sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Uma aula sobre o conhecimento


O conhecimento: uma introdução
O conhecimento como característica da humanidade
·         As várias espécies animais apresentam padrões de comportamento que ordenam sua vida comunitária a partir da herança genética ou instintiva de cada espécie.
·         O homem também desenvolveu processos de convivência e estratégias de sobrevivência, apresentando atividades “instintivas” ao mesmo tempo que demonstra habilidades fruto do aprendizado.
·         Nem todo o comportamento humano se desenvolve automaticamente. As crianças dependem dos adultos e da aprendizagem para formar-se enquanto humanos, adquirindo determinados comportamentos.
·         Nos demais animais, as características genéticas predominam. Nos homens é necessário um longo aprendizado transmitido pelas gerações anteriores para que o mesmo possa sobreviver e criar.
·         A possibilidade de criação de sistemas simbólicos, deu ao homem a supremacia sobre as demais formas vivas.  Através da linguagem, a humanidade dá sentido ao mundo ao seu redor, significando suas experiências e transmitindo suas impressões para a posteridade.
Vamos refletir?
“O Homo sapiens é capaz de comunicar sua experiência vivida através do discurso significativo.”


A transmissão das capacidades e habilidades
·         O homem é a única espécie que pensa, capaz de transformar suas experiências em um discurso válido e transmiti-lo para outros de sua espécie.
·         Imagina ações e reações dentro do campo do simbólico, recriando sentimentos e emoções mesmo quando não estimulado.
·         Sendo o único ser vivo apto à apreender as dimensões temporais, pode fazer projeções para o futuro e avaliar o passado.
·         O homem estabelece uma relação de conhecimento, avaliação, significados e domínio sobre  o mundo que o cerca.
·         A relação estabelecida com a natureza e a consequente transformação  do mundo natural chamamos de cultura.
·         A sociabilidade gerou-se a partir das relações com o meio e das representações construídas que provocando modos próprios de vida.
Para pensar juntos:
“Uma vez que cada cultura tem suas próprias raízes, seus próprios significados e características, todas elas são qualitativamente comparáveis. Enquanto culturas, todas são igualmente simbólicas, fruto da capacidade criadora do homem e adaptadas a uma vida comum em determinado espaço e tempo nesse contínuo recriar, compartilhar e transmitir a experiência vivida e aprendida.”
As culturas como processo
·         O conhecimento surgiu da capacidade humana de pensar o mundo e de atribuir significado à realidade.
·         Desde a pré-história que o homem supera os obstáculos naturais de forma criativa, modificando o meio e buscando explicações sobre si e a natureza que o cerca.
·         O desenvolvimento da capacidade simbólica e da linguagem diferenciou os primeiros grupos humanos que, procuraram estabelecer interpretações em torno dos fatos que os envolviam, originando novos conhecimentos.
·         Cada novo desafio posto criava-se a possibilidade de uma nova resposta, dando origem ao trabalho, ao ritual e a tradição.
·         As culturas humanas deram respostas diferentes aos desafios impostos pelo meio ambiente, o que foi determinado pela dinâmica cultural comum a cada grupo.
A ciência como ramo do conhecimento
·         Egito antigo: conhecimentos de geometria elaborados a partir do controle das águas do rio Nilo. Aplicação deste conhecimento na construção das pirâmides e templos. Saberes ligados à crença na vida após a morte e retorno do Ka.
·         Grécia antiga: o saber como um fim em si próprio, associado à vida prática ou  à solução de problemas metafísicos. Surgimento da filosofia e da ciência. Os gregos abandonaram as explicações míticas  e a crença na interferência de forças sobrenaturais na vida humana para uma compreensão centrada na razão, o que propiciou o chamado milagre grego.
·         A partir da reflexão filosófica, o aparecimento de vários saberes ou disciplinas: geometria, aritmética, astronomia, medicina.
·         O uso da razão para alcançar a verdade e o desprezo ao mito e às forças sobrenaturais.
·         Sistematização e estudo do objeto a partir de uma perspectiva racionalista.
·         Desenvolvimento do conhecimento enquanto atividade abstrata, desligada de aplicabilidade e de uma finalidade religiosa.
·         Surgimento do conceito de ética.
·         O homem grego era dotado da intenção pura e simples de pensar e agir sobre o meio.
·         O pensamento filosófico envolvia uma sistematização de todos os outros campos dos saberes, possibilitando ao homem uma nova forma de explicar o mundo e sua relação com o mesmo.
O conhecimento e os primeiros filósofos
·         Indagações principais dos filósofos pré-socráticos:
·         Por que as coisas existem?
·         O que é o mundo?
·         Qual a origem da natureza e quais as causas de sua transformação?
·         O que é o Ser?
·         Preocupação dos primeiros filósofos com a origem e a ordem do mundo: kosmos.
·         Vamos refletir sobre estas questões?
A preocupação com o conhecimento
·         Heráclito de Éfeso: considerava a natureza como um fluxo perpétuo.
“Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque as águas nunca são as mesmas e nós nunca somos os mesmos”. p. 110.
·         Diferença entre o conhecimento obtido pelos nossos sentidos e aquele alcançado pelo nosso pensamento.
·         Parmênides de Eléia: afirmava que pensar é dizer o que um ser é em sua identidade profunda e permanente. Pensar e sentir são diferentes.
“(...) percebemos mudanças impensáveis e devemos pensar identidades imutáveis”. p. 111.
·         Demócrito de Abdera: a realidade é constituída por átomos, que sendo diferentes em suas formas, combinam-se produzindo a variedade de seres.
Sócrates e os sofistas
·         Sofistas: “(...) não podemos conhecer o Ser, mas só podemos ter opiniões subjetivas sobre a realidade”.
·         Para os sofistas, a linguagem é o instrumento principal para o homem relacionar-se com a realidade e com os outros homens. A linguagem é mais importante do que a percepção e o pensamento.
·         Sócrates afirmava que a verdade pode ser conhecida, mas primeiro devemos nos afastar das ilusões dos sentidos e das palavras ou das opiniões e alcançar a verdade pelo pensamento.
Platão
·         Introdução na filosofia da ideia que existem várias maneiras de conhecer ou graus de conhecimento ( com ausência do verdadeiro ou do falso).
·         Segundo Platão o conhecimento tem 4 graus: crença, opinião,raciocínio e intuição intelectual.
·         O mito da caverna.
·         Separação radical entre o conhecimento sensível (crença e opinião) e o conhecimento intelectual (raciocínio e intuição intelectual). Apenas este último alcança o Ser e a verdade. O conhecimento sensível alcança as aparências das coisas.
Aristóteles
·         Distingue sete formas de conhecimento, que vão de um grau menor a um grau maior de verdade: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição.
·         O conhecimento é formado a partir das informações coletadas nos diferentes graus. Defende uma continuidade entre o conhecimento sensível e o intelectual.
·         O conhecimento da intuição intelectual nos dá acesso ao conhecimento pleno da realidade.
Princípios gerais
·         As fontes e formas do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição intelectual.
·         Distinção entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual.
·         Papel da linguagem no conhecimento.
·         Diferença entre opinião e saber.
·         Diferença entre aparência e essência.
·         Definição dos princípios do pensamento verdadeiro: identidade, não-contradição, terceiro excluído.
·         Da forma: do conhecimento verdadeiro: ideias, conceitos e juízos.
·          Dos procedimentos para alcançar o conhecimento verdadeiro: indução, dedução, intuição.

