Na década de 90 conheci a obra de Isaac Asimov. Como toda iniciante, li primeiro I robot e fui aos poucos me familiarizando com o gênero ficcional e científico de sua escrita. Um dos maiores méritos de Isaac Asimov foi transformar a ciência em algo compreensível para mim a partir da literatura. Por quase dez anos me dediquei aos seus livros e escritos, mas um deles me chamou atenção de forma especial: Escolha a catástrofe.
Nesta obra, o autor nos apresenta quais os cataclismas que ocorrerão sobre nossa espécie, nosso planeta, nosso sistema solar e o próprio universo. Em graus diferentes, Asimov demonstra como a própria natureza pode sofrer alterações, tanto geofísicas quanto antropogênicas que podem, pôr fim desde à vida na terra até a desorganização do cosmos num processo parecido com a evasão-entropia que deu origem ao Big Bang.
Na época de minha leitura, fiquei muito mais preocupada com o fim dos recursos naturais, como a água e o petróleo, mas hoje sentimos que o mundo mudou e a natureza responde de forma mais agressiva às alterações climáticas.
Nesta semana, a Cúpula de Copenhague continua gerando discussões e debates. A Conferência Mundial sobre o clima, na Dinamarca, discute os rumos da nossa relação com o planeta para os próximos 10 anos, com a proposta inicial de redução das emissões de CO2 pelos países ricos e em desenvolvimento, com exceção dos Estados Unidos, pois sabemos que os mesmos não participam do Protocolo de Kyoto. Entretanto, estas medidas devem ser implementadas imediatamente antes que sejam desnecessárias, em 2012, por exemplo.
Pensando na relação entre as catástrofes anunciadas por Asimov e as mudanças climáticas, resolvi assistir o "fim do mundo". O filme 2012 é uma proposta muito mais alarmante do que os piores prognósticos sobre as mudanças climáticas para os próximos 24 meses. Nem o próprio Asimov teria elaborado um apocalipse naquelas dimensões.
Muitas culturas possuem suas escatologias, e o tema do fim da humanidade e um novo recomeço é recorrente na Mesopotâmia com o mito de Gilgamesh, e no Antigo Testamento com Noé e a tripulação de uma arca que ancoraram no Monte Ararat e recomeçaram a repovoar a terra após a grande inundação. Mas na América, as culturas nativas também elaboraram suas escatologias. Os povos mesoamericanos forneceram elementos riquíssimos para a construção de uma profecia que prevê o retorno do deus Quetzalcoatl, a serpente emplumada.Segundo o Dicionário de Religiões, esta divindade representa o vento e é uma figura divina do bem, simbolizando harmonia, equilíbrio e fecundidade. Já a obra, Os símbolos místicos, apresenta esta divindade como de natureza protetora-destrutiva, mas capaz de fazer a ordem superar o caos. Recentemente tenho visto bastante exploração da mídia sobre este tema, o que é um tanto compreensível pelas catástofes naturais que atingem o planeta nos últimos anos.
Entretanto é importante racionalizar e perguntar: o que podemos aprender com uma profecia? Uma outra questão: o que podemos pensar de toda e qualquer história mitológica?
Dentro do mito existe verdade ou a necessidade de elaborar uma verdade que seja aceita pelo grupo. É importante não concentrar-se somente no que os maias ou astecas previram, mas principalmente nos contextos culturais de elaboração destas crenças.
Os problemas climáticos que vivenciamos hoje são reais e tem origens históricas nas mudanças geradas pelo industrialismo colocado em funcionamento a partir do século XIX. Algo que jamais poderia ter sido previsto pelas culturas mesoamericanas. Nos últimos 200 anos, a humanidade desenvolveu uma forma de exploração dos recursos naturais que não deixa outra alternativa ao planeta senão expulsar os agressores. De acordo com a teoria Gaia, é isto que ocorre neste exato momento. Entretanto, físicos apontam que o nosso sol apresenta alterações em sua crosta, que podem ser determinantes para uma série de mudanças sobre todo o sistema solar.
E agora chegamos ao ponto central: 2012 será o fim? 2012 será o novo começo? Escolha a sua catástrofe, eu já selecionei qual é a minha.