domingo, 15 de novembro de 2015

Comparando o mar com a lagoa

Recentemente ouvi o relato de uma conversa entre dois professores. Um deles olhou pro colega e disse: os alunos dessa escola nem se comparam com os alunos da escola particular, não é mesmo? O outro professor respondeu: não se comparam não!
Aparentemente é um discurso casual de professores que atuam nas redes pública e privada de ensino, mas o que me chamou atenção foi para o fato deles não refletirem que não há qualquer parâmetro de comparação entre as duas realidades.
 
Na antropologia aprendemos que cada cultura deve ser analisada dentro de seus contextos de formação, ou seja, culturas distintas são impossíveis de serem comparadas. A realidade da escola pública brasileira é algo à parte na realidade de formação da escola privada no Brasil, apesar da existência da segunda impactar grandemente o funcionamento da primeira. Na primeira, os espectros da pobreza e desigualdade social rondam cotidianamente as vidas e histórias de origens da sua comunidade escolar. Avaliar o desinteresse do aluno e sua desmotivação para os estudos pelo prisma do neoprodutivismo e individualismo é pura falácia, pois tanto a construção de nossa identidade quanto de nossa personalidade dependem de nossos processos de socialização e aprendizagem, e que todos sabem que não ocorrem exclusivamente dentro dos muros da escola.
 
Precisamos, enquanto educadores, desmistificar a visão preconceituosa e limitante que cerca nosso ofício na escola pública. Minha reflexão faz parte de novas compreensões que elaborei sobre o papel do professor na escola pública e só me chegou após cinco anos fora do espaço escolar da educação básica analisando teoricamente e de forma documental, o mar de problemáticas que envolve a educação pública brasileira numa perspectiva neoliberal.
Então colegas, precisamos examinar mais profundamente as relações e situações de aprendizagem que nossos alunos na rede pública têm acesso fora das salas de aula para compreender especificamente que é impossível comparar o mar com a lagoa.
Boa reflexão!

terça-feira, 1 de setembro de 2015

O Brasil é o purgatório dos pardos


Hoje refleti sobre a invisibilidade dos pardos. Estava num centro médico em Petrópolis acompanhando meu pai para uma consulta no oftalmologista quando uma moça parda, vestindo um uniforme de empresa de terceirizados passou na nossa frente conduzindo um copo com água numa bandeja.
Cabeça erguida, mas andar vacilante, ela passou por nós e sequer nos notou. Eu que sou viciada em "bom dia" desde minha época de menor aprendiz no Banco do Brasil, tentei fazê-la olhar para nós e ela rapidamente se esquivou.
Eu não a ignoro, pois sempre que vejo um pardo em um espaço ele está ocupando uma função de assalariado. Nos restaurantes que frequento com meus sogros, as vezes sou a única parda sentada para uma refeição. Os demais estão na portaria, caixa, recepção, cozinha e atuando como babás ou garçons.
Um dos maiores estranhamentos que vivi foi em um restaurante no bairro de Ponta Negra: uma família entrou com uma babá, parda como eu, mas muito jovem. Enquanto a família almoçava tranquila, aquela moça cuidava do bebê e olhava comprido para o banquete que era servido, mas o qual ela não tinha sido convidada para aquele momento.
Não quero acusar a família de tê-la colocado numa situação de constrangimento, ela estava ali numa função de trabalho, não é mesmo? Quero só ilustrar minha preocupação com a invisibilidade que nos envolve diariamente.
Eu mesma já fui confundida como lojista, atendente de clínica, babá de meu irmão quando era pequenino e loiro, e garçonete de restaurante de beira de estrada.
O discurso de harmonia entre os grupos étnicos é pura falácia. Aqui ainda é o purgatório dos pardos.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

O que representa um professor desarmado?

Sobre a truculência contra os professores do Paraná, li a trajetória política do governador Beto Richa. Interessante ver que ele ganhou a eleição para governador ainda no primeiro turno em 2010 e foi reeleito em primeiro turno também. Engenheiro de formação pela PUC, em pouco mais de 20 anos traçou uma trajetória na política desde a prefeitura Londrina (sendo considerado o melhor prefeito do Brasil segundo alguns institutos e o G1), até o governo do Estado.

Agora vem meus questionamentos:
O então governador reeleito pelo PSDB tem qual concepção do papel dos professores no seu estado?
Que exemplo a sua gestão está dando para a educação do país e do mundo?
A polícia cumpre qual papel quando espanca professores?
O que o partido PSDB acha de uma postura de violência física e violação dos direitos humanos como essa?
Lamentei profundamente o ocorrido e hoje entendo o fato das licenciaturas não serem mais carreiras almejadas por tantos brasileiros e brasileiras.


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