Vamos refletir?
“Para os gregos, a realidade é a Natureza e dela fazem parte os humanos e as instituições humanas. Por sua participação na Natureza, os humanos podem conhecê-la, pois são feitos dos mesmos elementos que ela e participam da mesma inteligência que a habita e dirige.” p. 113
Os filósofos medievais: fé e saber
·         O problema do conhecimento foi considerado anterior à ontologia e pré-condição para a Filosofia e as ciências.
·         Idade Média: o cristianismo rompeu com a ideia grega de participação direta e harmoniosa entre o nosso intelecto e a verdade, nosso ser e o mundo.
·         Os filósofos cristãos fizeram a distinção entre: fé e razão, verdades reveladas e verdades racionais, matéria e espírito, corpo e alma. Considerou o erro e a ilusão como partes da natureza humana.
·         “Os primeiros filósofos cristãos e os medievais afirmaram que podemos conhecer a verdade, desde que a razão não contradiga a fé e se submeta a ela no tocante às verdades últimas e principais.”p. 114
Os filósofos modernos
·         Separação entre fé e razão: destinadas a conhecimentos diferentes e sem qualquer relação entre si.
·         Explicar como a alma-consciência, embora diferente dos corpos, pode conhecê-los. Este conhecimento é possível porque a alma os representa através das ideias.
·         Explicar como a razão e o pensamento podem tornar-se mais fortes que a vontade e controlá-la para que evite o erro.
·         A filosofia moderna começa pelo exame da capacidade humana de conhecer, pelo entendimento ou sujeito do conhecimento.
A razão a serviço do indivíduo e da humanidade
·         A razão esteve a serviço do homem e da sociedade desde a sociedade clássica grega até o Império romano.
·         Na Idade Média a razão passou a ser considerada um instrumento auxiliar da fé, sendo alguns filósofos clássicos tomados como referência para a cristandade, principalmente Platão e Aristóteles.
·         Neste período, a fé religiosa passou a condicionar a sociedade, impondo valores e exigindo comportamentos específicos.
·         O saber estava restrito às ordens religiosas.
·         No Renascimento, ocorreu o fenômeno do humanismo, que trouxe o homem para o centro das preocupações e produções artísticas e científicas.
·         A partir do século XVII, a ciência teve um novo impulso, determinando grandes avanços em torno do conhecimento das leis naturais e para a criação de um método.
Bibliografia
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995.
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2006. 415p.

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