sábado, 21 de fevereiro de 2009

Mito, religião e ideologia


A ideologia está presente em todas as sociedades humanas, inclusive nas ditas sociedades primitivas, nestas a religião funciona como “cimento social”, expressando, por meio dos seus ritos e mitos, as necessidades humanas no âmbito social ou individual.
As religiões primitivas se prendem ao real e o representam através de um “vasto simbolismo”. O totemismo é uma destas representações imaginárias, presente nas sociedades sem classes. Dentro desta religião primitiva, existe a escolha de um totem (na maioria das vezes animal ou vegetal) que simboliza o clã. A adoração do totem e de tudo que esteja relacionado ao mesmo cria uma série de regras que direcionam a vida do grupo. O totemismo semeia entre os homens e mulheres o conformismo moral a partir da lógica social que é passada como algo já dado, construído fora do tempo histórico. Isto é possível pelo fato da realidade social ser tão sagrada quanto à divindade adorada pelo clã.
Podemos classificar a religião como uma forma de ideologia, pois ela impõe regras e proibições, apresentando-se como representação da consciência coletiva, como poder constituído.
A partir dos mitos, a religião afasta do âmbito humano, a origem de tudo o que existe, com as cosmogonias e os mitos de criação. Nas religiões primitivas, a adoração do totem transforma a realidade humana em algo sagrado, logo, todo aquele que transgride as regras e interditos do totem, também agride ao grupo, sendo necessária uma punição exemplar para que o mesmo não promova a desagregação social.
É quando age a ideologia, o mito esconde a origem daquilo que é construção social, produção humana. A ideologia só se torna possível pela existência de representações que compõem o imaginário social. Ou seja, pela via do simbólico ocorre a naturalização da ordem social humana. O imaginário tem a força que mantêm o monopólio da dominação.
Nas sociedades primitivas, observamos os ritos de instituição pelos quais a cultura ensina o indivíduo a aceitar a sujeição. Este dominado, é convertido pelo imaginário em cúmplice de sua própria dominação.
Podemos citar como exemplo os Baruya da Nova Guiné. Esta sociedade desenvolveu entre os homens uma forma de dominação expressa pelo conhecimento de uma língua sagrada, ensinada aos meninos, porém vetada ao gênero feminino. Esta linguagem secreta legitima a supremacia dos homens dentro deste grupo social.
O poder que esta língua cifrada confere aos homens e meninos Baruya não é um bem, algo palpável, é a relação de sujeição, de dominação caracterizada por saberes, técnicas próprias do grupo masculino, e interditos para todas as mulheres.
Segundo o professor Alípio de Sousa Filho, a ideologia seria o discurso do poder, porque visa ocultar o caráter de dominação, oferecendo uma falsa idéia de harmonia dentro do grupo social. Os mitos e a religião legitimam as convenções sociais.
Concluindo, os mitos são os padrões das representações sociais. É no mito que a ideologia se apresenta pela primeira vez, utilizando-se do simbólico. O simbolismo é meio pelo qual as sociedades humanas tornam suas instituições algo concreto na vida social.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sistema de castas continua em funcionamento nas localidades pobres da Índia, sendo a quebra de tabus punida com a morte.


REUTERS - 11.02.2009 09:18
Parentes do noivo decapitados após casamento proibido na Índia
PATNA, Índia (Reuters) - Oito membros da família de um homem pobre foram mortos e decapitados e seus corpos, jogados em um rio no leste da Índia, depois que ele se casou secretamente com uma moça rica, informou a polícia na quarta-feira.
A polícia do Estado de Bihar encontrou os oito corpos boiando no rio e acusou 15 pessoas, maioria delas da família da noiva.
Os assassinatos, cometidos no fim de semana, aconteceram depois que Ratan Mandal, de 21 anos, fugiu de casa e se casou secretamente com Kanchan Kumari, 18, pois suas famílias jamais aprovariam o relacionamento devido a uma antiga rixa social.
"A família da moça convidou a família do rapaz para um encontro, com o pretexto de dar um fim à disputa, mas matou todos os oito e os decapitou", disse Raghunath Prasad Singh, importante autoridade policial de Bhagalput, onde ocorreu o incidente.
Bhagalput, uma das região mais sem lei da Índia, é conhecida pelos assassinatos por vingança e em defesa da honra.
Homens e mulheres ainda são mortos nos vilarejos do leste e do norte da Índia por ousarem se casar com pessoas de castas diferentes.
Em maio do ano passado, um jovem casal foi assassinado pela família da moça, no norte da Índia, porque eles se casaram e pertenciam ao mesmo vilarejo. Casar com alguém da mesma vila é considerado tabu em muitas comunidades indianas

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A antropofagia é um ritual ainda presente nas sociedades indígenas brasileiras


