A ideologia está presente em todas as sociedades humanas, inclusive nas ditas sociedades primitivas, nestas a religião funciona como “cimento social”, expressando, por meio dos seus ritos e mitos, as necessidades humanas no âmbito social ou individual.
As religiões primitivas se prendem ao real e o representam através de um “vasto simbolismo”. O totemismo é uma destas representações imaginárias, presente nas sociedades sem classes. Dentro desta religião primitiva, existe a escolha de um totem (na maioria das vezes animal ou vegetal) que simboliza o clã. A adoração do totem e de tudo que esteja relacionado ao mesmo cria uma série de regras que direcionam a vida do grupo. O totemismo semeia entre os homens e mulheres o conformismo moral a partir da lógica social que é passada como algo já dado, construído fora do tempo histórico. Isto é possível pelo fato da realidade social ser tão sagrada quanto à divindade adorada pelo clã.
Podemos classificar a religião como uma forma de ideologia, pois ela impõe regras e proibições, apresentando-se como representação da consciência coletiva, como poder constituído.
A partir dos mitos, a religião afasta do âmbito humano, a origem de tudo o que existe, com as cosmogonias e os mitos de criação. Nas religiões primitivas, a adoração do totem transforma a realidade humana em algo sagrado, logo, todo aquele que transgride as regras e interditos do totem, também agride ao grupo, sendo necessária uma punição exemplar para que o mesmo não promova a desagregação social.
É quando age a ideologia, o mito esconde a origem daquilo que é construção social, produção humana. A ideologia só se torna possível pela existência de representações que compõem o imaginário social. Ou seja, pela via do simbólico ocorre a naturalização da ordem social humana. O imaginário tem a força que mantêm o monopólio da dominação.
Nas sociedades primitivas, observamos os ritos de instituição pelos quais a cultura ensina o indivíduo a aceitar a sujeição. Este dominado, é convertido pelo imaginário em cúmplice de sua própria dominação.
Podemos citar como exemplo os Baruya da Nova Guiné. Esta sociedade desenvolveu entre os homens uma forma de dominação expressa pelo conhecimento de uma língua sagrada, ensinada aos meninos, porém vetada ao gênero feminino. Esta linguagem secreta legitima a supremacia dos homens dentro deste grupo social.
O poder que esta língua cifrada confere aos homens e meninos Baruya não é um bem, algo palpável, é a relação de sujeição, de dominação caracterizada por saberes, técnicas próprias do grupo masculino, e interditos para todas as mulheres.
Segundo o professor Alípio de Sousa Filho, a ideologia seria o discurso do poder, porque visa ocultar o caráter de dominação, oferecendo uma falsa idéia de harmonia dentro do grupo social. Os mitos e a religião legitimam as convenções sociais.
Concluindo, os mitos são os padrões das representações sociais. É no mito que a ideologia se apresenta pela primeira vez, utilizando-se do simbólico. O simbolismo é meio pelo qual as sociedades humanas tornam suas instituições algo concreto na vida social.