não poderia atender sua solicitação.
Todos podemos ser convidados a vender, trocar ou barganhar nosso direito de escolha, mas todos devemos ser responsáveis pelas más escolhas que fazemos, levando em conta apenas nossas necessidades individuais e esquecendo que quatro anos de desastrosas políticas públicas significam quatro anos de atraso em setores estratégicos e vitais, como educação, saúde, transporte e moradia.
Precisamos reformar o pensamento, como já dizia Edgar Morin, e aproveitar para reformar as nossas instituições. A política é delas uma das principais, deve ser modificada para que sobreviva e nos conceda uma melhor vida no futuro.
Nossa palavra deve ser dada como garantia de um futuro melhor, até porque um vaso sanitário é fácil de encontrar, mas um bom político, precisa ser escolhido a dedo.

Dia de Reis e os sentidos desse evento para nossa história

 Dia de Reis Magos e os sentidos desse evento para nossa história Está escrito no Evangelho de Mateus, 2:1, (...) eis que magos vieram do Or...