A escolha do tema integrador 2006: "Diversidade cultural: humanos sim; iguais não", responde a uma necessidade global: encontrar caminhos para lidar com a alteridade.
O que parece tão simples na verdade, configura-se como um grande desafio do século XXI. Num mundo tão polifônico ainda persiste a repressão sobre muitas vozes, que a cada dia rompem à barreira imposta pelo silêncio e ressurgem reinvidicando seus espaços sociais e o reconhecimento de suas identidades.
Movimentos de etnogênese e de afirmação identitária eclodem em todos os continentes e cabe a todo cidadão volver os olhos para esta questão, praticando um exercício conhecido pela antropologia como relativismo.
Na concepção do antropólogo Bronislaw Malinowski, relativizar o olhar apresenta-se quando: "(...) o hábito mental que nos permite tratar as crenças e valores de outro homem do seu próprio ponto de vista".
Relativizando a maneira de enxergar o Outro se estabelece um campo aberto para o diálogo entre as diferentes concepções de pensar a cultura como também, cria-se uma ponte para as diversas formas de viver cada realidade humana.
A diversidade cultural brasileira aparece como referência para ampliar a discussão em torno do respeito e valorização das diferenças culturais dos diversos grupos étnicos que compõem o nosso país.
Basta uma atenção maior ao nosso falar cotidiano e perceberemos quanto elementos diferentes participam de nossa língua: termos indígenas, palavras emprestadas de dialetos africanos e a presença do estrangeirismo.
Na nossa relação com a esfera religiosa, o catolicismo popular nos apresenta diversas interpretações sobre o sagrado e o profano. As festas dos santos católicos são uma demonstração clara dos diferentes elementos simbólicos partilhados pelo povo brasileiro.
E o que falar das religiões com origens nos ritos africanos? A umbanda evoca seu orixá Iansã na figura de Santa Bárbara. O que os primeiros cristãos consideravam a comemoração da apresentação de Jesus de Nazaré ao templo, configura-se como um rito de passagem.
A nossa composição étnica e o processo de mestiçagem que sofremos já foram utilizados pelos cientistas evolucionistas como origens para nosso atraso. Hoje a discussão é bem outra. Somos uma nação da diversidade e precisamos abraçar o desafio que é a compreensão de nossa polifonia e multiculturalismo, partindo do exercício proposto acima: o relativismo.
Enquanto formos meros observadores, elaboraremos estereótipos e idéias pré-concebidas sobre a nossa diversidade cultural; Entretanto, quando compreendemos a condição de sujeitos desta sociedade, o olhar será abrandado e surgirá uma nova compreensão sobre o perigo de construir-se pré-conceitos para toda e qualquer categoria social ou grupo humano.
É necessário que experimentemos o exercício do relativismo em duas posições: em primeiro lugar, como observadores distantes e objetivos; em segundo, enquanto nativos, sujeitos sociais e participativos do sistema cultural em debate.
Com essa experiência, concluímos que: relativizar a forma de ver cada homem e mulher é o que nos possibilita o encontro no mesmo destino. Convidamos todos para estarem cá e lá, como já havia sugerido o antropólogo Clifford Geertz e assim, estabelecer diálogos construtivos em torno da nossa humanidade e diversidade brasileira.
* Artigo publicado na revista Ceia Cultural, ano II, n° 4, dezembro de 2006. página 11.
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