Índios são acusados de canibalizar jovem no Amazonas

da Folha Online
Índios da etnia Kulina são suspeitos de esquartejar e comer os restos de um jovem em um ritual de canibalismo na cidade de Envira (AM), próxima à fronteira com o Peru. Em entrevista à rede de TV CNN, o policial Maronilton da Silva Clementino afirmou que ao menos cinco índios estão foragidos.
A vítima foi identificada como Océlio Alves de Carvalho, 19, morto na semana passada. De acordo com a CNN, os quatro índios fugiram após passarem algumas horas detidos. Pela lei, a polícia não pode entrar na tribo para investigar o caso.
Clementino afirmou que a vítima, que conhecia a tribo, havia sido convidado para visitar a aldeia indígena na sexta-feira (6) passada. "Eles [o jovem e os índios] se conheciam e às vezes eles se ajudavam. Os índios o convidaram para a reserva na sexta-feira e ele [Océlio Carvalho] não foi mais visto."
"A família decidiu entrar na reserva para procurar o jovem e encontrou o corpo dele esquartejado e a cabeça pendurada em uma árvore", contou o policial.
Ritual
A polícia informou que membros da tribo afirmaram que os envolvidos na morte do jovem se gabavam de ter comido órgãos humanos.
Os moradores de Envira responsabilizaram a Funai (Fundação Nacional do Índio) por permitir que esse tipo de crime ocorresse. De acordo com Clementino, a família se disse "frustrada com a lei no Brasil, que protege os índios, mas não ajudam a proteger" quem vive perto de aldeias.
Três dias após o desaparecimento do jovem, membros da Funai ainda não chegaram à cidade. A jornais locais, a fundação declarou que ainda não chegou a Envira devido ao difícil acesso à cidade, só permitido por barco ou helicóptero.
A etnia Kulina é um grupo isolado que vive nas margens dos rios Juruá e Purus, no Acre. Estima-se que ao menos 2.500 membros da etnia vivam na região.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Leituras sobre o livro Brasil


Como ler um país etnicamente diverso e eticamente tão frágil? Esta tem sido uma preocupação demonstrada recentemente por estudiosos e especialistas em todo o Brasil. É claro que outros já haviam se debruçado em torno desta temática, como os antropólogos Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e mais recentemente Roberto DaMatta, entretanto a proposta que se apresenta agora é: ler o Brasil através da lente da ética.
No campo da análise histórica, o XXV Simpósio Nacional de História tem como eixo de discussões para 2009 o tema História e Ética. Instituições educacionais na capital potiguar, entre elas, o Centro de Educação Integrada, estão encabeçando a reflexão ética como projeto norteador de sua prática educativa.
A ética é evocada por todos como uma entidade acima do bem e do mal, verbalizada nos discursos, debatida nas salas da academia, entretanto pouco vivenciada seja no foro íntimo, seja no âmbito mais amplo do social.
Não nos cabe definir ética do ponto de vista da filosofia ou da sociologia, mas refleti-la no campo das ações humanas e de suas construções sociais, tanto ao longo da história, quanto na prática cotidiana, ou seja, a partir do olhar antropológico.
A primeira reflexão sobre ética e história obtivemos a partir da leitura do livro A assustadora história da maldade. Na primeira parte da obra, o autor discute como a moral humana muda ao longo do tempo. Práticas que há 300 anos eram vistas como abomináveis, hoje as vemos sendo aplicadas de forma naturalizada. Valores tidos como corretos 120 anos atrás na história, atualmente são percebidos como equívocos ou ingenuidades. Os valores mudam graças à dinamicidade da história e das construções humanas.
As 48 leis do poder foi outro livro que despertou a atenção para o tipo de ética que estamos vivendo no século XXI. Em 48 situações os autores nos chamam atenção para o tipo de comportamento que devemos estabelecer com as pessoas ao nosso redor, para tirar o máximo de proveito do esforço e do trabalho delas. É uma obra aética, um livro despojado de preocupações morais relevantes em relação ao outro, mas pleno da ética individualista que tanto foi moldada pelo capitalismo nos últimos dois séculos.
Basta um olhar superficial sobre a sociedade brasileira para podermos identificar o quanto estabelecemos destas práticas em nossa história e vivências. Velhas e tão conhecidas fórmulas como “Você sabe com quem está falando?”, ou a “carteirada” exemplificam um pouco dos paradigmas que vivemos. O Brasil é a nação do clientelismo, do nepotismo, dos pelegos e do famoso “jeitinho”, todos são demonstrações que nossa diversidade cultural espelha uma variedade de comportamentos não acertados que nos impedem o crescimento de uma cidadania mais plena e viável para o conjunto da população. Sofremos de uma moral defeituosa e esta necessita de uma mudança, que apenas pode ser consolidada com uma reflexão em torno de nossas dinâmicas sociais, o que pode propiciar uma interiorização de novos conceitos que privilegiem o “outro” antes do “eu”.
Quais tipos de leituras podemos fazer sobre o Brasil? Utilizando a ética como lente, toma-se a reflexão crítica como ponto de partida para uma análise da moralidade brasileira, em seguida, pensar os contextos mostra-se essencial para a tomada de decisões que deve ser efetuada. A reflexão ética requer problematizar os fundamentos que norteiam nossas ações. Serve ainda para questionar os valores componentes da moral. Que tipos de componentes fazem parte da moral que vivenciamos? A sociedade de consumo, o imediatismo nas relações que estabelecemos com os outros, os jogos de interesses, as máscaras que assumimos ao longo do dia, nosso pouco engajamento com as questões sócio-ambientais, tudo serve para a reflexão ética.
Leitura é tarefa difícil, pois exige a apreensão daquilo que é lido e a formulação de uma reflexão profunda acerca do que o texto nos tem para ensinar. O desafio é ler o Brasil levando em consideração a sua trajetória histórica, as suas matrizes formadoras e as instituições que foram criadas ao longo dos séculos. Ler a partir da ética para uma mudança de paradigma, que começa dentro de cada um e depois transforma a sociedade. Assim, devemos ler com compromisso o livro Brasil.

Dia de Reis e os sentidos desse evento para nossa história

 Dia de Reis Magos e os sentidos desse evento para nossa história Está escrito no Evangelho de Mateus, 2:1, (...) eis que magos vieram do Or...